• Carregando...

Devastação - Paraná mantém intactos 3% da cobertura original

O Brasil acabou com quase toda sua mata atlântica. Estimativas dão conta de que restam apenas 7% dessa cobertura vegetal no país. No Paraná, o cenário é ainda pior: há cerca de 3% de áreas naturais conservadas, incluindo campos e banhados. Elas se resumem basicamente ao Parque Nacional do Iguaçu (no Oeste do Estado), à Serra do Mar, à região de Guaraqueçaba e do Parque Nacional do Superagüi e a matas isoladas, principalmente cobertas com araucária. O estado teve 40% de seus 200 mil quilômetros quadrados cobertos por sua árvore-símbolo. Hoje, de acordo com a SPVS, resta menos de 1% de remanescente bem conservado.

A recente comoção da sociedade com as mudanças climáticas, embalada pela multiplicação de dados e imagens de degelo e tempestades tropicais cada vez mais poderosas, é a aposta da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS) para ampliar o alcance de seu programa de "adoção" de matas nativas. Por meio dele, a ONG ambiental busca empresas e entidades que aceitem remunerar um proprietário de área de grande biodiversidade bem preservada no Paraná. Por enquanto, aderiram HSBC Seguros, Posigraf e a gestora de resíduos Kapersul.

Desde 2003, quando a SPVS lançou a campanha de adoção de áreas, apenas o grupo educacional Positivo, a Rigesa Papel e Celulose, a Sun Chemical e o deputado federal Marcelo Almeida (PMDB-PR) embarcaram no projeto – resultado modesto e insuficiente para a proposta da ONG. "Queremos dar mais escala ao programa e a hora é essa. As pessoas estão sensibilizadas com o tema e, por isso, fazemos questão de relacionar conservação com combate ao aquecimento global", explica o diretor da SPVS, Clóvis Borges.

Os dois temas são interligados porque as árvores em crescimento "seqüestram" carbono do ar, e depois de maduras o mantêm "aprisionado" – florestas com araucária em bom estado de conservação podem estocar 120 toneladas de carbono em um único hectare. Com queimadas e desmatamento, o carbono é liberado na atmosfera, intensificando o aquecimento do planeta. O Brasil ocupa o 4.º lugar na lista de países que mais emitem gás carbônico – 75% dele liberado pela destruição de áreas naturais. "Infelizmente, não é suficiente proibir o corte apenas com leis, fiscalização e educação de comunidades", explica Borges.

O diretor-executivo da HSBC Seguros, Marcelo Teixeira, concorda que o momento é ideal para falar do aquecimento global. O banco inglês, que tem sede nacional em Curitiba, foi uma das primeiras empresas a aderir ao programa da SPVS. Até outubro de 2008, a instituição investirá R$ 3,5 milhões para preservar 16 milhões de metros quadrados de Mata Atlântica nativa no Paraná. A área preservada compensa as emissões médias de gás carbônico provenientes dos veículos e residências segurados pela HSBC Seguros (no equivalente a 6 toneladas de CO2). Para compensar toda essa emissão, cada cliente irá preservar uma área nativa de 88 metros quadrados (veículos) e 44 metros quadrados (casas). A carteira de clientes soma 120 mil veículos e 130 mil residências. Em outubro, esse passa a ser um "presente" da seguradora aos novos clientes e àqueles que recontratarem seguros. Após um ano, a ação passa a custar alguns reais a mais nas apólices.

"Pretendemos testar a idéia no Brasil para depois levá-la para México e Malásia, e, quem sabe, para todos os 83 países onde atuamos", diz Teixeira. Ele estima que 80% dos clientes optem por manter a ação ambiental quando ela passar a ser cobrada. Os clientes poderão consultar em um site a dimensão de mata que estão preservando.

Cadastro

A SPVS cadastrou 60 áreas que devem integrar o programa e busca outras – que devem ser nativas e muito bem conservadas, algo que quase não existe mais. De acordo com a ONG, o Paraná tem cerca de 700 propriedades nessas condições, que somam 60 mil hectares. No fim de outubro, os proprietários das terras começarão a receber a verba referente à preservação. "O recurso será usado para que a área seja protegida e preservada, com a construção de cercas, contratação de funcionários, elaboração de planejamentos e mapeamento", exemplifica Borges.

Assim como o HSBC, o grupo Positivo já era parceiro da SPVS quando aderiu ao programa. Mas como o objetivo é envolver novas empresas, a gráfica da holding, a Posigraf, está fomentando a participação de empresas parceiras. A Kapersul, por exemplo, que trabalha com reciclagem, usando resíduos que saem das rotativas da Posigraf, resolveu aderir ao projeto. Parte da verba gerada com a venda de material reciclado a partir dessas sobras será doada à SPVS para a preservação de áreas.

"Existem projetos muito bem feitos que só precisam de verba para sair do papel", diz Francisco Rego, diretor-comercial da Kapersul. Ele também se tornou divulgador do programa. Três indústrias com quem faz negócios podem aderir. "O objetivo é filiar outras dez empresas, com média de 1.500 alqueires preservados."

A área escolhida para preservação pela Posigraf é de araucária, e fica próxima à região que o grupo Positivo adotou em 2003, na Lapa, para ser utilizada em atividades escolares ambientais.

"Acredito que a conscientização do empresariado a respeito do aquecimento global irá ampliar a adesão ao programa", diz o diretor geral da gráfica, Giem Guimarães. "Até porque o consumidor repara cada vez mais na responsabilidade ambiental das empresas."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]