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Em 12 meses, os preços dos alimentos subiram 11,8% | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Em 12 meses, os preços dos alimentos subiram 11,8%| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

O que vai pesar no bolso dos brasileiros

Vários fatores conspiram para empurrar a inflação para cima em 2013. Em primeiro lugar, os preços das commodities, que entraram o ano em alta no mercado internacional, e os alimentos, que registraram reajustes generalizados – nos últimos 12 meses, a alta é de 11,08%. Em segundo, os serviços, que vêm há meses em novos patamares de preços. E em terceiro lugar, os salários, que cresceram acima das estimativas de ganhos de produtividade, em um mercado de trabalho apertado, com desemprego perto das mínimas históricas.

Por último, não há como contar com a valorização cambial para conter a inflação, pelo menos enquanto o governo estiver interessado em manter as exportações. O governo também dá sinais de que não pretende subir a taxa de juros.

Em meio às dúvidas sobre o que vai pesar mais no bolso, o economista Julio Suzuki, diretor de pesquisa do Ipardes, acredita que a redução nas tarifas de energia – de 18% para residências e 32% para as empresas – aliviará apenas parcialmente os efeitos em cadeia do aumento do combustível. "A desoneração na energia não deve compensar o potencial efeito do aumento preço do combustível. O setor de transporte, sozinho, representa 20% do IPCA" diz ele. No fim de janeiro, a gasolina subiu 6,6% e o diesel, 5,4%, nas refinarias.

Para ele, o ganho proporcionado pela queda do preço da energia também será relativo. "No caso das empresas, por exemplo, a tendência é que essa diferença seja incorporada como lucro e não chegue até o preço final dos produtos", acrescenta.

A previsão é que a inflação continue acelerando pelo menos até o fim do semestre. Em janeiro, cinco dos nove grupos que compõem o IPCA registraram aumento: alimentação e bebidas passou de alta de 1,03%, em dezembro, para 1,99%; artigos de residência, de 0,27% para 1,15%; saúde e cuidados pessoais, de 0,40% para 0,73%; despesas pessoais, de 1,60% para 1,55%; e educação, de 0,19% para 0,35%.

Dívidas

Além de corroer o poder de compra das famílias, a inflação também é um problema poque impulsiona a inadimplência e adia a recuperação das famílias que estão endividadas.

A divulgação dos dados de inflação na semana passada colocou lenha na fogueira das preocupações do governo em relação à real capacidade de evitar que o indicador fure o teto da meta em 2013, de 6,5%. Nos últimos doze meses, o índice está em 6,15%. "É desafiador", admitiu o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Nas próximas semanas, o aumento do combustível deve começar a ser repassado para os preços do setor de transporte, o que, além da alta dos alimentos e dos serviços, deve ajudar a puxar para cima o IPCA. A inflação não deve explodir em 2013, mas há motivos para se preocupar com ela, segundo os economistas.

Mesmo com a economia mais devagar e o corte nos preços da energia, janeiro fechou com alta de preços de 0,86%. É o maior nível para o mês desde abril de 2005. O Brasil caminha para o quarto ano consecutivo de inflação perto do teto do regime de metas, de 6,5%. Em 2010 tinha sido de 5,91%, em 2011 bateu o teto de 6,5% e, no ano passado, chegou a 5,8%. Os economistas preveem que o índice deve continuar na casa dos 6% no acumulado em doze meses até o fim do semestre e fechar o ano entre 5,7% e 5,8%. "A inflação incomoda principalmente pela sua resistência e pela dificuldade em combatê-la", diz Fábio Tadeu Araújo, professor de Economia da PUCPR.

No cotidiano das famílias, a inflação mais alta corrói o poder de compra e gera incerteza sobre decisões de consumo. Afeta também os planos de investimentos das empresas, de olho nos custos e na demanda, e complica as negociações salariais. A previsão é de que este ano elas sejam mais duras, com ganhos reais menores. "A inflação persistente próxima do teto da meta como estamos vendo não é algo bom", concorda Alexandre Porsse, professor do departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O Brasil está, na opinião de alguns economistas, trilhando um caminho perigoso ao aliar baixo crescimento com inflação mais alta. Essa aparente contradição tem explicação no mercado de trabalho aquecido, que mantém os níveis de consumo da população, segundo Julio Suzuki, diretor de pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes). "Essa combinação é complicada porque em algum momento haverá algum ajuste. Inflação maior sinaliza instabilidade macroeconômica. É sinal de que alguma coisa está fora do lugar", diz.

O país não vai voltar a ter hiperinflação, que asssombrou a economia brasileira nos anos 1980, mas os economistas acreditam que o governo dá sinais de que passou ser mais conivente com o indicador fora do centro da meta, de 4,5%. "O objetivo claramente deixou de ser o centro. Agora a meta é não romper o teto", diz Porsse.

Para Mariana Oliveira, economista da Tendências Consultoria, a inflação mais alta também é um problema porque impulsiona a inadimplência e adia a recuperação das famílias que estão endividadas.

Governo tem pouca margem de manobra

O governo tem poucas cartas na manga para combater a atual inflação. O aumento da taxa de juros, que ajudou a controlar o reajuste de preços em anos anteriores, teria pouco efeito agora e com o agravante de poder esfriar ainda mais a economia, na opinião do economista Fábio Tadeu Araújo, professor da PUCPR. "Se aumentasse as taxas de juros no ano passado, o governo poderia ter jogado a economia brasileira, que já estava andando de lado, em uma recessão", diz.

Os juros teriam menos efeito, na avaliação do economista, porque o tipo de inflação que o Brasil vive atualmente é puxada pelos serviços e pelos alimentos, segmentos em que os juros têm pouco impacto. "O setor de serviços é imune a juros e não há indicativo sobre o grau de produtividade desse segmento no país. Os juros esfriariam a demanda por bens comprados a prazo e não para serviços". A falta de mão de obra tem puxado para cima salários e preços. "Somente mudanças mais estruturais, de longo prazo, teriam como frear essa alta. Uma delas seria a abertura do mercado de trabalho para estrangeiros. A outra seria investir em qualificação de mão de obra no setor de serviços", opina Araújo. Outra alternativa ainda seria mexer no câmbio, que também teria pouco efeito sobre serviços e, de quebra, poderia trazer prejuízos para a combalida indústria nacional. Por ora, o governo tenta outros meios, como a desoneração. A próxima medida será reduzir os impostos da cesta básica.

O sistema de metas, em vigor desde 1999, estabelece 4,5% de inflação anual com tolerância de dois pontos para mais ou para menos, mas está cada vez mais difícil mantê-lo. Desde a crise de 2008, a inflação sobe rapidamente nos países emergentes – que, menos afetados pela crise, puxaram para cima o desempenho da economia mundial –, sendo um dos principais obstáculos para o avanço dessas economias a médio prazo.

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