• Carregando...
 |
| Foto:

CONTRAPONTO

Desemprego não é tão baixo, diz economista

O desemprego "real" não é tão baixo quanto faz supor a pesquisa mensal do IBGE. E a ampla divulgação das taxas de desocupação calculadas pelo instituto, que atingiram níveis historicamente baixos, estimula as pessoas a pedir demissão e buscar postos mais vantajosos – sem necessariamente ter sucesso, uma vez que o mercado formal desacelerou. O alerta é da economista Anita Kon, professora da PUC-SP.

Para ela, a taxa de desemprego mais próxima da realidade é a do Dieese/Seade, que, ao contrário do IBGE, inclui em seu cálculo os trabalhos precários e o desemprego oculto pelo desalento (quando a pessoa desiste de procurar emprego). Com isso, em dezembro o Dieese/Seade apurou uma taxa nacional de 9,8%, mais que o dobro da calculada pelo IBGE (4,6%).

O desempenho do mercado formal no ano passado foi o mais fraco desde 2009. Mesmo assim, os pedidos de demissão – em geral feitos por trabalhadores à procura de empregos melhores – cresceram pelo terceiro ano seguido e bateram recorde.

Em todo o país, 29% dos desligamentos ocorreram a pedido do empregado. No Paraná, o índice chegou a 38%: de quase 1,5 milhão de paranaenses dispensados em 2012, 554 mil deixaram o emprego por iniciativa própria, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged.

Os números podem ser ainda maiores, porque os registros do Caged não captam acertos informais feitos entre empresas e empregados – muitas vezes um pedido de dispensa é formalizado como demissão sem justa causa, para que o funcionário possa sacar o FGTS e receber seguro-desemprego.

No Paraná e no Brasil, os "desligamentos a pedido" crescem quase sem parar desde 2006, quando esse tipo de informação foi incluído no banco de dados do Caged. A exceção foi 2009, quando, inseguros com a crise internacional, os trabalhadores pensaram duas vezes antes de se demitir.

Razões

Para a maioria dos especialistas, o aumento dos pedidos de demissão está ligado à queda do desemprego. Em 2012, a taxa de desocupação medida pelo IBGE oscilou em torno de 5,5%, a menor média da série iniciada em 2002.

"A retomada do crescimento econômico observada na segunda metade dos anos 2000 ampliou as oportunidades de emprego. Trabalhadores com maior experiência puderam encontrar postos de trabalho de melhor qualidade e com melhores salários, o que estimulou as saídas", avalia Amilton Moretto, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp.

O economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio e da Opus Gestão de Recursos, acredita que o movimento não perderá força tão cedo, porque o desemprego tende a permanecer baixo. "A população economicamente ativa vem crescendo relativamente pouco nos últimos anos, entre 1,6% e 1,7% ao ano, o que limita a oferta de trabalhadores", diz Camargo. "Além disso, embora pequeno, o crescimento econômico vem sendo puxado em grande parte pelo setor de serviços, que demanda muita mão de obra."

Jovens

Na divisão por faixa etária, o grupo que mais pede demissão é o das pessoas com 18 a 24 anos – no Paraná, elas responderam por 37% das dispensas desse tipo. Para Moretto, uma das questões a considerar é que o salário muitas vezes não compensa a pressão exercida sobre o jovem, nem a qualificação que se exige dele. "E não se pode perder de vista que, no ambiente imediatista construído nas últimas duas décadas, a expectativa de construção de uma carreira se esvaiu. É provável que o jovem hoje tenha muito menos compromisso com o emprego", diz.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]