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Há alguns anos, nos EUA, houve um estouro dos programas de pôquer na televisão, em que o público assistia a jogadores profissionais apostando e blefando. Essas atrações logo perderam o interesse. E, se em vez de jogadores profissionais, fizéssemos um programa de tevê com jogadores incompetentes de pôquer – pessoas que desistem quando têm uma mão forte ou que não sabem sair enquanto estão ganhando?

Pensando bem, na verdade, esse programa já existe. São as negociações de orçamento dos EUA, e o segundo episódio já está vindo.

O primeiro foi em 2011, quando o presidente Barack Obama tentou, pela primeira vez, fechar um acordo fiscal a longo prazo – a chamada Grande Barganha – com John Boehner, porta-voz da Câmara. Obama estava com uma mão bem fraca na época, após uma eleição de meio de mandato em que os democratas apanharam feio. De qualquer modo, no entanto, as concessões que ele oferecia eram de tirar o fôlego: Obama estava disposto a aceitar enormes cortes de despesas, para não dizer nada da questão da idade mínima para ser beneficiário do Medicare [programa de saúde nacional para indivíduos acima de 65 anos ou portadores de necessidades especiais], em troca de uma promessa vaga de uma maior receita sem nenhum aumento nos impostos.

Esse acordo, se tivesse sido implementado, teria sido uma vitória enorme para os republicanos, prejudicando profundamente programas caros para os democratas e toda sua ala política. Mas isso não aconteceu – e sabem por quê? Porque Boehner e os membros do seu partido não foram capazes de aceitar nem mesmo um aumento modesto nos impostos. E sua intransigência acabou salvando Obama de si mesmo.

O jogo continua – mas Obama agora tem uma mão forte, já que ele e seu partido tiveram uma vitória sólida nas eleições deste ano. O presidente não tem todas as cartas – há algumas coisas que ele e seus colegas democratas querem, como benefícios estendidos de seguro-desemprego e despesas com infraestrutura, que são coisas que eles não poderão conseguir sem cooperação com os republicanos.

No começo da semana passada, no entanto, os progressistas tiveram a sensação deprimente de que 2011 estava prestes a se repetir, e a administração Obama fez uma oferta de orçamento que, embora fosse melhor do que o acordo desastroso que estavam dispostos a fechar da última vez, ainda envolvia ceder em áreas em que ele havia prometido segurar a barra. Será que estamos prestes a ver outra rodada do presidente negociando consigo mesmo, transformando uma vitória em derrota na última hora?

Bem, provavelmente não. Mais uma vez, os loucos entre os republicanos – pessoas que não são capazes de aceitar a ideia de algum dia votarem a favor de aumentar os impostos sobre os ricos, não importando a realidade fiscal ou econômica – salvaram o dia. Como em 2011, eles estão fazendo um favor a Obama, pondo fim a qualquer tentação de ceder mais em busca do sonho do acordo bipartidário.

E há uma lição maior aqui também. Esta não é a hora certa para uma Grande Barganha, porque o Partido Republicano, tal como está constituído agora, é simplesmente uma entidade com a qual o presidente será incapaz de fazer qualquer acordo sério. Se queremos resolver os problemas da nação – dos quais o déficit orçamentário é uma das menores partes – o poder dos extremistas republicanos e sua disposição em fazer o país de refém se não tiverem o que querem, precisa ser dissipado. E, por algum motivo, eu tenho a impressão de que isso não acontecerá ao longo dos próximos dias.

Tradução: Adriano Scandolara

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