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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Quebra na safra e no comércio

Além da quebra da safra de milho e soja, provocada pela estiagem, o setor agropecuário sofreu com a queda das cotações internacionais. E a perda de renda no campo acabou afetando as vendas do comércio na cidade, em especial no interior do estado.

"O ciclo de alta de preços das commodities agrícolas acabou neste ano, e isso se refletiu na renda no campo. E, do campo, esse efeito se espalha sobre o comércio. Isso é muito nítido aqui no interior", diz Umberto Antonio Sesso Filho, professor de Economia da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Para Alexandre Porsse, da UFPR, embora tenham fechado o semestre em alta, o comércio e os serviços podem ainda não ter refletido toda a retração ocorrida nos demais setores. "O setor terciário responde com alguma defasagem à redução que ocorre na agropecuária e na indústria. Portanto, se esses setores continuarem mal, comércio e serviços podem ser mais afetados."

Retração

Indústria enfrenta ciclo de baixa puxado por montadoras

Boa parte da queda da produção industrial do Paraná no primeiro semestre pode ser creditada à indústria automotiva, que encolheu 15,7%. Além de sofrerem com a retração do mercado brasileiro, as montadoras e fábricas de autopeças estão penando com a crise na Argentina.

"Assim como a indústria do Paraná se beneficiou do ciclo de expansão do consumo de automóveis e outros bens duráveis, agora que a demanda está em baixa ela também sofre mais", diz o economista Alexandre Porsse, professor da UFPR. "Um fator negativo a mais foi a instabilidade na Argentina, para onde vai a maior parte das exportações das montadoras."

Também tiveram influência decisiva sobre o resultado final da indústria a retração na produção de máquinas e equipamentos (-9,5%), afetada pela queda nas encomendas do setor agropecuário; e o recuo na fabricação de produtos alimentícios (-5,2%), outro efeito das dificuldades do campo.

PROJEÇÃO

No fim do ano passado, o Ipardes projetava um crescimento de 5% para a economia paranaense neste ano. O instituto ainda não revisou sua estimativa, mas é possível que ela a diminua depois da alta de apenas 1,7% do PIB no 1º semestre.

A estagnação da economia brasileira, a quebra da safra agrícola e a crise da Argentina – principal destino das exportações industriais – provocaram uma forte desaceleração no crescimento do Paraná.

INFOGRÁFICO: Veja o desempenho do Paraná nos setores da economia

A exemplo do que ocorre desde 2010, a economia estadual continua avançando mais rápido que a nacional. Mas a vantagem paranaense, antes disseminada, agora se deve basicamente aos números do setor de serviços.

Segundo estimativas di­­vulgadas na sexta-feira pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Eco­­nômico e Social (Ipardes), o Produto Interno Bruto (PIB) do Paraná, que cresceu 4,6% no ano passado, fechou o primeiro semestre de 2014 com alta bem mais modesta, de 1,7% em relação à primeira metade de 2013. Enquanto isso, a economia brasileira passou de uma expansão de 2,5% em 2013 para apenas 0,5% neste ano.

A superioridade do Para­­ná na estimativa do PIB contrasta com sua desvantagem na maioria dos indicadores setoriais. No primeiro semestre, a produção industrial do estado caiu 4,3%, mais que a do Brasil todo (-2,6%). As vendas do comércio cresceram 3,9% no Paraná e 4,2% na média nacional. No caso da agropecuária, a estimativa do Ministério da Agricultura para o valor bruto da produção em 2014 é de uma queda de 9,4% no estado e de um avanço de 2,1% no país. O único setor em que o desempenho paranaense é melhor é o dos serviços, cuja receita nominal subiu 8,2% de janeiro a junho, acima dos 7,4% da média brasileira.

Esses indicadores não necessariamente coincidem com os resultados do PIB. Para o cálculo deste, IBGE e Ipardes dividem a economia em três setores: agropecuária, indústria e serviços (e o comércio dentro deste). No confronto desses números, o Paraná perdeu na agropecuária (-4,5%, contra um avanço de 1,2% no Brasil) e na indústria (-1,9% contra -1,5%), mas venceu nos serviços (4% contra 1,1%), o que foi determinante para o resultado global.

Para o economista Fran­cisco Gouveia de Castro, do Ipardes, o crescimento dos gastos da administração pública e o avanço do crédito estão entre os motivos para o avanço dos serviços no Paraná. Segundo o Banco Central, o saldo de todos os empréstimos no estado cresceu 13,7% no período de 12 meses encerrado em junho. É um crescimento mais fraco que o de anos anteriores, mas ainda superior ao da média nacional (11,8%).

"O que determina a dinâmica do setor terciário [comércio e serviços] é o mercado de trabalho. E ele continua sendo um fator positivo no estado", ressalta Castro. Segundo o Ministério do Trabalho, o Paraná gerou 66,2 mil empregos formais nos sete primeiros meses do ano, mais de 10% das vagas criadas em todo o país. Com isso, o número de pessoas empregadas com carteira assinada no estado aumentou 2,4%, bem acima do avanço médio nacional (1,6%).

"Nos últimos anos houve uma mudança na vocação econômica do Paraná. Deixamos de ficar tão dependentes da agricultura e da indústria, e os serviços ganharam importância. Na área de tecnologia, Curitiba, por exemplo, tem hoje vários centros de serviços compartilhados de grandes multinacionais", diz Clécio Chiamulera, presidente da seção paranaense do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-PR).

Crescimento

Índices sugerem que estado convergiu para ritmo nacional

Embora fracos, os números da economia divulgados na sexta-feira vieram melhores do que sugeriam os índices de atividade econômica preparados pelo Banco Central, os IBCs, que até algum tempo atrás eram considerados uma "prévia do PIB".

O IBC brasileiro apontou um avanço de apenas 0,1% no primeiro semestre, um tanto abaixo do PIB divulgado pelo IBGE (0,5%). O IBC do Paraná, por sua vez, indicou uma queda de 0,2% na atividade econômica estadual, em sentido oposto à alta de 1,7% no PIB, anunciada pelo Ipardes.

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