• Carregando...
Dona Inge, como é chamada, assumiu os negócios após a morte do marido, na década de 1960 | André Rodrigues / Gazeta do Povo
Dona Inge, como é chamada, assumiu os negócios após a morte do marido, na década de 1960| Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo

História

Dona Inge foi testemunha das transformações econômicas do país

Desde que passou a atuar na bolsa, com a ajuda do filho, Omar Camargo Filho, Ingeborg Sippel Camargo presenciou as principais mudanças da história econômica brasileira recente, como a hiperinflação nos anos 80 e os planos econômicos , a maxidesvalorização do real no fim dos anos 90, a explosão das aberturas de capital no país e a consolidação da Bovespa como uma das principais bolsas do mundo.

Dona de um estilo direto e de opiniões fortes, Inge ainda observa o setor com atenção. Para ela, o mercado precisa dar espaço ao pequeno investidor, porque um dia "ele vai se tornar grande". Ela reforça que o aplicador começa com a poupança, depois vai para renda fixa e por último entra no mercado de ações.

Hoje, Inge fica pelo menos quatro horas por dia na corretora, atualmente comandada pelo filho e o neto. Seu papel é mais institucional, com contatos com os clientes. Mas os planos para a aposentadoria estão descartados. "Não quero parar de trabalhar. Mente ociosa é oficina do diabo", diz.

Durante muitos anos o mercado de capitais foi terreno dominado por homens, mas isso não foi motivo para afugentar Ingeborg Sippel Camargo, a primeira mulher no Brasil e a segunda na América Latina a atuar nesse setor. Nascida na Alemanha e naturalizada brasileira, ela vive em Curitiba e ainda hoje, aos 93 anos, está na ativa.

Dona Inge, como ficou conhecida, fundou a corretora Omar Camargo, uma das maiores do Paraná, e abriu espaço para toda uma geração de mulheres que nos últimos anos vêm investindo e trabalhando no mercado de capitais brasileiro. Atualmente 25% dos investidores na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) são mulheres. A participação ainda é pequena, mas cresceu dez vezes desde 2002. Naquele ano eram 15 mil investidoras. Hoje, são 146 mil.

"Não existe absolutamente nenhuma diferença entre homens e mulheres nesse trabalho. Eu provei, em uma época em que havia muito preconceito, que somos capazes tanto quanto eles", diz a senhora elegante, com voz firme. Inge fez sua estreia nesse setor em 1960, quando teve que assumir os negócios com a morte do marido, Omar Amorim Camargo, de câncer.

Foram tempos difíceis. Aos 40 anos e com um filho de 12 anos e "sem saber nada de matemática", ela teve que aprender o dia a dia do escritório sozinha. Seu marido havia sido nomeado, em 1953, corretor oficial de fundos públicos – antiga denominação de corretor de títulos e valores mobiliários.

Na época, esse era um cargo hereditário, nomeado pelo governador. Para manter a atribuição dentro da família, Inge tinha que assumir o escritório. Nele, ela também fazia operações de câmbio e divisas (cheques, ordens de pagamento, letras e outros valores mobiliários em moeda forte). Inge conta que trabalhava no escritório de manhã, voltava para casa para cuidar do filho na hora do almoço, retornava para a corretora à tarde e à noite, já na cama, estudava matemática. Rotina que durou os primeiros dois anos.

O respeito do mercado foi conquistado aos poucos. No fim dos anos 1960 ela criou a sua primeira sociedade corretora. Assim, passou a frequentar os pregões diários da Bolsa de Valores do Paraná, como a única operadora do Brasil.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]