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O primeiro trimestre de 2009 termina daqui a apenas 20 dias, mas os analistas ainda estão muito longe de um consenso em relação ao desempenho da atividade econômica nos primeiros três meses do ano – e poucos se arriscam a afirmar se o país entrou ou não no que tecnicamente se chama de recessão. Na teoria econômica, esse conceito corresponde a duas quedas trimestrais consecutivas do PIB e indica se determinada economia passou meio ano em marcha à ré.

Já esperada, a "primeira queda" trimestral foi confirmada ontem pelo IBGE. Mas, somados aos vários indicadores divulgados nas últimas semanas, os dados oficiais parecem ter servido mais para confundir do que para esclarecer o rumo que a economia tomou desde o fim do ano passado. De dez economistas consultados pela Gazeta do Povo, apenas três disseram estar seguros de que haverá uma nova queda no PIB e, portanto, uma recessão técnica. Outros três dizem que ela é "possível". E os quatro restantes apostaram em estabilidade, em leve crescimento ou mesmo afirmaram ser impossível fazer uma projeção confiável neste momento.

Marcela Prada, da Tendências Consultoria, é das mais convictas. Para ela, "as novas projeções apontam para queda de 0,9% no PIB no primeiro trimestre, o que configurará uma recessão técnica". "Após cair 20% ao longo do quarto trimestre, a produção industrial cresceu apenas 2,3% em janeiro. Para fevereiro, os indicadores antecedentes disponíveis apontam alta de 2,8%. Isso indica que o patamar médio da produção industrial no primeiro trimestre deve continuar muito baixo", disse a economista. Ontem, ela rebaixou de 1,5% para 0,3% sua previsão de crescimento econômico em 2009.

Para o economista Marcel Pereira, da RC Consultores, o PIB deve cair não apenas no primeiro trimestre, mas também no segundo. "É a conclusão a que se chega em função do que já vem ocorrendo, e da falta de fatores que apontem para uma reversão." Gilmar Mendes Lourenço, do FAE Centro Universitário, avalia que "o quadro é típico de retração". "O primeiro trimestre geralmente serve para a reposição dos estoques. Neste ano, vemos que o comércio ainda não conseguiu se livrar dos estoques do fim do ano passado."

Mais contida, a consultoria Rosenberg afirma que são reduzidas as chances de nova queda trimestral. Francisco Pessoa, da LCA Consultores, trabalha com a perspectiva de estabilidade no trimestre. "Na pior das hipóteses, haverá uma queda, mas muito menor que a do trimestre passado [-3,6%]." Ainda assim, a consultoria revisará para baixo sua projeção para o PIB anual. "Deve cair de 2,4% para algo entre 1,5% e 2%."

Os professores Giuliano Oliveira (Unicamp), Breno Lemos (PUC-PR), Alcides Leite (Trevisan Escola de Negócios) e Alivínio Almeida (Isae/FGV) também defendem a ideia de que, se houver retração no trimestre, será leve. Para Rafael Paschoarelli, da Fundação Instituto de Administração (FIA), pouco importa se o país está ou não em "recessão técnica" – até porque isso só será confirmado ou não pelo IBGE daqui a três meses, quase na metade do ano.

"Importante é que estão sobre a mesa todas as evidências possíveis de que houve uma abrupta mudança nas expectativas", diz Paschoarelli. "Não há mais espaço para atitudes paliativas do governo. Ou ele reduz drasticamente o gasto com a máquina pública e a carga tributária, gerando recursos para o investimento público e privado, ou a coisa vai complicar de vez."

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