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Pela primeira vez um publicitário em atividade no Paraná está participando do corpo de jurados do Festival Internacional de Publicidade de Cannes, principal evento do mundo da propaganda. Há quase seis anos vivendo e trabalhando em Curitiba, o paulistano Mario D’Andrea se orgulha de representar na França o que considera um dos mercados mais criativos da publicidade brasileira. "Os jurados são sugeridos pelo próprio setor, através de consultas informais feitas pelos representantes do festival. Há pelo menos 20 anos o Brasil participa do júri, mas nunca com publicitários sediados fora do eixo Rio-São Paulo."

A vaga entre aqueles que decidem o destino dos Leões (nome dado aos troféus de Cannes) mais cobiçados pela publicidade mundial foi conquistada depois de 22 anos de experiência na área – quase dois à frente da JWT Curitiba, escritório paranaense da multinacional JWT.

Sete jurados brasileiros, em categorias diferentes, avaliam os trabalhos inscritos neste ano. D’Andrea foi convidado para avaliar as peças inscritas na categorias rádio. Foi nela também que a JWT Curitiba ganhou o maior número de prêmios até agora. Sem a contribuição do brasileiro, é claro, que assim como os demais jurados não pôde votar nas peças da sua própria agência. A unidade conquistou três prêmios na categoria – dois Leões de bronze e um de prata.

A 53.ª edição do Festival de Cannes termina amanhã com a premiação dos melhores filmes. Na segunda-feira, a Master Comunicação, também de Curitiba, faturou o leão de Prata na categoria Lions Direct, que premia ações de marketing direto (peças não veiculadas na mídia, como as malas-diretas).

Gazeta do Povo – Que avaliação o senhor faz do nível de qualidade das peças apresentadas nesta edição do Festival de Cannes?Mario D’Andrea – No início, o nível sempre parece fraco, até porque o volume é absurdo. Para se ter uma idéia, foram 5 mil outdoors inscritos e 1,2 mil peças de rádio. Só quando começam a ser apresentadas as shortlists (lista dos finalistas) é que se tem uma idéia melhor. Aí, é claro, tem sempre coisas muito boas, coisas surpreendentes. As peças acabam refletindo o perfil, a cultura de cada país de origem.

E a publicidade brasileira, como está sendo recebida esse ano?O Brasil foi muito bem em rádio. Teve uma performance histórica: foram quinze finalistas, o que nunca tinha acontecido. Em outdoor também foi razoável, mas em mídia imprensa foi muito ruim – ganhamos só quatro Leões. Historicamente o Brasil vai muito bem nessa categoria e já recebeu muito mais que isso. Mas essa variação é normal porque os critérios dos jurados são diferentes de um ano para outro. Na média, o Brasil foi muito bem. Falta ver cinema ainda, mas o país ainda é um dos três ou quatro mais premiados do festival.

O fato de termos um jurado paranaense e prêmios para agências sediadas aqui é um reflexo de que a publicidade produzida no estado está ganhando mercado?Sem dúvida. A qualidade do trabalho que os profissionais do Paraná vêm fazendo está sendo reconhecida e claramente considerada pelos outros mercados. Eu sinto isso porque vou muito para São Paulo – onde está a sede da minha agência. Para os profissionais brasileiros, o mercado que mais chama atenção em termos de qualidade criativa, tirando São Paulo, é o Paraná. O Rio de Janeiro também é um grande mercado, mas historicamente já reconhecido. O Paraná é o mais "olhado", pela qualidade do que vem apresentando.

O reconhecimento em um festival tão importante quanto o de Cannes ajuda as agências paranaenses a enfrentarem um problema apontado por muitas, o de viver à sombra do mercado paulistano?Sem dúvida ajuda. Primeiro porque ratifica o profissionalismo do mercado paranaense. Tivemos vários finalistas em várias mídias diferentes este ano. O rádio, por exemplo, mídia na qual a JWT Curitiba ganhou três Leões é um ótimo canal de publicidade, que atinge quase 100% dos brasileiros, é relativamente barata e de baixo custo de produção do material. Portanto, qualquer cliente regional do Paraná pode ter uma ótima campanha se quiser; só precisa ter uma boa agência. E isso o Paraná tem. O que está faltando, talvez, seja os clientes locais acreditarem mais nisso e saberem que poderiam vender mais e ganhar mais dinheiro se investissem mais em propaganda e em boas agências. Não existe propaganda cara ou barata. Existe boa ou ruim, porque o preço de veiculação é sempre o mesmo, seja ele bom comercial ou péssimo. As empresas do Paraná têm que pensar que, se estão pagando, podem ter o máximo de retorno com isso. Para isso, nada melhor do que ter uma boa agência pra ajudar a fazer melhor.

Pelo material apresentado, é possível adiantar alguma tendência que a publicidade deve seguir?Algumas. No ano passado já teve um pouco isso, e esse ano se repetiu: algumas campanhas usando formas diferenciadas de animação e procurando linguagens artísticas inspiradas nas artes plásticas clássicas, como a pintura ou no desenho. Tem a escola americana também, que continua sendo baseada na vida real, nas pessoas em situações verdadeiras. A gente faz muito isso no Brasil. Na impressão gráfica, em particular, a tendência é de termos muito pouco texto ou título e muita imagem. Ou seja, de novo as artes plásticas influenciando bastante na publicidade.

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