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O prazer de comer panetones com gotas de chocolate sem culpa no Natal pode estar ameaçado. Um levantamento feito pela Pro Teste - Associação Brasileira de Defesa do Consumidor revelou que as marcas avaliadas tinham calorias a mais e nutrientes de menos. Apenas cinco de 16 marcas estavam dentro de um limite calórico considerado aceitável pela entidade. Além disso, todas as marcas tinham algum tipo de erro nos valores de proteínas e, em 14, a discrepância estava no valor energético informado. A Pro Teste também detectou diferenças entre a imagem de produtos na embalagem e o panetone real.

A análise da Pro Teste considera que o panetone é um alimento indicado para um lanche e, por isso, deveria corresponder a 15% do consumo de 2 mil calorias, que é o nível indicado para consumo diário de um adulto.

Considerando uma avaliação geral, que leva em conta aspectos como os nutrientes do produto, o rótulo e o preço, apenas um dos 16 tipos de panetone com gotas de chocolate não foi considerado aceitável pelos padrões da Pro Teste. Foi o do marca Bom Preço, do grupo Walmart, no qual foi encontrado mofo na unidade pesquisada. Pelo ranking da Pro Teste, o Bauducco é o mais bem posicionado, seguido por Village, Plus Vita, Qualitá (do Grupo Pão de Açúcar) e Triunfo.

- Na avaliação global, as marcas foram consideradas aceitáveis, com exceção da Bom Preço, em que o produto estava mofado. Mas, considerando um consumo diário de 2 mil calorias, os panetones com gotas de chocolate tinham calorias demais e pouco valor nutricional - explicou a nutricionista Manuela Dias, uma das responsáveis pela pesquisa.

- Somente cinco marcas (Casa Suíça, Di Lucca, Laura, Santa Edwiges e Bom Preço) ficaram no limite de 300 calorias indicado para um lanche. O consumo de produtos como esse pode contribuir para a obesidade e doenças ligadas a ela, como diabetes, hipertensão arterial e colesterol.

Veja as imagens das marcas avaliadas

Na avaliação dos rótulos dos produtos, apenas a Bauducco apresentou as informações sem erro, segundo a Pro Teste, mas o tamanho das letras é pequeno demais.

Na consideração sobre o teor de açúcar, algumas marcas chegam a registrar três vezes mais do que o recomendado. No caso das marcas Di Lucca e Santa Edwiges, a avaliação foi de "aceitável", mas foi detectada presença de adoçante - que deve ser evitado por crianças e gestantes - sem que isso fosse informado na embalagem. A Pro Teste questiona ainda a pouca presença de fibras alimentares, quesito no qual nenhuma marca recebeu uma boa nota.

Consumo moderado

A pesquisa incluiu ainda uma avaliação do gosto dos panetones por consumidores. A maioria teve uma classificação boa, liderada pela marca Casa Suíça.

- Apesar do paladar aprovado, observou-se, no entanto, que muitos panetones não correspondem à imagem que aparece na embalagem. No produto real, a quantidade de gotas de chocolate é geralmente muito menor - disse a nutricionista.

Diante do resultado do teste, a Pro Teste recomenda que o consumo seja moderado.

- Não recomendamos o consumo dos panetones com gotas de chocolate. Mas, se a pessoa decidir pelo consumo, deve se restringir a pequenas quantidades, e apenas nesta época do ano - afirmou.

Segundo a Pro Teste, os resultados e a metodologia foram enviados às empresas.

Empresas questionam resultado

Todas as empresas responsáveis pela fabricação e comercialização dos panetones com gotas de chocolate foram procuradas pelo GLOBO. As que responderam foram unânimes em afirmar que desconheciam os métodos ou critérios adotados pela Pro Teste.

A Walmart, responsável pela comercialização da marca Bom Preço - a única considerada não aceitável pela Pro Teste - solicitou nova análise de panetones do mesmo lote, não encontrando quaisquer irregularidades, como a apontada na pesquisa. A empresa contestou as condições e critérios adotados pela Pro Teste nas coletas, no transporte dos produtos e nas análises. Para a Walmart, é preciso saber quais foram as condições de armazenamento e para deslocar os produtos até o local dos testes.

Ao contestarem a metodologia usada pela entidade, as responsáveis pelos panetones testados alegaram estar impossibilitadas de prestar melhores esclarecimentos sobre o assunto.

A Bimbo da Brasil, responsável pelas marcas Plus Vita, Pullman e Laura, diz cumprir a legislação vigente para rotulagem nutricional e ratifica que as informações contidas no rótulo são fiéis aos produtos. Segundo a empresa, todas as informações são apuradas a partir de metodologias aceitas pelos órgãos competentes.

Para o Carrefour, os panetones de marca própria foram desenvolvidos com base em padrões nutricionais viáveis para essa categoria de produto, atendendo à legislação vigente. Além disso, a empresa afirmou estar atenta às oportunidades de melhoria do perfil nutricional da linha. Segundo o Grupo Pão de Açúcar, o Panetone Gotas de Chocolate Qualitá não apresenta qualquer irregularidade. O grupo afirma que os resultados obtidos estão dentro da variação permitida pela legislação, que é de 20% de cada um dos nutrientes da tabela nutricional. O tamanho da letra também atende ao requisito da legislação.

Já a Nestlé, mesmo desconhecendo os métodos aplicados pela Pro Teste, afirmou discordar dos resultados apresentados. Segundo a empresa, os valores declarados em seus rótulos para proteínas, valor energético e carboidratos são calculados com base em análises de laboratório e cumprem estritamente a Resolução da Anvisa RDC (Regulamento Técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados) no 360/2003.

A Pandurata Alimentos, proprietária das marcas Bauducco, Visconti e Tommy, restringiu-se a afirmar que todos os produtos estão em conformidade com as normas estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Disposição para ajustes

A Santa Edwiges e a Panco destoaram das demais nas respostas. Ambas demonstraram disposição para fazer ajustes, caso seja verificado problemas de fato. Além do erro na indicação de valores nutricionais, o panetone com gotas de chocolate da Panco não apresentava as orientações quanto ao modo de conservação em sua embalagem. A Panco informou ter passado o caso para a consultoria interna da empresa, que vai analisar os critérios e resultados da pesquisa do Pro Teste.

A Santa Edwiges, que aparece com um problema de prazo de validade com acesso apenas após a abertura da embalagem, está levantando as informações legais para adotar as medidas necessárias e atender a legislação vigente. Só depois deste levantamento a empresa pretende se posicionar de forma mais específica sobre os testes da Pro Teste.

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