Resultado de uma parceria entre a Companhia Paranaense de Energia (Copel) e a fabricante de turbinas Wobben Windpower, o parque eólico de Palmas (Sudoeste do estado) foi o primeiro a entrar em operação no Sul do país, em 1999. O planalto onde ele está instalado, na divisa com Santa Catarina, é uma das áreas mais propícias à geração desse tipo de energia: além de ser varrida por ventos de boa velocidade, é de fácil acesso por rodovias e fica próxima de linhas de transmissão.
No entanto, é Santa Catarina quem mais aproveita o potencial dos ventos da região. Enquanto a central de Palmas continua limitada aos seus cinco "cata-ventos" de 25 metros de altura, com tímida potência de 2,5 megawatts (MW), vários parques privados estão surgindo a poucos quilômetros dali, às margens da mesma BR-280, mas do lado catarinense da divisa. Vinte e três "aerogeradores" (como são conhecidas as turbinas que transformam vento em energia), que somam 13,8 MW, já funcionam nos dois parques Água Doce (SC). E outras seis centrais, com 86 torres e potência total de 129 MW, estão sendo construídas no município, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Quando todos ficarem prontos, os mesmos ventos que hoje geram energia para abastecer até 7 mil pessoas do lado paranaense vão garantir, no estado vizinho, eletricidade para quase 400 mil pessoas nos momentos de plena operação.
Esse contraste é exemplo de como o Paraná está ficando para trás na "revolução dos ventos" que o país atravessa. Antes consideradas inviáveis, as usinas eólicas mais novas já negociam energia a preços competitivos, e sua rápida expansão atrai ao país fabricantes de pás, torres e aerogeradores.
Protagonistas
A Região Nordeste, que concentra três quartos da capacidade instalada desse tipo de energia no país, também é a que atrai a maioria dos novos parques. Em paralelo, boa parte da indústria brasileira de equipamentos para geração eólica se estabeleceu na região, em especial nos complexos industriais e portuários de Pecém (CE) e Suape (PE), onde ergueram fábricas empresas como a argentina Impsa, a espanhola Gestamp e as alemãs Wobben Windpower e Fuhrländer.
Além da geografia favorável, a proximidade de fornecedores é um estímulo natural à construção de novas centrais no Nordeste. Mas isso nunca impediu investimentos no Sul do país. Tanto que, quando estiverem funcionando todos os parques já autorizados ou em construção no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, os dois estados ocuparão o quarto e o quinto lugar no ranking nacional de geração eólica, à frente de estados como Paraíba, Sergipe e Pernambuco.
Potencial inexplorado
"Como o Paraná tem um relevo acidentado, seu potencial eólico é menor que o dos estados do Nordeste, e de áreas dos pampas ou do litoral do Rio Grande do Sul. É até covardia comparar. Mas nosso potencial não é desprezível", diz a advogada Marília Bugalho Pioli, coordenadora da área de energia eólica do escritório curitibano Becker, Pizzatto & Associados que tem entre seus clientes três fabricantes de equipamentos e os donos de sete parques eólicos.
Marília lembra que, segundo o Atlas do Potencial Eólico do Paraná, se o estado aproveitasse tudo o que os ventos lhe oferecem, poderia instalar 3.375 MW em parques eólicos. Resultado de um amplo estudo realizado pela consultoria curitibana Camargo Schubert com a Copel e o Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec), o Atlas aponta sete regiões propícias à instalação de aerogeradores, das quais cinco têm fácil acesso e ficam próximas de linhas de transmissão.
Uma das explicações para a passividade do estado é que, durante todo o governo Roberto Requião, o Paraná foi um terreno assumidamente hostil a investidores privados do setor elétrico, ao mesmo tempo em que a estatal Copel não colocava a exploração da energia eólica entre suas prioridades. Só agora isso parece mudar (leia mais nesta página).
Em um setor sensível a estímulos tributários e outras benesses, abundantes no Nordeste, o descaso governamental fez a diferença por aqui. Outro aspecto que pode ter influência, segundo Marília, é um certo comodismo por parte dos investidores. "Em um primeiro momento, todo mundo corre atrás do filé, que está no Nordeste. Lá há muitas áreas disponíveis, e os estados brigam por investimentos."




