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Uma recessão nos Estados Unidos tem o potencial de tornar mais aguda a desaceleração da economia brasileira porque influencia o resultado das exportações, os investimentos e o câmbio. "O Banco Central vinha aumentando os juros para trazer a inflação para a meta de 4,5% no ano que vem", lembra o economista Francisco Pessoa Faria, da LCA Consultores. "Um crescimento menor já era esperado, mas pode ficar pior."

O primeiro canal de transmissão de uma crise fora do Brasil é por mercados mais voláteis, como a bolsa de valores e o câmbio. Empresas que pensavam em recorrer ao mercado de capitais para financiar projetos, terão de esperar. Além disso, o dólar tem se mantido pressionado, o que vai causar um ajuste no comércio exterior brasileiro.

A importação vai crescer mais lentamente e as exportações têm mais fôlego para voltar a crescer. "O grande problema na balança comercial é que o Brasil exporta muitos produtos básicos, que estão com preços em queda", pondera o economista Reinaldo Gonçalves, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Assim, mesmo que o volume de exportações aumente em setores como o de grãos e minério de ferro, com demanda ainda forte na China, não haveria uma entrada maior de dólares no país. Em áreas mais elaboradas, como a de veículos, os embarques tendem mesmo a diminuir com a restrição de crédito em escala global. Assim, as previsões para o superávit comercial em 2009 já encostam em US$ 10 bilhões, quase US$ 15 bilhões abaixo do que a projeção para este ano.

Além do superávit menor, o Brasil terá de lidar com uma provável seca em investimentos diretos estrangeiros e, em momentos de estresse, a saída de capital de curto prazo. "O déficit externo do Brasil vai se agravar. E isso pode levar a uma crise externa forte que obrigue o Banco Central a intervir mais na economia", afirma o economista José Luís Oreiro, professor da Universidade Nacional de Brasília (UnB). Fenômeno parecido com o que ocorreu entre 2002 e 2003, quando o BC foi obrigado a subir os juros e desacelerar a economia. A diferença é que há mais dólares em caixa, pouco mais de US$ 200 bilhões, para acomodar a pressão sobre o câmbio.

A transmissão da crise externa para o Brasil também tende a reduzir o gosto por risco no mercado financeiro interno. Conseguir financiamentos fica mais difícil quando a percepção é de que as empresas terão mais dificuldade para crescer e pagar as contas. "É natural que os bancos segurem os empréstimos quando a desconfiança aumenta", diz Oreiro. E isso tem impacto tanto nos investimentos para aumentar fábricas quanto na disposição de consumidores gastarem.

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