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SETOR ELÉTRICO

O Paraná deixa o vento passar

Pioneiro no Sul do país, estado não investe em energia eólica há mais de dez anos – e fica para trás na expansão do setor

“Como o Paraná tem um relevo acidentado, seu potencial eólico é menor que o dos estados do Nordeste e de áreas do Rio Grande do Sul. Mas não é  um potencial desprezível.” Marília Bugalho Pioli, coordenadora da área de energia eólica do escritório Becker, Pizzatto & Associados | Antonio Moore/ Gazeta do Povo
“Como o Paraná tem um relevo acidentado, seu potencial eólico é menor que o dos estados do Nordeste e de áreas do Rio Grande do Sul. Mas não é um potencial desprezível.” Marília Bugalho Pioli, coordenadora da área de energia eólica do escritório Becker, Pizzatto & Associados (Foto: Antonio Moore/ Gazeta do Povo)
Veja quais são os estados protagonistas da expansão eólica |

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Veja quais são os estados protagonistas da expansão eólica

Resultado de uma parceria entre a Companhia Paranaense de Energia (Copel) e a fabricante de turbinas Wobben Windpower, o parque eólico de Palmas (Sudoeste do estado) foi o primeiro a entrar em operação no Sul do país, em 1999. O planalto onde ele está instalado, na divisa com Santa Cata­rina, é uma das áreas mais propícias à geração desse tipo de energia: além de ser varrida por ventos de boa velocidade, é de fácil acesso por rodovias e fica próxima de linhas de transmissão.

No entanto, é Santa Catarina quem mais aproveita o potencial dos ventos da região. Enquanto a central de Palmas continua limitada aos seus cinco "cata-ventos" de 25 metros de altura, com tímida potência de 2,5 megawatts (MW), vários parques privados estão surgindo a poucos quilômetros dali, às margens da mesma BR-280, mas do lado catarinense da divisa. Vinte e três "aerogeradores" (como são conhecidas as turbinas que transformam vento em energia), que somam 13,8 MW, já funcionam nos dois parques Água Doce (SC). E outras seis centrais, com 86 torres e potência total de 129 MW, estão sendo construídas no município, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Quan­do todos ficarem prontos, os mesmos ventos que hoje geram energia para abastecer até 7 mil pessoas do lado paranaense vão garantir, no estado vizinho, eletricidade para quase 400 mil pessoas nos momentos de plena operação.

Esse contraste é exemplo de como o Paraná está ficando para trás na "revolução dos ventos" que o país atravessa. Antes consideradas inviáveis, as usinas eólicas mais novas já negociam energia a preços competitivos, e sua rápida expansão atrai ao país fabricantes de pás, torres e aerogeradores.

Protagonistas

A Região Nordeste, que concentra três quartos da capacidade instalada desse tipo de energia no país, também é a que atrai a maioria dos novos parques. Em paralelo, boa parte da indústria brasileira de equipamentos para geração eólica se estabeleceu na região, em especial nos complexos industriais e portuários de Pecém (CE) e Suape (PE), onde ergueram fábricas em­­pre­­sas como a argentina Impsa, a es­­­­­pan­­­­hola Gestamp e as alemãs Wob­­­­­ben Windpower e Fuhrlän­der.

Além da geografia favorável, a proximidade de fornecedores é um estímulo natural à construção de novas centrais no Nordeste. Mas isso nunca impediu investimentos no Sul do país. Tanto que, quando estiverem funcionando todos os parques já autorizados ou em cons­­trução no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, os dois estados ocuparão o quarto e o quinto lugar no ranking nacional de geração eólica, à frente de estados como Paraíba, Sergipe e Pernambuco.

Potencial inexplorado

"Como o Paraná tem um relevo acidentado, seu potencial eólico é menor que o dos estados do Nordeste, e de áreas dos pampas ou do litoral do Rio Grande do Sul. É até covardia comparar. Mas nosso potencial não é desprezível", diz a advogada Marília Bugalho Pioli, coordenadora da área de energia eólica do escritório curitibano Becker, Pizzatto & Associados – que tem entre seus clientes três fabricantes de equipamentos e os donos de sete parques eólicos.

Marília lembra que, segundo o Atlas do Potencial Eólico do Paraná, se o estado aproveitasse tudo o que os ventos lhe oferecem, poderia instalar 3.375 MW em parques eólicos. Resultado de um amplo estudo realizado pela consultoria curitibana Camargo Schubert com a Copel e o Instituto de Tecnologia para o Desenvolvi­­mento (Lactec), o Atlas aponta sete regiões propícias à instalação de aerogeradores, das quais cinco têm fácil acesso e ficam próximas de linhas de transmissão.

Uma das explicações para a passividade do estado é que, durante todo o governo Roberto Requião, o Paraná foi um terreno assumidamente hostil a investidores privados do setor elétrico, ao mesmo tempo em que a estatal Copel não colocava a exploração da energia eólica entre suas prioridades. Só agora isso parece mudar (leia mais nesta página).

Em um setor sensível a estímulos tributários e outras benesses, abundantes no Nordeste, o descaso governamental fez a diferença por aqui. Outro aspecto que pode ter influência, segundo Marília, é um certo comodismo por parte dos investidores. "Em um primeiro momento, todo mundo corre atrás do filé, que está no Nordeste. Lá há muitas áreas disponíveis, e os estados brigam por investimentos."

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