A economia brasileira mostrou forte recuperação no final de 2009, com melhora dos investimentos e da indústria, mas o desempenho do quarto trimestre não foi suficiente para evitar que o ano da crise global fechasse com retração de 0,2 por cento.
Trata-se da primeira queda anual da nova série do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 1996. Considerando a série completa, o desempenho em 2009 foi o pior desde 1992.
No quarto trimestre, a economia brasileira cresceu 2,0 por cento em relação ao terceiro, maior crescimento desde o quarto trimestre de 2007. Frente a igual período de 2008, o país se expandiu 4,3 por cento, taxa mais forte desde o terceiro trimestre de 2008.
Economistas ouvidos pela Reuters esperavam, pela mediana das estimativas, crescimento de 2,1 por cento frente ao trimestre imediatamente anterior e de 4,4 por cento sobre o final de 2008. Para o ano, as projeções apontavam contração de 0,2 por cento.
Para 2010, a expectativa de analistas e representantes da economia real é de um ano vigoroso. As vendas no varejo de janeiro, também divulgadas nesta quinta-feira, já dão um sinal nesse sentido, com o maior crescimento mensal da série iniciada em 2000, de 2,7 por cento.
O resultado do PIB "consolida a recuperação da atividade, sobretudo do setor produtivo, com crescimento da indústria e dos investimentos, e mostra continuidade do consumo... Cria uma percepção boa para este início de 2010", disse o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, também salientou que o ano começou muito bem e, com investimentos, o crescimento ocorrerá sem pressões inflacionárias. Mantega chegou a dizer que o PIB pode crescer mais de 5,7 por cento em 2010, embora tenha reiterado que a projeção oficial --contida no Orçamento-- seja de 5,2 por cento.
A menos de uma semana da decisão sobre o juro básico, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou em nota que "a economia brasileira entrou em fase de expansão vigorosa".
Mesmo com o resultado anual negativo, o desempenho da economia brasileira foi bem melhor que a da maioria dos países desenvolvidos.
Investimentos e indústria
Ao longo de 2009, a formação bruta de capital fixo --uma medida dos investimentos-- e a indústria sofreram um tombo de 9,9 e 5,5 por cento, respectivamente. Foram os piores resultados da nova série histórica do IBGE.
"A indústria não era negativa desde o ano turbulento de 2003, quando Lula assumiu o governo. O investimento apresentou a primeira queda desde o racionamento de energia em 2001", destacou a economista do IBGE Rebeca Palis.
Entre os componentes da formação bruta, a construção civil caiu 6,4 por cento e o segmento de máquinas e equipamentos encolheu 13,1 por cento. Na indústria, os quatro subsetores foram afetados pela crise e fecharam o ano no negativo.
Mas, considerando apenas o quarto trimestre em relação ao terceiro, os investimentos subiram 6,6 por cento e a indústria cresceu 4 por cento.
Em relação ao quarto trimestre de 2008, a formação bruta aumento 3,6 por cento e a indústria avançou 4 por cento. "Foi a primeira vez desde antes da crise que todos os subsetores da indústria cresceram juntos", acrescentou Palis.
Além disso, o comércio exterior, outro setor abatido pela crise, ensaiou recuperação no fim do ano, segundo o IBGE.
O setor externo contribuiu para o desempenho do PIB em 0,1 ponto percentual, primeiro dado positivo desde 2005, enquanto a atividade interna teve peso negativo de 0,3 ponto.
A taxa de investimento no ano passado foi de 16,7 por cento do PIB, a menor desde 2006. A taxa de poupança ficou em 14,6 por cento do PIB, mais baixa desde 2001.
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