• Carregando...
Mark Zuckerberg, CEO do Facebook | Saul Loeb/AFP
Mark Zuckerberg, CEO do Facebook| Foto: Saul Loeb/AFP

Nos últimos anos, o Facebook deixou de facilitar o fluxo livre de informação para inibi-lo, aumentando a censura e eliminando perfis e páginas. O que começou com a expulsão de Alex Jones no último verão tem aumentado, chegando agora à exclusão de centenas de páginas, todas de natureza política. E, conforme as pessoas começaram a ter consciência dos motivos que a plataforma pode ter para isso, uma coisa ficou mais clara: precisamos de uma maior competição de mercado no âmbito das mídias sociais.

O Facebook parece grande demais para dar errado, mas não é. A não ser que sejam protegidos por um monopólio do governo, todos os produtos e serviços, mesmo os considerados muito poderosos, estão vulneráveis às forças do mercado. Há apenas algumas semanas, a Sears, uma gigante do varejo, anunciou seus planos de pedir falência e fechar 142 lojas de departamento. Também não faz tanto tempo que a Blockbuster, uma parada clássica do entretenimento de fim de semana na década de 1990, anunciou o encerramento de suas atividades. Essas instituições chegaram a controlar o mercado em algum momento, mas ambas se tornaram incapazes de satisfazer seus clientes como faziam antes. E as duas foram inevitavelmente substituídas por serviços melhores, como a Amazon Prime e a Netflix.

>> Fundador da Netflix conta como a Blockbuster riu da cara dele no início

O Facebook pode parecer diferente de outras entidades do mercado tradicional por não vender nada para seus usuários. Mas, assim como a Sears e a Blockbuster, seu sucesso depende de sua capacidade de atrair e manter seus usuários. E, sob a luz das recentes exclusões – e dos problemas de segurança –, é possível que, assim como o Myspace e o Friendster, o Facebook logo não esteja mais entre nós.

A situação

A opinião pública ficou dividida quando o Facebook, o YouTube, o iTunes e então o Twitter anunciaram a exclusão de contas relacionadas a Alex Jones. Por um lado, Jones é conhecido por ter construído sua carreira instigando polêmicas e discórdias na internet e sendo um “troll”, o que o transformou em um personagem pouco simpático para o público americano. Por outro lado, a exclusão dele das plataformas foi preocupante, porque ameaça o futuro da mídia independente. Afinal de contas, se isso aconteceu com Jones, quem será o próximo?

Que fique claro: o Facebook é uma empresa privada e tem permissão de fazer uma curadoria de seu conteúdo como desejar. Porém, não é só porque alguém pode fazer algo que eles deveriam fazê-lo. E com certeza não quer dizer que nós, como usuários da plataforma, não podemos expressar nossa preocupação com a medida.

>> Como Mark Zuckerberg se tornou grande demais para falhar

Conforme o verão foi passando, a mídia independente segurou a respiração para saber como a decisão do caso Jones impactaria suas próprias páginas.

Há algumas semanas, a situação piorou quando o Facebook deu mais um passo e anunciou que deletaria aproximadamente 800 páginas, alegando que elas violavam seus termos de uso. Especificamente, essas páginas foram acusadas de “spam”, ainda que a empresa não tenha definido essa palavra com clareza.

Porém, o fato é que muitas das páginas deletadas eram de direita e libertárias, levando muitos a assumirem que as exclusões tiveram motivações políticas. Considerando acusações anteriores de que o Facebook teria apagado notícias conservadoras, essas afirmações não parecem descabidas, mesmo que Zuckerberg tenha afirmado que o conteúdo das páginas não foi um dos fatores analisados.

Carey Wedler, editor do site Anti-Media, que teve sua página excluída do Facebook, afirmou:

“De acordo com a plataforma, nós fomos suspensos não por nosso conteúdo, mas por ‘spam’ e pela adoção de práticas enganosas. Mas essas são práticas que não adotamos, e outras páginas de grande porte que usam estratégias parecidas com as nossas, como a Occupy Democrats (também conhecida por disseminar fake news), não foram removidas. Curiosamente, em julho, o Facebook nos designou um representante para nos ajudar com nossa página. Eles também nos deram US$ 500 de publicidade gratuita para alavancar nosso conteúdo em setembro, medidas que parecem implicar que eles não tinham problemas com nosso conteúdo ou com nossas práticas”.

Ainda que a proximidade entre as exclusões e as eleições estaduais americanas pareça suspeita, o Facebook sustenta que a decisão de eliminar as contas foi resultado de violações dos termos de uso, sem relação com o conteúdo das páginas. Isso permitiu que Zuckerberg se apoiasse nas suas afirmações de que a plataforma não pratica censura, mas que está apenas reforçando políticas que já estavam presentes nos termos de uso.

Porém, na última semana, a “Liberty Memes”, uma página popular de conteúdo libertário, também foi deletada, aumentando ainda mais as tensões. Ao contrário dos casos anteriores, a Liberty Memes não foi suspensa por não respeitar os termos de uso da plataforma. O Facebook admitiu abertamente que a página foi deletada por causa de seu conteúdo.

Na era digital, é muito provável que em algum momento as pessoas se deparem com conteúdos que consideram ofensivos ou falsos. Embora conteúdos ofensivos possam ser apenas ignorados, idealmente cada indivíduo deveria ser responsável por determinar se a informação à qual são expostos é crível. Mas com a histeria das “fake news” que estamos vivenciando, o Facebook tomou para si a responsabilidade de proteger seus usuários de conteúdos enganosos e ofensivos. E mesmo se essas decisões foram tomadas como uma tentativa de apaziguar os usuários que querem ver pensamentos ofensivos suprimidos, isso pode inevitavelmente voltar para assombrar a empresa.

Os últimos dois anos não foram bons para o Facebook. Além de ser culpada tanto pela exclusão de links conservadores como por ter eleito o conservador Trump, a famosa rede social também ficou conhecida por ter cedido informações sobre seus usuários em mais de uma situação. E, ainda que a decisão tenha sido voluntária, Zuckerberg também teve de prestar depoimentos para o Congresso dos EUA há apenas alguns meses. E, falando de negócios, as ações da empresa caíram 7,5% no último ano.

Na realidade, no último ano, o uso do Facebook tem caído, e 44% dos usuários jovens afirmaram ter apagado o aplicativo de seus celulares. Jovens têm migrado para sites como Snapchat, Instagram, YouTube e Twitter. E, sem os jovens, o Facebook logo se encontrará desesperado por mais usuários.

De acordo com o site INC, “dados recentes mostram que um grande número de usuários mudou sua relação com o Facebook no último ano, logo depois dos escândalos de privacidade e segurança. Com efeitos ainda sendo sentidos mesmo dois meses depois do caso Cambridge Analytica, é pouco provável que a emigração de usuários da plataforma diminua em breve”.

O que isso significa para aqueles que não estão satisfeitos com o comportamento de Zuckerberg e do Facebook? Significa que essa é uma situação propícia para o surgimento de novas plataformas. E nós devemos ativamente buscar substitutos.

Opinar e sair

Escolher com nosso dinheiro é uma das ações mais poderosas que podemos desempenhar como consumidores. Ainda que a entrada no Facebook não seja paga, cada vez que entramos no site e nos engajamos ativamente com outros usuários, estamos escolhendo e apoiando a empresa. E, para muitos de nós, pode parecer que não temos outra opção.

Como escritora, serei a primeira a admitir que pessoalmente preciso do Facebook como uma maneira de compartilhar meu trabalho com os outros. Na realidade, a ideia de que minhas contas possam ser deletadas me enche de inquietação e isolamento. Afinal de contas, se eu não estou no Facebook, como poderei manter minhas conexões com contatos do mundo inteiro? Considerando que muitos usuários hesitam em sair da plataforma, o Facebook tem mantido seu poder como espaço de mídia social. Mas isso pode mudar rapidamente.

Existe uma ideia equivocada de que o processo de mercado é passivo, quando na realidade é o contrário. Para que o mercado funcione, consumidores devem votar cuidadosamente com seu dinheiro para apoiar as marcas e os produtos que preferem. Se uma empresa faz algo com o qual o consumidor não concorda, o consumidor pode decidir fazer negócios com concorrentes ou até, em situações extremas, organizar protestos e boicotes, como vimos recentemente acontecer com a Nike. Consumidores têm um potencial substancial de causar danos financeiros para as empresas, eles só precisam escolher usar esse poder.

Estamos vivendo em uma era de ruptura. Há apenas alguns anos, o potencial da Bitcoin e outras criptomoedas competirem com moedas globais parecia impossível. E, ainda que uma revolução monetária ainda esteja longe de acontecer, criptomoedas já tiveram sua força reconhecida pelo mundo financeiro. Caso alguém tenha alguma dúvida disso, basta olhar como muitos governos e economistas da escola keynesiana temem uma adoção ampla do dinheiro virtual.

Nos primórdios do Bitcoin, existiam poucos usuários, já que a rede ainda estava em sua infância e precisava crescer. Mas nos últimos dois anos, cada vez mais usuários aderiram às criptomoedas, depois de se desiludirem com instituições financeiras centralizadas. A mesma coisa pode acontecer com o Facebook. E falando do mundo das criptomoedas, muitas das plataformas que oferecem alternativas ao Facebook também usam blockchain, uma tecnologia que usa a distribuição dos registros como forma de aumentar a segurança.

Minds, Telegram, Steemit, Mastadon e outras companhias de redes sociais emergentes estão usando blockchain não só para manter seguras as informações privadas dos usuários, mas também para manter a rede descentralizada e evitar o tipo de situação na qual se encontra o Facebook. Mas, para que essas plataformas decolem, elas precisam de novos usuários dispostos a construir uma rede social moderna que já aprendeu com os erros de seus antecessores.

A Sears e a Blockbuster caíram, porque nenhuma foi capaz de se adaptar e crescer com sua base de consumidores. O Facebook foi contra as vontades e necessidades de seus usuários algumas vezes e está apenas começando a encarar as consequências disso.

Como disse Wedler:

“Assim como as pessoas ao longo do espectro político estão fartas com o sistema atual, os usuários de redes sociais também estão frustrados com as grandes plataformas que atualmente dominam o mercado. Nos dois casos, parece não apenas óbvio, mas também vital, que em vez de apenas se tolerarem os paradigmas atuais, as pessoas tomem atitudes tangíveis para que suas preferências sejam conhecidas. A respeito das mídias sociais, se um número suficiente de pessoas se mostrarem insatisfeitas, há um enorme potencial de existir um êxodo para outras plataformas que atendam melhor as demandas e expectativas dos públicos”.

© 2018 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês: Not Too Big to Fail: Why Facebook’s Long Reign May Be Coming to an End

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]