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Os planos da Vale de aumentar os preços do minério de ferro na Ásia ainda neste ano estão cada vez mais na contramão do mercado mundial, atento ao risco de uma recessão, afirmam analistas de mercado ouvidos pela Agência Estado. Além do novo cenário que está se desenhando no setor de siderurgia, com retração da demanda mundial e queda dos preços, os especialistas alertam para o agravamento da crise no mercado financeiro, que deve comprometer a capacidade de investimentos das siderúrgicas no longo prazo e, conseqüentemente, a demanda por minério de ferro.

Devido ao desaquecimento que já existe no mercado, grandes siderúrgicas estrangeiras têm se manifestado sobre a possibilidade de cortar produção, indicando que a tarefa da Vale será difícil. A ArcelorMittal, maior siderúrgica do mundo, disse estar preparada para reduzir a produção em até 15%, em alguns casos até mais do que isso, para assegurar que a oferta continuará em linha com a demanda mais fraca.

A maior siderúrgica chinesa em produção, a Baoshan Iron & Steel (Baosteel), disse recentemente que planeja promover mais cortes em seus preços em novembro, além das reduções que ocorrerão em outubro. O presidente da Baosteel, Xu Lejiang, afirmou que a produção de aço bruto pela China provavelmente não irá exceder 500 milhões de toneladas este ano porque a demanda doméstica está fraca e as encomendas estão caindo.

Segundo os especialistas, a tentativa da Vale de obter um reajuste adicional de preço na Ásia ainda em 2008 pode ser apenas uma estratégia para colocar mais pressão no mercado, já de olho no reajuste anual de 2009, começa a ser negociado no final deste ano. "Acredito que ela está aumentando a pressão mais cedo devido à mudança de cenário", disse o analista da Link Investimentos, Leonardo Alves.

Alves acredita ainda que a Vale conseguirá algum reajuste em 2009, mas este não é um consenso no mercado, ao contrário do que ocorria há poucos meses. O economista da RC Consultores, Fábio Silveira, descarta a possibilidade de um novo aumento no ano que vem devido ao arrefecimento do mercado de commodities em geral. A equipe da Banif Securities vai esperar até outubro para rever suas projeções, que são de alta de 20% para 2009.

A forte resistência das siderúrgicas chinesas ao reajuste adicional também indica uma mudança de cenário. No último dia 16, elas chegaram a se reunir para discutir alternativas ao minério da Vale, como forma de boicote ao aumento do preço. Além da disputa comercial, as empresas têm a seu favor o argumento de que os preços do aço estão caindo em várias regiões, especialmente na Ásia.

O preço da bobina a quente na China caiu 11% em setembro em comparação com o pico registrado em julho, passando para US$ 755 por tonelada, segundo a corretora Geração Futuro. No Japão a queda também foi de 11%, enquanto na Rússia os preços para exportação caíram mais de 20%. Ainda é cedo para avaliar se esta queda é apenas uma correção à excessiva alta dos preços ou se a tendência se reverteu, mas a mudança já se refletiu na produção.

O volume de aço produzido pela China em agosto, divulgado na semana passada pelo Instituto Internacional de Ferro e Aço (IISI, na sigla em inglês), somou 42,57 milhões de toneladas, 5% menos que o nível de 44,89 milhões de toneladas de julho. Em comparação com o mesmo mês do ano passado, o volume cresceu 1,3%, mas ainda assim o desempenho é muito inferior ao registrado nos últimos meses. A taxa móvel de crescimento do país, que indica o crescimento acumulado nos 12 meses anteriores, recuou para 8,6%, enquanto o pico, atingido em janeiro de 2006, foi de 26,3%.

Segundo a Banif Securities, os estoques de minério de ferro nos portos chineses são suficientes para 60 dias de produção de aço, quase três vezes acima da média de estoques registrada quando a indústria estava em alta. Apesar do atual momento de correção, os analistas destacam que ainda é cedo para avaliar as perspectivas de oferta e demanda de aço e minério de ferro no longo prazo. O fato de existirem apenas três grandes produtores de minério - Vale, BHP e Rio Tinto - ajudará a manter os preços do material elevados, já que elas têm um controle muito grande sobre a oferta. Embora a siderurgia planeje fazer o mesmo, sua capacidade de organização é menor porque o setor é mais pulverizado.

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