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A Porto Seguro encontrou vastos lucros com uma área na qual opera praticamente sozinha: o seguro-fiança. A empresa tem 94% desse mercado no país.

Essa modalidade é usada em aluguéis, em substituição ao fiador, e garante ao locatário o recebimento do dinheiro caso o inquilino não pague.

De maio de 2012 a maio de 2013, a empresa teve uma receita de R$ 283 milhões com seguros-fiança com a validade já transcorrida. Seus sinistros -desembolsos para cobrir a inadimplência dos inquilinos- somaram R$ 73 milhões. Ou seja, a sinistralidade foi de apenas 26%. Quanto menor esse valor, maior o lucro da empresa.

Em comparação, a sinistralidade média da Porto Seguro, contando todos os tipos de seguro que a empresa faz, é de 48%. Outras empresas têm sinistralidade média ainda mais alta, como Allianz (60%), Azul (67%), HDI (66%), BTG Seguradora (68%) e SulAmérica (59%). Por esses números, o valor do seguro-fiança, em um mercado competitivo, tenderia a ser menos da metade do cobrado hoje. Em São Paulo, um aluguel de R$ 1.500 significa um seguro-fiança de R$ 2.782 ao ano. O preço anual costuma a ficar entre 1,5 e 2 vezes o valor mensal do aluguel.

Dois fatores ajudaram a Porto Seguro a encontrar esse pote de ouro. O primeiro é que, ao contrário de outros seguros, a concorrência na área de fianças é pequena. No caso de seguros de veículos, por exemplo, o interessado tem total autonomia para fechar com a empresa que quiser, e vários sites oferecem comparação imediata entre os valores oferecidos por várias companhias após cinco ou dez minutos preenchendo um formulário sobre o perfil do cliente. Ao alugar um imóvel, porém, as imobiliárias impedem o interessado de fechar contrato com outra seguradora que não a indicada por elas.

A Porto Seguro conquistou as imobiliárias oferecendo comissões para cada contrato de seguro-fiança fechado. Imobiliárias e corretores de imóveis, interessados nessa comissão, têm assim dificultado a não utilização do seguro-fiança da Porto. No disputado mercado de imóveis do Rio de Janeiro, tornou-se padrão a exigência de dois fiadores com apartamento no Estado, por exemplo. Além disso, as imobiliárias não aceitam mais o adiantamento do aluguel como garantia, ainda que o interessado ofereça valores altos, como um ano de aluguel --a proposta sequer é levada ao proprietário.

A dobradinha entre imobiliárias e Porto Seguro faz com que o preço do seguro seja determinado unilateralmente, tanto no início do contrato quanto na renovação anual.

O segundo motivo que leva o seguro-fiança a ser lucrativo é que ele tem custo relativamente pequeno à seguradora. Imagine que o sujeito tem o seu carro roubado. A seguradora, ao pagar o prejuízo, não terá como buscar ressarcimento perante o ladrão desconhecido. Já no caso da locação, embora a seguradora tenha de desembolsar o valor do aluguel ao dono do imóvel, ela pode procurar ressarcimento posterior perante o locatário inadimplente. Como ele é facilmente localizável, pois a seguradora tem todos os seus dados, o risco é menor.

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