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“No ano passado inteiro, 989 estrangeiros participaram de rodadas de negócios e outros eventos do CIN. Neste ano, até setembro, foram quase 3 mil. Nem parece que foi ano de crise.”
Janet Castanha Pacheco, coordenadora do Centro Inter­­nacional de Negócios da Fiep | Hedeson Alves/ Gazeta do Povo
“No ano passado inteiro, 989 estrangeiros participaram de rodadas de negócios e outros eventos do CIN. Neste ano, até setembro, foram quase 3 mil. Nem parece que foi ano de crise.” Janet Castanha Pacheco, coordenadora do Centro Inter­­nacional de Negócios da Fiep| Foto: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo

O Paraná não tem petróleo no pré-sal. Fica a 800 quilômetros da sede da Olimpíada de 2016. E, logo que souberam quanto terão de gastar para atender à Fifa, os dirigentes da capital passaram a tratar a Copa do Mundo com certo desdém. Mesmo assim, não se pode dizer que o estado tenha sido chutado para escanteio pelos investidores internacionais – sinal de que o entusiasmo pelo Brasil não se deve exclusivamente a petróleo ou megaeventos esportivos.

Basta conferir os números listados por Janet Castanha Pacheco, coordenadora do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fiep, a federação das indústrias. Eles demonstram que, se antes o centro se ocupava mais em promover missões de empresários paranaenses para o exterior, agora se concentra nos deveres de anfitrião. Em todo o ano passado, exatos 989 estrangeiros – entre empresários, governantes e diplomatas – desembarcaram no estado para rodadas de negócios e outros eventos do CIN. Em 2009, vieram quase 3 mil apenas até setembro.

"Recebemos representantes da China, Rússia, Índia, Coreia do Sul, Suíça, Dinamarca, Bélgica, Polônia e até Vietnã. O Brasil está muito bem posicionado, muito bem divulgado lá fora", explica Janet. "E o Paraná tem uma gama muito rica de características favoráveis. É grande produtor de alimentos, de energia, tem um relevante polo automotivo, mão de obra qualificada. Até o grande número de descendentes de europeus ajuda."

Bem na fita

Um levantamento da agência Imagem Corporativa, com matérias de 12 publicações estrangeiras, sinaliza como anda a percepção do Brasil lá fora. De 783 reportagens sobre o país publicadas de julho a setembro, 85% tinham teor favorável. Uma em cada cinco pintava o país como destino interessante para investimentos, em especial pela rápida recuperação econômica. E quem mais falou do Brasil foram justamente jornais especializadas em economia: o norte-americano Wall Street Journal publicou 41 matérias (39 favoráveis) e o britânico Financial Times, 35 (34 favoráveis).

"Por várias razões estruturais, estamos num processo contínuo de crescimento, que não depende de Copa, Olimpíada e pré-sal. Até a estruturação populacional nos favorece neste momento. O mercado interno tem muito a ganhar com a crescente faixa produtiva e consumidora da população", avalia Eduardo Pocetti, executivo-chefe da empresa de auditoria BDO.

Nada disso impediu que o investimento estrangeiro direto (IED, aplicado no setor produtivo) caísse quase pela metade neste ano, em razão da crise. Economistas preveem que ele feche 2009 em US$ 25 bilhões, 45% abaixo do recorde de 2008. Mas as expectativas para 2010 vêm melhorando, e já chegam a US$ 33 bilhões.

Além disso, embora a reputação das agências de classificação de risco já tenha sido melhor, o grau de investimento atribuído ao Brasil pelas três maiores – Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s – também atrai dinheiro para cá, a ser aplicado como IED ou no mercado financeiro. Este último, por sinal, havia perdido US$ 800 milhões no acumulado de 2008, mas atraiu US$ 23 bilhões de janeiro a setembro, segundo o BC.

Tanto dólar também traz problemas, lembra Luciano Nakabashi, economista da UFPR. "Esse movimento aprecia o real e prejudica setores que exportam ou competem com importados. É um problema que pode se acentuar no futuro, com a exploração do pré-sal", alerta. "Há maneiras de se controlar isso, como reduzir a taxa de importação sobre máquinas e equipamentos que não temos no mercado interno. Ou mesmo controlar um pouco a entrada de capitais especulativos, o que é polêmico, mas pode funcionar."

Concentração

Espera-se que ao menos uma parte do dinheiro que chegar nos próximos anos seja aplicado em regiões que não tenham nada a ver com pré-sal, Copa e Olimpíada. Caso contrário, há grande risco de uma "hiperconcentração" de benefícios em poucos lugares.

Em matéria publicada pela Gazeta do Povo no fim de 2007, economistas alertavam que, ao dar prioridade às subsedes do mundial de futebol, o governo poderia empurrar para o fim da fila as regiões "sem Copa", geralmente mais pobres e carentes de infraestrutura básica.Esse risco cresceu desde então, com a descoberta do pré-sal, que tende a beneficiar principalmente o eixo Rio-São Paulo, e a confirmação das Olimpíadas na capital fluminense. O próprio estudo que serviu de base à candidatura carioca apontou que, dos US$ 51,1 bilhões que deverão ser movimentados até 2027 em função dos Jogos, 53% se concentrarão no estado do Rio. "Se mesmo as cidades-sede da Copa estão com dificuldades para obter financiamento para obras essenciais, imagine o que sobrará para as demais", diz Jedson de Oliveira, economista da Estação Business School.

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