• Carregando...

A oferta feita pela Sadia, de compra de ações da Perdigão, que poderá envolver recursos da ordem de R$ 3,7 bilhões, fez as ações das duas companhias dispararem na Bovespa. O presidente da Perdigão, Nildemar Secches, disse que o preço oferecido pela Sadia é extremamente baixo, e especialistas em concorrência acreditam que as autoridades antitrueste terão dificuldades para aprovar a fusão das duas empresas.

Mesmo assim, as ações ordinárias da Perdigão dispararam 17,40%, fechando a R$ 27 para venda, enquanto o Ibovespa recuou 1,37%. As ações preferenciais da Sadia também fecharam com ganhos, de 8,07%, a R$ 6,16 (as ordinárias da Sadia avançaram 1,86%, cotadas a R$ 6,01).

O objetivo da Sadia, com a oferta de compra, é adquirir 100% das ações da Perdigão para incorporar a concorrente ao grupo e, assim, criar a terceira maior exportadora mundial de derivados de carne. As receitas líquidas das duas empresas combinadas ultrapassaria R$ 12 bilhões. Deste montante, 50% seriam provenientes de exportações.

A nova corporação reuniria 81 mil empregados e 16 mil produtores integrados. A Sadia garantiu que a fusão não representará demissões de empregados nas duas empresas. O presidente do Conselho de Administração da Sadia, Walter Fontana Filho, afirmou que a compra da Perdigão fará com que a futura empresa consiga entrar mais facilmente em novos mercados internacionais:

- A guerra comercial é muito dura. E é disso que se trata, de acesso e de abertura a mercados. Precisamos ter empresas fortes no mundo para que nossos direitos passem a valer.

Para ele, com a compra da Perdigão, as duas empresas deixariam de ser "caça" para serem "caçadoras".

Representantes dos produtores de aves e de suínos disseram nesta segunda-feira ver mais benefícios do que riscos em uma eventual compra da Perdigão pela Sadia, as duas maiores empresas do setor ( confira ).RISCOS PARA O CONSUMIDOR?

Se os acionistas da Perdigão aceitarem a proposta da Sadia, a proposta de compra feita pela Sadia, o passo seguinte será conseguir o aval de autoridades antitruste ao negócio. Para especialistas, os órgãos de concorrência não terão um trabalho fácil, dado o amplo portfólio de produtos envolvido na operação.

A empresa combinada teria participação elevada em algumas categorias de alimentos no mercado interno. No segmento de pizzas congeladas, por exemplo, o 'market share' chegaria a 60%. A presença conjunta no setor de aves e suínos no país não ultrapassaria os 26% da produção nacional, de acordo com a Sadia.

A lei determina que a união de companhias que tenham juntas faturamento acima de R$ 400 milhões por ano ou 20% do mercado nacional submetam a operação ao sistema brasileiro de concorrência.

- Eu acho que essa fusão pode ter problema na aprovação. Será alguma coisa que vai ter que ser muito bem justificada. É capaz de ser uma situação muito parecida com Nestlé-Garoto, quando envolvia a líder do mercado e a segunda maior - opinou o professor do Ibmec e ex-presidente da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), Claudio Considera.

A Sadia ofereceu R$ 27,88 por cada ação da Perdigão, avaliando a empresa em cerca de R$ 3,7 bilhões. Os acionistas da Perdigão terão até 24 de outubro para tomar uma decisão e a oferta só será válida se aceita por detentores de 50% mais uma das ações da Perdigão.

O sócio da Tendências Consultoria e ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Gesner Oliveira, não ficou surpreso com a operação:

- Há no mundo e no Brasil, em particular, uma tendência muito forte para a consolidação de vários setores, e a busca por escala é muito acentuada.

Na avaliação de Oliveira, é temerário fazer comparações com casos anteriores que passaram pelas autoridades antitruste.

- Eu diria que cerveja é diferente de chocolate, que é diferente de frango. Nesse estágio seria precipitado fazer qualquer previsão quanto a problemas concorrenciais.

MERCADO EXTERNO

A Sadia defende a aliança com a Perdigão alegando que isso irá "resultar em uma liderança global... com amplas condições de competir no mercado internacional".

O ex-secretário da Seae discorda.

- Isso é o que todas alegam, isso é uma bobagem. Na verdade, você tem que ver os efeitos no mercado interno - diz Considera.

Já o ex-presidente do Cade tem visão diferente, por acreditar que o mercado externo também deve ser fruto de análise.

- São dois aspectos relevantes e interligados, ainda que a preocupação com concentração diga respeito a mercados domésticos. A união das duas empresas naturalmente gera uma empresa de um porte elevado, mas do ponto de vista mundial não há nenhuma concentração - afirmou Gesner.

Após a assinatura de um acordo de fusão, as empresas têm 15 dias para apresentar o negócio à Secretaria de Direito Econômico (SDE), ligada ao Ministério da Justiça.

A SDE e a Seae, vinculada à Fazenda, têm 60 dias para avaliar o negócio e emitir um parecer. Finalmente, então, a transação chega às mãos do Cade, que tem outros dois meses para tomar uma decisão. A autarquia pode impor restrições à fusão, rejeitá-la ou aprová-la de forma incondicional.

O diretor de Finanças da Sadia, Luiz Murat, disse em entrevista coletiva que a empresa seguirá "rigorosamente o que os órgãos determinarem e também o que determinar a lei".

Leia também:

Sadia descarta elevar preço da oferta de compra da Perdigão

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]