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O Federal Reserve anunciou nesta quarta-feira uma nova e controversa política, comprometendo-se a comprar mais 600 bilhões de dólares em títulos do governo até a metade do próximo ano, numa tentativa de dar fôlego à fraquejante economia dos Estados Unidos.

A decisão tem o objetivo de reduzir ainda mais os custos dos empréstimos para consumidores e empresas, que ainda sofrem com o período posterior à pior recessão desde a Grande Depressão.

No Brasil, o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, avaliou a decisão como preocupante. "São políticas que empobrecem os vizinhos e acabam gerando medidas de retaliação. Aí você tem esse câncer que é o protecionismo, que tem uma metástase muito rápida", disse.

O gerente de câmbio da corretora Souza Barros, Luiz Antônio Abdo, também comentou que a decisão é uma tentativa dos EUA de melhorar a competitividade.

"Acredito que o dólar vai cair aqui também (frente ao real), e isso pode levar o governo a adotar novas medidas para conter a alta da nossa moeda. Mas, como das outras vezes, essas medidas deverão ter efeito de curto prazo", disse. "O Brasil é um país com juro atrativo, e isso vai continuar trazendo dólares para cá."

O Fed também repetiu a promessa de manter a taxa de juros norte-americana excepcionalmente baixa por um período prolongado, e informou que vai comprar cerca de 75 bilhões de dólares por mês em Treasuries de prazo mais longo.

A autoridade monetária afirmou ainda que vai revisar regularmente o ritmo e o tamanho do programa e ajustá-lo conforme a necessidade, dependendo da recuperação do país.

Quase 90 por cento das compras devem se concentrar em Treasuries de vencimento entre dois anos e meio e 10 anos, segundo o Fed de Nova York.

Comunicado

Em seu comunicado após o encontro, o Fed descreveu a economia como "lenta" e disse que os empregadores permanecem relutantes em contratar. O BC dos EUA afirmou ainda que as leituras de inflação estão "um pouco baixas".

"Embora o comitê antecipe um retorno gradual a níveis mais elevados de utilização da capacidade num contexto de estabilidade de preços, o progresso em direção a seus objetivos tem sido lento de uma forma decepcionante", apontou o banco central norte-americano.

O presidente do Fed de Kansas City, Thomas Hoenig, continuou sua série de discordâncias, dizendo que o risco de mais compras de ativos superaria os benefícios.

O Fed de Nova York informou que vai temporariamente afrouxar uma regra que limita a posse de qualquer ativo a 35 por cento. O Fed disse que será permitido que a posse supere esse limite "somente em modestos incrementos".

Incluindo o plano em curso do Fed de reinvestir os recursos de ativos em vencimento, o Fed de Nova York espera conduzir entre 850 bilhões e 900 bilhões de dólares em compras de Treasuries até o final do segundo trimestre de 2011.

Com a economia dos EUA se expandindo a uma taxa anualizada de apenas 2 por cento no terceiro trimestre deste ano e o desemprego insistentemente em torno de 9,6 por cento, o Fed vem sofrido pressões no sentido de fazer mais para estimular a atividade.

O banco central já havia cortado o juro básico para perto de zero em dezembro de 2008 e comprado cerca de 1,7 trilhão de dólares em títulos da dívida do governo norte-americano, bem como papéis atrelados a hipotecas. Tais compras, contudo, ocorreram quando os mercados financeiros foram sacudidos pela crise.

Economistas e autoridades do Fed estão divididos sofre a eficácia do novo programa. Ainda, alguns profissionais temem que o programa de compra de títulos possa provocar mais danos que benefícios ao servir de combustível para a inflação.

Debatendo os riscos

Os mercados já haviam oscilado bastante em antecipação ao anúncio das compras de títulos pelo Fed. As bolsas de valores dos Estados Unidos e os preços dos Treasuries têm tido um rali, enquanto o dólar vem recuando em todo o mundo.

Com a perspectiva de rendimentos ultra baixos por um longo período nos EUA, investidores têm migrado para mercados emergentes, movimento que tem valorizado as moedas dessas economias. As economias emergentes, preocupadas com a perda de competitividade nas exportações, reclamam.

"Todos nós estamos sob ataque da política monetária expansionista dos Estados Unidos", disse o ministro de Finanças da Colômbia, Juan Carlos Echeverry, na terça-feira.

O Banco do Japão, que se reúne na quinta e na sexta-feira, também deve anunciar uma nova rodada de compra de títulos.

O Banco Central Europeu (BCE) e o Banco da Inglaterra também realizam encontros nesta semana, mas não se espera mudança na política monetária deles.

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