• Carregando...

Os chineses estão determinados em formar a maior economia do mundo. E conseguirão isso dentro de 20 ou 25 anos, dependendo de quem faz a projeção. Para chegar lá, o país mais populoso do mundo consumirá matérias-primas como nenhuma outra nação – hoje, ele é o maior mercado para aço, cobre e alumínio, por exemplo – e demandará enormes quantidades de alimentos para uma população de 1,3 bilhão de pessoas. Ao mesmo tempo, o país terá de fazer uma transição no seu modelo de desenvolvimento, que deverá dedicar um peso maior para o consumo interno.

O movimento de ascensão da China teve início ainda na década de 70, quando começaram as primeiras reformas do sistema econômico. Aos poucos o país investiu em manufaturas, abertas em zonas econômicas especiais, que faziam produtos simples e com preço imbatível devido à mão de obra abundante e barata. A partir de 2001, com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), o ritmo da abertura econômica ficou ainda mais forte, com muito investimento estrangeiro, aplicação de recursos em inovação e gigantescas obras de infraestrutura para sustentar o desenvolvimento.

Esta última "perna" do salto econômico chinês esteve ligada ao forte consumo no mundo rico. Os baratíssimos produtos "Made in China" ajudaram inclusive a segurar a inflação nos mercados desenvolvidos. No processo, o país acumulou US$ 2 trilhões em reservas, usadas para comprar títulos do governo americano, o que manteve baixos os juros da maior economia do planeta. Foi um fator que contribuiu para a formação da bolha imobiliária que está na origem da crise atual.

"Por essa ligação com os Estados Unidos, se esperava um impacto maior da crise na China. Mas seu governo lançou um pacote de estímulos de mais de 10% do PIB que sustentou o crescimento", diz o especialista em economia asiática André Moreira Cunha, professor da UFRGS. "Essa era uma questão essencial para o governo chinês manter a estabilidade do país, que tem milhões de pessoas entrando no mercado de trabalho a cada ano", completa.

O pacote de estímulo deve garantir que em 2010 a China continue como a locomotiva do crescimento global, mas há diversas questões que precisam ser corrigidas no médio prazo. Uma delas é a criação de uma rede de assistência social nos moldes ocidentais para dar um empurrãozinho no consumo. Hoje, os chineses economizam muito porque pagam por serviços de saúde e não têm uma cobertura previdenciária universal, como no Brasil. Outra prioridade é aprimorar o sistema financeiro, atualmente concentrado em bancos estatais ávidos por financiar a infraestrutura, mas ainda distantes da maioria dos chineses.

O projeto de desenvolvimento do país terá de fechar um abismo que está se abrindo entre o campo e as cidades, especialmente aquelas concentradas na costa. "O governo chinês está promovendo uma marcha a Oeste para reduzir as desigualdades regionais", destaca Cunha. O crescimento também terá de ficar mais verde – o impacto dos imensos projetos tocados pelo governo desloca pessoas, reduz a disponibilidade de água potável e de terras agricultáveis.

A agenda de reformas é grande, mas pode ser aliada ao crescimento promissor. O país tem já uma classe média com 200 milhões de pessoas – pouco mais do que a população brasileira. Elas estão ávidas para comer melhor, renovar o guarda-roupa, comprar carros e uma casa. Não por acaso a China se tornou neste ano o maior importador de produtos do Brasil. Foram US$ 17 bilhões até outubro, ou 14% de tudo que foi embarcado em nossos portos. A pauta está ainda concentrada em soja e minérios, e caberá às empresas brasileiras achar oportunidades para aumentar o valor do que será vendido no que será o maior mercado do mundo – se tudo der certo, claro.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]