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Saguão da Bolsa de Nova York: avanço dos EUA afeta economia brasileira de diferentes maneiras | Brendan McDermid/Reuters
Saguão da Bolsa de Nova York: avanço dos EUA afeta economia brasileira de diferentes maneiras| Foto: Brendan McDermid/Reuters

Preferências

Brasil pode perder US$ 2,3 bi em exportações

Os exportadores brasileiros devem ter um complicador na hora de vender para os EUA. No início do mês, o Congresso americano entrou em férias sem deliberar sobre a renovação do Sistema Geral de Preferências (SGP), que permite a países de renda baixa e média, como o Brasil, exportar uma série de produtos sem pagar tarifas.

Em 2012, o Brasil exportou US$ 2,3 bilhões via SGP, o equivalente a 9% das vendas para os EUA. Agora, cerca de 3,5 mil itens, usados como insumos industriais, terão de pagar imposto de importação. O governo brasileiro espera que o Congresso retome a discussão na volta do recesso, em setembro, mas não há garantia.

Outra pedra no sapato promete ser o estímulo à produção industrial americana. O governo de Barack Obama busca, desde 2011, uma agenda para reavivar a indústria manufatureira americana. Essa orientação pode, na avaliação de João Basílio Pereima Neto, da UFPR, complicar a entrada de produtos brasileiros.

Consumo

Quem apostou no EUA deve se beneficiar

Além de empresas que exportam para os EUA, as companhias que investiram em operações no país nos últimos anos devem se beneficiar diretamente da recuperação da atividade econômica.

A Bematech, fabricante de produtos de automação comercial, criou uma unidade na região de Nova York em 2008. A Companhia Providência, fabricante de não tecidos, inaugurou neste ano uma segunda linha de produção na fábrica que mantém em Statesville, na Carolina do Norte. O Boticário, por sua vez, tem uma loja em Newark, em Nova Jersey, desde meados dos anos 2000.

Segundo o economista Lucas Dezordi, da Universidade Positivo, empresas voltadas para o consumo – responsável por dois terços do PIB americano – devem sentir a recuperação da economia.

E, ao que tudo indica, o consumo segue ganhando força: as vendas do varejo tiveram em julho o quarto mês consecutivo de alta, com variação de 0,2%.

A recuperação da economia americana ganhou fôlego. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu mais forte do que se imaginava entre abril e junho, a taxa de desemprego está em queda e o combalido setor imobiliário, epicentro da crise de 2008, voltou a crescer, com novo ritmo de construção de residências. Os dados são positivos, mas terão impacto ambíguo na economia brasileira. A retomada favorece as exportações, mas também deve fortalecer o dólar, com reflexo o que pode gerar mais inflação e queda no ritmo de investimento estrangeiro por aqui.

"A retomada dos Estados Unidos muda o cenário para o país e não necessariamente terá impacto positivo", acredita João Basilio Pereima Neto, economista da Universidade Federal do Paraná. Segundo ele, o principal efeito da recuperação da atividade norte-americana deve ser o fortalecimento do dólar no mercado brasileiro – com a forte alta de sexta-feira, a moeda chegou a quase R$ 2,40, com alta de 17% desde o início do ano.

A provável alta da taxa de juros no mercado americano também deve voltar a atrair capital para os EUA, que antes vinha sendo absorvido pelos emergentes, como o Brasil. Com a procura maior por ativos em dólar, a moeda americana deve ganhar mais impulso. "Teremos, nos próximos dois anos, impacto no investimento estrangeiro direto, o que não é bom em um cenário de déficit nas transações correntes do país", afirma.

Segundo Lucas Dezordi, chefe do departamento de Economia da Universidade Positivo, a economia americana se recupera de maneira consistente. "Acredito em um crescimento anualizado de 2,5% a 3% para os EUA, o que deve manter o dólar entre R$ 2,30 e R$ 2,40, mais próximo desse último valor. O câmbio tem agora uma nova tendência", diz. Na avaliação dele, a retomada americana vai exigir um esforço maior da economia brasileira, especialmente em aumentar o superávit primário.

Do lado das exportações, porém, a recuperação dos EUA ainda não provocou reação positiva das vendas. De janeiro a julho de 2013, as vendas do Brasil para aquele país recuaram 15%, para US$ 13,7 bilhão, principalmente pela queda das vendas de petróleo. Óleo bruto, aviões, ferro, motores geradores, álcool e café são os principais produtos exportados para esse mercado.

Para o vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Fabio Martins Faria, a projeção é de uma melhora a partir de 2014. Os EUA já foram o principal importador de manufaturados do Brasil, mas a crise americana, o dólar mais baixo e a perda de produtividade da indústria brasileira acabaram por tirar o produto brasileiro do mercado americano.

A queda dos EUA foi acompanhada da ascensão da China, grande compradora das commodities brasileiras. No ano passado, os EUA responderam por 11% das exportações do Brasil, enquanto os chineses compraram 17% do total.

Fed terá novo comando

O presidente americano, Barack Obama, deve anunciar até o fim do mês quem substituirá Ben Bernanke no comando do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, cujas decisões tem o poder de chacoalhar a economia mundial. A troca ocorre em meio à recuperação da economia americana e à expectativa de que o governo comece a retirar os estímulos fiscais concedidos nos últimos anos para livrar a economia da crise.

A disputa, ao que tudo indica, está entre o ex-conselheiro econômico Larry Summers, 58 anos, aparentemente o preferido de Obama, e a atual vice-presidente do FED, Janet Yellen, 66. O escolhido toma posse em 31 de janeiro de 2014.

No cargo desde 2006, Bernanke foi o responsável pela emissão de bilhões de dólares para estimular a economia americana nos últimos anos, e é reconhecido por conduzir os EUA de volta ao rumo de crescimento, com uma política que favoreceu o aumento de produtividade das companhias locais. "Ele foi vital para economia americana nos últimos anos", diz Lucas Dezordi, da Universidade Positivo.

A emissão de moeda – estima-se que o Fed coloque US$ 1 trilhão no mercado por ano – contribuiu para desvalorizar o dólar e estimular a competitividade da economia americana e gerou valorização de diversas moedas, como o real.

Ao sinalizar que deve suspender o estímulo monetário (o que tende a elevar a taxa de juros americana), Bernanke levou diversos investidores a retornar aos EUA. Os economistas do Fed dizem que vão manter a atual política monetária até que determinados critérios sejam alcançados, entre eles a queda da taxa de desemprego para 6,5% e inflação anual de 2%.

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