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Exportação de grãos em Paranaguá. Paraná costuma ir bem quando o agronegócio vai bem | Felipe Rosa / Gazeta do Povo
Exportação de grãos em Paranaguá. Paraná costuma ir bem quando o agronegócio vai bem| Foto: Felipe Rosa / Gazeta do Povo

Contraponto

Bons índices não refletem percepção das empresas

Segundo o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF) no Paraná, Clécio Chiamulera, a estrutura industrial do estado está mais equilibrada e diversificada, o que ajuda a explicar o impacto menor da crise por aqui quando comparado ao desempenho nacional. "Nos últimos anos houve uma mudança na matriz industrial e o desenvolvimento vigoroso do setor de serviços, com a criação de polos de software, por exemplo", diz.

Mas no dia a dia das empresas, o vigor dos indicadores da economia ainda é pouco percebido. No mundo corporativo, 2012 não tem sido um ano fácil, de acordo com Chiamulera, que é diretor administrativo e financeiro da fabricante de papel cartão Ibema.

Considerado uma espécie de termômetro da economia, o setor de papel e papelão vem enfrentando vendas mais fracas em 2012. A Ibema fornece papel cartão para embalagens de alimentos, perfumes e produtos farmacêuticos, vestuário, calçados, higiene e limpeza, dentre outros.

A companhia projeta uma queda de 5% nas vendas internas em 2012. "O que vemos é que o mercado interno ainda está fraco. Em compensação, o dólar mais alto já favorece as exportações", diz. As vendas externas, que responderam em 2011 por 25% da produção, esse ano devem avançar para 35%. A empresa, que tem fábrica em Turvo, na região central do estado, deve fechar o ano com faturamento de cerca de R$ 250 milhões, 13% mais do que no ano passado.

A economia do Paraná remou contra a maré no primeiro semestre e conseguiu crescer em meio ao fraco desempenho brasileiro. O bom resultado, que vem sendo puxado pela indústria e pelo varejo principalmente, deve se acentuar no segundo semestre e fazer o estado fechar o ano com crescimento de 3%, segundo projeção do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes), Se confirmado, o Paraná crescerá o dobro da média brasileira, que deve ficar entre 1,5% e 1,7%, segundo previsões de mercado.

No primeiro semestre, o Produto Interno Bruto (PIB) do Paraná cresceu 2,6%, contra um avanço de apenas 0,6% no âmbito nacional. Segundo o presidente do Ipardes, Gilmar Mendes Lourenço, o desempenho no primeiro semestre só não foi melhor por conta de 20% de quebra na safra agrícola de verão, que fez o PIB da agropecuária encolher 10%. "Sem essa quebra, o PIB do Paraná no semestre teria crescido entre 3,5% e 4% no primeiro semestre", afirma.

A indústria e os serviços, porém, têm resultados bem acima da média brasileira. Mesmo em desaceleração nos últimos dois meses, de janeiro a julho a produção industrial no estado cresceu 1,8% contra uma queda de 3,7% Brasil. As vendas do comércio varejista cresceram 13,5% no estado nos primeiros seis meses do ano, diante de um avanço de 9,1% no Brasil.

O mercado de trabalho também contribuiu para o resultado, com um ritmo de criação de vagas mais forte, especialmente na indústria, que tradicionalmente gera empregos mais qualificados e com melhores salários. "De janeiro a julho 13% das vagas geradas foram na indústria. No Paraná, essa proporção é de 26%", diz Lourenço.

De acordo com ele, o estado também vivenciou uma desaceleração da atividade em relação ao fim de 2011, mas ela foi menor que no Brasil. "O Paraná obviamente não é uma ilha. Se a recessão no país tivesse perdurado mais, seríamos mais afetados", diz Lourenço.

Para Alexandre Alves Porsse, professor do departamento de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a indústria do estado se beneficiou das políticas de incentivo adotadas pelo governo federal para driblar os efeitos da crise, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A quebra de safra, por sua vez, foi parcialmente compensada pelo aumento dos preços das commodities agrícolas, impactados também pela redução da oferta de grãos dos Estados Unidos.

Histórico

Nos dois últimos anos, o estado já havia tido um resultado superior ao brasileiro. Em 2011, o PIB do estado cresceu 4%, para R$ 251,6 bilhões, diante de um avanço de 2,7% do Brasil, para R$ 4,14 trilhões.

Com forte presença do agronegócio – que representa 30% do PIB estadual – a economia paranaense costuma ir bem quando o campo vai bem. "Essa dependência do agronegócio vem diminuindo, mas ainda é significativa", acrescenta Lourenço.

O Ipardes acredita que a economia brasileira crescerá 1,5% em 2012, mas deve se recuperar em 2013, com avanço de 4%. Porsse, da UFPR, observa que o endividamento alto das famílias vem limitando os efeitos das políticas de incentivo ao consumo adotadas pelo governo. "Esse cenário de incerteza também influencia a tomada de decisão sobre investimentos por parte das empresas. Mas a tendência, para 2013, é que aos poucos o consumo volte a crescer."

Até 2022, PR responderá por 7% da riqueza

Com um crescimento acima da média pelo terceiro ano consecutivo, o Paraná deve recuperar posições na economia brasileira. Entre 2003 e 2009, a participação do Paraná no PIB nacional caiu de 6,44% para 5,87%, impactado pela quebra de safra agrícola e por uma média de crescimento abaixo da régua nacional. "Nesse período, o estado cresceu em média 3,6% ao ano, contra 4% do Brasil", diz o presidente do Ipardes, Gilmar Mendes Lourenço. A projeção é que em 2012 esta participação chegue a 6,2%.

No médio prazo, a expectativa é que os novos investimentos industriais contribuam para um avanço maior do PIB paranaense. Somente os investimentos anunciados até agora – R$ 18 bilhões nos últimos 20 meses – deverão ser responsáveis por um impacto positivo de 0,5% no PIB partir de 2013, segundo cálculos de Lourenço. "A expectativa é que em dez anos, a participação do Paraná na economia brasileira chegue a 7%".

Pelo menos quatro setores devem puxar o desenvolvimento no estado nos próximos anos – entre eles o agronegócio, a indústria metalmecânica, em especial a automotiva, o setor de derivados de madeira (móveis, papel e celulose) e a construção civil, principalmente ligada a infraestrutura. Esses são os setores que também estão recebendo mais investimentos.

A montadora de automóveis Renault, por exemplo, está aplicando mais de R$ 1,5 bilhão na sua fábrica em São José dos Pinhais, na região de Curitiba. A japonesa Sumitomo está investindo R$ 560 milhões para fabricar pneus em Fazenda Rio Grande, também na região metropolitana.

A Klabin já anunciou um investimento de R$ 6,8 bilhões em uma nova fábrica para produção de celulose em Ortigueira, na região dos Campos Gerais. A chilena Arauco está investindo R$ 272 milhões na sua fábrica de painéis de madeira em Jaguariaíva, também nos Campos Gerais.

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