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Pelo menos do ponto de vista econômico e comercial, o discurso proferido pela presidente Dilma Rousseff na terça-feira (25), ao abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, não agradou. Foi defensivo e previsível, na opinião de analistas ouvidos pelo jornal O Globo.

A avaliação geral é que Dilma repetiu o que ela e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vêm dizendo em relação ao "tsunami monetário" e aos capitais especulativos. Ao mesmo tempo, usou a ONU para justificar à comunidade internacional as medidas de defesa da indústria brasileira que já colocam o Brasil como um dos países mais protecionistas do mundo.

Para o economista Rodrigo Constantino, fundador do Instituto Millenium, Dilma passou uma mensagem esquizofrênica, ao defender o fim do protecionismo. Afinal, disse, o Brasil é protecionista.

"Essas medidas protecionistas que o governo brasileiro tem adotado são ruins, nefastas até para a própria economia brasileira, em que se privilegia alguns setores. O discurso da presidente mostra um descompasso com a realidade", criticou.

Para Virgilio Arraes, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, a presidente da República usou o fórum errado para responder aos ataques dos Estados Unidos, que na semana passada pediram ao governo brasileiro para rever o aumento das tarifas de importação de cem produtos, e outros parceiros internacionais. Ele destacou que é ano de eleição nos EUA e, em momentos como o atual, "os candidatos são mais verborrágicos". "O Brasil não tem que se justificar perante os outros na ONU por medidas que tomou de acordo com as regras internacionais de comércio".

Já o cientista político João Paulo Peixoto disse que Dilma não fugiu da linha praticada pelo Itamaraty e, assim como seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva fazia em fóruns internacionais, ela procurou fazer do Brasil a voz dos países em desenvolvimento. "Acredito que o Brasil ainda não tem musculatura suficiente para tanto".

O consultor internacional e ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral ponderou que Dilma manteve a linha tradicional da política externa brasileira. Mas enfatizou que um discurso econômico na ONU tem menos impacto do que numa reunião do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo).

"O Brasil tem o direito de aumentar as tarifas e os EUA de reclamar", acrescentou.

O ex-secretário do Tesouro dos EUA e ex-reitor da Universidade de Harvard Lawrence Summers afirmou ontem que medidas protecionistas, normalmente, são ruins para todos. A afirmação foi em referência às recentes rusgas entre os governos brasileiro e americano sobre protecionismo. Segundo Summers, historicamente, em períodos de freio econômico mundial, os países recorrem a medidas protecionistas.

"Normalmente, fica provado que essas medidas foram erros. Erros para o comércio mundial e para os países envolvidos, porque as medidas, no fim das contas, ferem consumidores, produtores, causam menos competitividade".

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