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Quanto mais se combate a pirataria, pior ela fica. Essa é a sensação que se tem, mesmo após operações como a deflagrada pela Polícia Federal na semana passada em 14 estados brasileiros, que resultou na prisão de 17 pessoas e no indiciamento de outras 57 por falsificação eletrônica. A impressão de problema sem solução à vista, entretanto, é verdadeira apenas em parte. Ela fica comprovada quando se avalia o montante de produtos piratas apreendidos anualmente e o prejuízo total que eles causam à indústria – tudo em ritmo crescente. Por outro lado, a situação parece menos sombria tomando-se a queda na participação dos piratas no mercado global de informática – no fim da década de 80, nove entre dez produtos de tecnologia eram ilegais no Brasil; essa proporção caiu para 60% há 3 anos.

Um estudo da IDC, consultoria especializada em tecnologia, mostra que a indústria brasileira de software deixou de faturar US$ 766 milhões no ano passado – o dobro da receita anual da Microsoft no Brasil. A cifra impressiona, mas não sensibiliza. "A população tem princípios éticos, mas ainda precisa se conscientizar sobre o tema", frisa André Barcellos, secretário executivo do Conselho Nacional de Combate à Pirataria (CNCP), ligado ao Ministério da Justiça. "Temos estudos que mostram que um pirata acaba com seis empregos formais; a íntima vinculação de cópias ilegais e produtos falsos com o crime organizado já foi comprovada. A venda desses artigos serve de financiamento para crimes pesados", enumera.

Os argumentos ainda caem em ouvidos moucos. Cerca de 80 milhões de brasileiros (ou 60% da população economicamente ativa) compram produtos piratas regularmente. A justificativa, na maioria esmagadora dos casos (93%), está no preço mais baixo. "O que é um absurdo", opina o produtor de audiovisuais Rogério Verderoce Vieira, um dos raros exemplos de consumidor que não se rende à tentação do produto pirata. "Compro produto original por princípio puro e simples. Também sei que fazendo isso acabo financiando o desenvolvimento de um software, de um programa e pagando seus custos da produção."

É esse tipo de pensamento que a Associação Brasileira de Empresas de Software (Abes) quer difundir no país. O presidente da entidade, Jorge Sukarie Neto, é realista ao afirmar que extinguir completamente a pirataria é uma vontade quase utópica. "Os EUA são o país com o menor índice de falsificações no mundo, com 21%", cita.

Para diminuir o índice brasileiro de softwares ilegais (64%), a Abes está trabalhando cada vez mais próxima de órgãos como a PF, a Receita Federal, o Ministério Público e as polícias estaduais. A estratégia é atuar em três frentes: educacional, tributária e repressiva. Emilio Munaro, coordenador do grupo de trabalho antipirataria da Abes, cita o uso do cinto de segurança como exemplo de consciência crítica criada na sociedade: "Há 20 anos, ninguém usava. Com campanhas que incentivavam uma mudança de comportamento, com o barateamento do cinto de três pontos e com as multas, a atitude dos motoristas mudou", diz.

Além das operações policiais e da educação, portanto, é preciso uma mudança econômica, que faça o produto original ficar mais acessível. "As empresas de antivírus, como a Symantec e a McAfee, já oferecem seus programas por meio de assinaturas mensais", explica Sukarie. A Microsoft resolveu facilitar a legalização de cópias piratas de seu sistema operacional há alguns meses, com o Programa de Vantagens do Windows Original. Mas essas iniciativas não bastam. É consenso entre especialistas que o peso dos impostos em produtos tecnológicos é muito alto no Brasil.

Por causa do preço alto, a professora de história Ana Sílvia Paraná Mariano enfrentou um pouco de resistência ao insistir na compra de softwares originais na empresa onde trabalha. Afinal de contas, os programas necessários – uma suíte de aplicativos desenvolvida pela Adobe – não saem por menos de R$ 4 mil. "Mas a diretoria entendeu os benefícios de termos programas originais", conta Ana Sílvia. "Prefiro fazer o negócio certinho, seja no trânsito, seja na compra de CDs, DVDs e softwares."

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