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PIB da indústria recuou 1,2%. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
PIB da indústria recuou 1,2%.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Um resultado da economia brasileira menos desastroso que o esperado deu maior alento às projeções para o encerramento da recessão vivida pelo país. Divulgados na quarta-feira (1º), os números nem de longe são dignos de comemoração: o Produto Interno Bruto (PIB), medida da renda gerada no país, encolheu 0,3% no primeiro trimestre.

Completaram-se cinco trimestres consecutivos de queda; pelos critérios da Fundação Getúlio Vargas, o ciclo de contração da produção nacional já dura dois anos – é o mais longo e intenso desde que o Plano Real derrubou a hiperinflação, em 1994.

INFOGRÁFICO: Números do PIB

Atrás da Grécia

A queda de 5,4% no PIB brasileiro na comparação com o mesmo trimestre de 2015 colocou o país na lanterna do crescimento global. Segundo levantamento da consultoria Austin Rating, o Brasil está na última posição entre 31 países pesquisados. Ficou atrás inclusive de economias que também enfrentam crises financeiras graves, como a Grécia (29º) e a Rússia (30º), com queda de 1,2%. A Venezuela, que ocupou a lanterna nos rankings anteriores, ainda não divulgou os resultados para o primeiro trimestre.

Analistas previam, contudo, um desempenho ainda pior. Expectativas de bancos e consultorias rondavam uma retração de 0,8% de janeiro a março; o índice de atividade econômica do Banco Central mostrou piora de 1,4%.

Além da surpresa favorável com o trimestre transcorrido, há mudanças no cenário presente capazes de atenuar os prognósticos sombrios para o restante do ano. A mais óbvia é o afastamento da presidente Dilma Rousseff, celebrado por empresários e investidores, e a substituição da desacreditada equipe econômica da administração petista.

Permanece incerta, todavia, a viabilidade do programa de controle dos gastos públicos apresentado pelo governo Michel Temer, que nem sequer foi detalhado e formalizado. A própria sustentação política do novo governo é ameaçada pela Operação Lava Jato.

Há, de todo modo, sinais ainda incipientes de arrefecimento do pessimismo geral. Um índice da FGV que sintetiza oito indicadores dos humores do mercado contabilizou em abril sua terceira melhora mensal consecutiva.

Pessimismo em queda

A entidade, uma das poucas a acertar o resultado mais recente do PIB, já trabalha com a possibilidade de atenuar a projeção de queda de 3,8% do PIB neste ano.

Mas não são poucos os motivos para cautela. A produção e a renda mostram piora na indústria, nos serviços e na agropecuária; os investimentos em obras de infraestrutura e compra de equipamentos caíram pelo décimo trimestre seguido.

Pilar do crescimento econômico na década passada, o consumo das famílias encolheu 1,7% no início do ano, depois de uma retração de espantosos 5,2% em 2015.

“O consumo das famílias vai ser um dos últimos a reagir. Existe uma defasagem entre atividade econômica e o mercado de trabalho. Além disso, o crédito e a confiança precisam melhorar primeiro”, aponta Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências.

Resultado pode indicar estabilização

O resultado do PIB no primeiro trimestre é menos ruim do que parece. A queda de 0,3% em relação ao quarto trimestre de 2015 é menos intensa do que sugeria a maioria dos indicadores antecedentes. Nessa comparação trimestral, o país está perto de ter sua economia estabilizada.

A hipótese mais otimista é que a pequena melhora nos níveis de confiança na economia, registrada desde o início do ano, combinada com a reação de alguns mercados (em especial as exportações), levará o PIB do segundo trimestre para uma variação perto de zero, talvez levemente negativa, seguida de estabilidade ou pequeno crescimento já no terceiro trimestre. O país poderia deixar o estado de depressão no quarto trimestre.

Isso significaria apenas a estabilização, não a reação da economia. Há ainda no ar muitas fragilidades, como o desemprego crescente, a inadimplência que começa a incomodar o setor bancário e a falta de força do novo governo. Elas seriam capazes de causar um repique de retração (resultados piores do que o esperado nos próximos meses) se não forem controladas.

Ainda existe um caminho longo para o país retomar a confiança que gera o crescimento econômico. Precisamos acreditar que a gestão nas contas públicas não trará mais inflação e que a trajetória de queda dos juros começará em breve e será sustentada. Será crucial para isso que o governo apresente o que falta de suas intenções para a economia e aprove alguma mudança importante antes das eleições municipais. Será a senha para o investimento voltar.

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