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Em meio à polêmica sobre a instalação de duas grandes usinas hidrelétricas em Rondônia, cuja construção está emperrada por problemas nos estudos de impacto ambiental, o país deveria olhar para o exemplo de Itaipu. A sugestão foi dada ontem, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na primeira entrevista coletiva do segundo mandato. Referindo-se à possibilidade de que uma espécie de bagre poderá ser extinta pela construção das barragens de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, Lula citou um canal de mais de 100 metros de altura, construído em Itaipu, que permite a passagem e a reprodução dos peixes rio acima.

"Se vocês saírem daqui e foram até Itaipu, vocês vão perceber que lá foi feito um canal para que os peixes pratiquem a piracema. Um canal onde, na época da piracema, os peixes sobem, fazem o que têm que fazer e voltam", disse o presidente, acrescentando que nas usinas previstas para o Madeira a "escada" para a piracema terá 20 metros. Somadas, as duas hidrelétricas de Rondônia terão potência de 6,48 mil megawatts (MW), quase metade da capacidade de Itaipu – que, desde fevereiro, com a entrada em operação de sua vigésima e última turbina, passou a 14 mil MW, pouco mais de 13% da potência de geração de energia do Brasil.

"O bom exemplo tem que ser seguido. Não foi por outra razão que Lula citou a Itaipu", disse ontem o diretor brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek. Para ele, os programas de responsabilidade social e de proteção e recuperação do meio ambiente realizados pela hidrelétrica podem servir de parâmetro para projetos energéticos em todo o país. "Na época da construção de Itaipu, dizia-se que a barragem estaria totalmente assoreada em 18 anos, de que o clima da região iria mudar, peixes desapareceriam, e que o acúmulo de tanta água no mesmo local provocaria terremotos", lembrou Samek. "Hoje, após 23 anos de funcionamento, vemos que nada disso aconteceu. A construção de novas usinas é imprescindível para o crescimento econômico, e a questão é como fazer isso sem comprometer o meio ambiente."

Em entrevista à Gazeta do Povo, o executivo listou uma série de programas conduzidos pela empresa binacional. Segundo ele, foram reflorestados 110 mil hectares em toda a área do reservatório, o que possibilitou a criação de um "corredor de biodiversidade" que conectou mais de 700 mil hectares de florestas, desde Ilha Grande, na divisa do Paraná com o Mato Grosso do Sul, até a Argentina. A preservação das matas ciliares do lago de Itaipu evitou, ainda, a ameaça de assoreamento do reservatório.

Samek diz que hoje há cerca de mil produtores de alimentos orgânicos na região do reservatório, e os dejetos de aves e suínos são utilizados na produção de adubo orgânico e de biogás, evitando a contaminação de rios e do lençol freático. Parceria firmada com a Fiat, a Copel e a suíça KWO já permitiu o desenvolvimento de um carro elétrico utilizado na usina – e agora a intenção é projetar um utilitário. O incentivo ao recolhimento das embalagens de agrotóxicos foi outra medida que, segundo o diretor de Itaipu, impediu a contaminação do lago.

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