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A julgar pelo que ministros e lobistas têm dito (às vezes é até difícil distinguir quem é quem), é de dar pena a situação das montadoras instaladas no Brasil, recém-agraciadas por uma nova proteção contra as estrangeiras. Mas o noticiário recente e os números da própria Anfavea, que representa a indústria automobilística nacional, contam história um pouco diferente – uma história que o Ministério da Fazenda, sempre tão sensível às lamentações do setor, parece desconhecer.

De janeiro a agosto, os brasileiros compraram 1,84 milhão de carros, caminhões e ônibus fabricados no Brasil, 2% a mais que em igual período de 2010. Aumento tímido, é verdade. Mas é preciso ter em mente que a venda de veículos nacionais sobe sem parar há oito anos. Graças à redução do IPI, nem na crise esse mercado encolheu.

A produção nacional, que dobrou entre 2001 e 2010, avança neste ano a um ritmo de 4%. As contratações não pararam: o número de empregados do setor chegou a 145 mil no mês passado, o maior desde 1986, quando a automatização engatinhava. E os funcionários das montadoras, como sabemos, têm conquistado generosos reajustes salariais, abonos e participações nos lucros. Em alguns casos, os acordos valem pelos próximos dois ou três anos – aqui no Paraná, o pessoal da Renault/Nissan já sabe o que ganhará em 2013 (e não será pouco).

O cenário de investimentos também não parece desastroso. Reportagem da Gazeta do Povo mostrou que oito (sim, oito) montadoras chinesas pretendem produzir no Brasil. E, nas últimas semanas, pelo menos quatro multinacionais – Nissan, Renault, Volkswagen e Peugeot – anunciaram planos para ampliar suas fábricas brasileiras ou construir novas.

É fato que os importados abocanham fatia cada vez maior do mercado local. Mas até nesse segmento as montadoras que já têm fábrica no Brasil saem ganhando: com modelos trazidos sobretudo da Argentina, da Coreia do Sul e do México, elas são responsáveis por cerca de 80% de todas as importações, que de janeiro a agosto somaram 531 mil unidades.

Dito isso, conclui-se que o que realmente incomoda as associadas da Anfavea é o aumento da concorrência – aquele velho fenômeno, detestado por nacionalistas, que dá mais opções ao consumidor, empurra os preços para baixo e, ainda por cima, obriga a indústria nacional a inovar.

Não custa lembrar que, mesmo com a abertura comercial iniciada nos anos 1990, a indústria automobilística brasileira ainda é protegida pelo velho Imposto de Importação, de 35%. Se nem com uma tarifa desse tamanho ela consegue ser competitiva, como alegam seus representantes, é porque o problema vai muito além de uma suposta concorrência desleal.

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