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Ortigueira espera transformação com chegada da Klabin | Marco Favero/Gazeta do Povo
Ortigueira espera transformação com chegada da Klabin| Foto: Marco Favero/Gazeta do Povo

Impacto

Fábrica vai produzir 1,5 milhão de toneladas de celulose por ano

O complexo industrial da Klabin, que poderá ser instalado na zona rural de Ortigueira, terá capacidade de produção de 1,5 milhão de toneladas de celulose por ano. A fábrica vai gerar 360 megawatts de energia através da biomassa, e utilizará 17 quilômetros de ramal ferroviário e a rodovia BR-376 para escoar a produção e receber a matéria-prima.

A empresa não revela detalhes do investimento enquanto o empreendimento não é oficializado, mas o setor de papel e celulose já prevê impactos. O diretor da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e do Sindicato das Indústrias de Papel e Celulose do Paraná (Sinpacel), Samuel Leiner, diz que hoje o Brasil ainda importa fibra longa (mais resistente) do Chile e que a produção da unidade fabril é importante para abastecer o mercado interno. Ele tem uma indústria fornecedora de embalagens e aposta que se a fábrica produzir celulose branqueada o seu negócio será beneficiado com a oferta do produto.

Conforme o projeto apresentado à prefeitura, a fábrica vai fomentar um fluxo diário de mil caminhões de madeira em Ortigueira. Para Leiner, esse movimento também vai incentivar a oferta de empreiteiras de caminhões e de prestadores de serviços na região.

Exemplo na vizinhança

O reflexo econômico previsto em Ortigueira foi experimentado pela vizinha Telêmaco Borba, município criado um ano depois da instalação da unidade da Kabin, há 48 anos. "Somos um concentrado urbano, com 99% da população vivendo na cidade. O nosso ritmo é diferente do dos municípios que fazem fronteira conosco porque temos um vai e vem constante com uma atividade diurna e noturna, em ritmo industrial. Seria muito diferente a nossa história se não houvesse a Klabin", comenta o prefeito Eros Danilo Araújo (PMDB).

Quem passeia pelo centro de Ortigueira, nos Campos Gerais, tem a sensação de estar em um bairro de uma grande cidade. O município de 60 anos e 23,3 mil habitantes ainda é economicamente baseado na agricultura. O centro é formado pela igreja matriz e o comércio. O cenário pode ser alterado nos próximos anos como reflexo da instalação da Klabin. A empresa vai investir R$ 6,8 bilhões em uma fábrica de celulose no município – valor que equivale a 170 vezes o orçamento mu­­nicipal, que é de R$ 40 milhões anuais. É o segundo maior investimento privado na história do Paraná depois da ampliação de R$ 10 bilhões da refinaria Getúlio Vargas, em Araucária.

A instalação da Klabin em Ortigueira ainda não é oficial. O empreendimento depende da autorização do governo estadual através do Instituto Ambiental do Paraná (IAP). No último dia 24, a Klabin formalizou o pedido de instalação na prefeitura e, três dias depois, no governo estadual ao protocolar o estudo de impactos ambientais. O IAP vai formar, nos próximos dias, um grupo de estudo para analisar os impactos e informar ao conselho administrativo da empresa se o licenciamento ambiental será concedido.

Mas quem é do município já comemora. O prefeito Geraldo Magela do Nascimento (PSDB) diz sem medo de errar que Ortigueira será o novo "eldorado" do Paraná. "Eu acho que a mudança será sentida dentro de dez anos, mas é possível que isso ocorra ainda antes", afirma. A Klabin pretende iniciar as obras em outubro deste ano e entrar em operação em dezembro de 2015.

A planta ficará na área de 17,3 mil hectares da empresa na localidade de Campina do Pupo, a 15 quilômetros do centro de Ortigueira. Perto de sete mil homens serão empregados no canteiro de obras – o equivalente a 29% da população do município. A indústria vai gerar 1,6 mil empregos diretos e pelo menos seis mil indiretos com as empresas-satélite.

Com tanta gente, a fábrica vai trazer mudanças nos serviços públicos. Magela diz que, pensando nisso, a prefeitura doou terrenos para o Instituto Federal do Paraná, para a oferta de cursos técnicos, para a Secretaria Estadual de Educação, para o reforço da educação básica, e para o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para a construção do fórum eleitoral. A prefeitura ainda negocia a construção de uma agência do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e de uma nova delegacia da Polícia Civil. Por enquanto, nenhuma obra foi iniciada.

Arrecadação

Ortigueira bateu Tibagi, Telêmaco Borba, Imbaú e Reserva na escolha da sede da fábrica de celulose. O interesse dos prefeitos era, principalmente, a arrecadação tributária alavancada pelo investimento. Pelo projeto costurado com o governo estadual, o município-sede fica com 50% dos recursos destinados ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e os outros 11 municípios do entorno que fornecem matéria-prima repartem a outra metade.

Como a previsão é de que a fábrica recolha R$ 60 milhões de ICMS por ano, Ortigueira deve ficar com pelo menos R$ 30 milhões. Outro ponto positivo é a provável elevação no número de habitantes, o que vai incidir no coeficiente do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), elevando o repasse do governo federal. Se o número superar 25 mil habitantes, o coeficiente do FPM passa de 1.2 para 1.4. "Isso pode representar R$ 500 mil por mês a mais", aposta Magela.

Município perdeu população e tem o menor IDH do estado Ortigueira perdeu 45% de sua população na década de 1980. O censo de 1991 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicava 27.504 habitantes contra 50.113 contados em 1980. De 2000 para 2010, a queda se manteve e chegou a 1.836 habitantes a menos no município. O município também amarga o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Paraná: 0,620 numa escala de zero a dez.

A concentração da população no campo pode explicar o êxodo. "Temos 59% de nossa população no meio rural e então quando essas pessoas vêm para a cidade trabalham no comércio e não encontram chances, acabam indo embora", afirma o prefeito Geraldo Magela Nascimento (PSDB). Atualmente, parte das 12,1 mil pessoas economicamente ativas do município (Censo 2010) estão na agricultura, no comércio e nas olarias da região.

O ortigueirense Daniel Alves de Lima, 26 anos, trabalha numa olaria e ganha menos de R$ 800 mensais. Ele diz que a oferta de empregos é baixa na cidade. "Pode ser que com a Klabin a situação melhore", diz. O frentista Irailson Alves, 19 anos, lembra que o empreendimento deve vir acompanhado de melhorias para o município. "Hoje a saúde e a educação estão indo bem, mas precisa melhorar depois da fábrica porque a cidade vai dobrar de tamanho", acredita. O lavrador José Mateus Martins, 43 anos, tem um lote em um dos cinco assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) no município. Para ele, a instalação da Klabin pode trazer benefícios para Ortigueira desde que haja empregos para os moradores da cidade. "Se vier a fábrica e chamarem só gente de fora não adianta", opina.

A gerente da Agência do Trabalhador de Ortigueira, Daiane Costa de Lima, diz que a "importação" de trabalhadores será inevitável. "Estamos fazendo muitos cursos de qualificação, mas com certeza vai vir gente de fora. Também temos muitos moradores da cidade que estão trabalhando fora e eles devem voltar para a cidade com a vinda da fábrica", considera. A Agência recebe em torno de 40 a 50 pessoas por dia em busca de uma vaga no mercado de trabalho. "A Klabin já abriu uma vaga para vigia por enquanto. Mas já estamos separando os currículos de pessoas que irão para a obra. Quando eles precisarem, estaremos preparados."

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