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Depois de 23 anos na mesma empresa, Roberto Lima busca novas oportunidades | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Depois de 23 anos na mesma empresa, Roberto Lima busca novas oportunidades| Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo

Executivo quer novos desafios

Aos 54 anos – vinte e três deles dedicados à mesma empresa –, o economista Roberto Jorge Lima decidiu que era a hora de parar e buscar novos desafios. Ele entrou na Leão Júnior quando a empresa ainda era familiar, acompanhou de perto todo o processo de venda da companhia para Coca-Cola e chegou a trabalhar durante seis anos na multinacional. Depois de um ano preparando a sua saída, o executivo deixou a empresa no final do ano passado para finalmente realizar um projeto pessoal: curtir um verão tranquilamente e se preparar para uma nova experiência no mercado de trabalho."Quando você está envolvido, empenhado com novos desafios e coisas a realizar, nem vê o tempo passar", diz Lima. Ele ainda não sabe o que vai fazer, mas vislumbra algo em que possa dividir um pouco do que aprendeu nos 34 anos de carreira construídos em apenas três empresas, mas com passagem por diversos cargos e áreas. Lima é um exemplo de profissional que, apesar de ter trabalhado em poucas empresas, não se acomodou. Neste caso, a empresa também ofereceu oportunidades para que ele crescesse profissionalmente. "Tenho a consciência que ajudei a construir a história de uma empresa. Hoje estou muito tranquilo e me sinto preparado para voltar ao mercado", afirma o executivo.

Em uma época em que ter um currículo recheado de experiências e passagens por várias empresas é tendência no mercado de trabalho, o profissional que permanece muito tempo em uma mesma companhia tende a ser visto como acomodado. Mas a realidade não é bem assim, dizem os especialistas.

Em geral, o mercado cos­tuma olhar com mais receio para aqueles profissionais que ficaram muito tempo em uma mesma posição dentro da companhia, postura de quem entrou numa zona de conforto e estagnou. É totalmente diferente daquela pessoa que, apesar de trabalhar muito tempo na mesma empresa, buscou novas experiências, mudou de cargo, trocou de setor, se atualizou, adquiriu novas competências e evoluiu como profissional, explica a consultora de carreira Michele Gelinski.

Apesar mobilidade característica do atual mercado de trabalho, a cultura das empresas também ajuda a moldar o perfil dos profissionais. Existem companhias que têm um plano de cargos e salários bem estruturado, com oportunidades claras de crescimento para os seus funcionários, mas há outras em que a mobilidade funcional simplesmente não existe. "O profissional que fica mais de cinco anos no mesmo já acende um sinal de alerta", diz Michele.

Se o profissional percebe que o seu ciclo naquela empresa já terminou e que não há mais com o que contribuir, cabe a ele buscar outras experiências. E é justamente isso que as pessoas têm feito, garante Michele. À frente de uma consultoria de recolocação profissional, ela conta que, nos últimos cinco anos, a procura por esse serviço aumentou 33%. A maioria não está em busca de remuneração maior, mas de novos desafios. Tanto que, de cada 100 profissionais que buscam se recolocar no mercado de trabalho, 80% ainda estão trabalhando.

A movimentação cresceu após a crise de 2008. "Desde então, o mercado evoluiu em busca de mais produtividade e os profissionais precisaram evoluir também. Neste cenário, não há espaço para gente acomodada. Se não buscar novos conhecimentos e competências, acabada ficando fora do mercado".

Ao contrário do que possa parecer, a busca de novos desafios e experiências não afeta exclusivamente os mais jovens. É muito comum que profissionais com até 55 anos ainda estejam à procura de uma empresa na qual eles possam continuar contribuindo, conta Michele.

Perfil oposto

Profissionais que pulam de "galho em galho" são tão mal vistos pelo mercado quanto aqueles que estagnaram em um único cargo. Dois anos é o mínimo que um profissional deveria permanecer em uma empresa. Esse é o tempo necessário para que ele consiga finalizar um ciclo, avalia Michele. Um currículo com passagens por muitas empresas num curto espaço de tempo tende a ser interpretado pelo mercado como um sinal de instabilidade e falta de compromisso. "Esse tipo de profissional não transmite segurança para a empresa. Quem garante que ele vai ficar tempo suficiente para dar a contrapartida que a companhia espera dele", observa a consultora.

A rotatividade é maior entre os profissionais mais qualificados e entre os mais jovens, que precisam constantemente de novos desafios para se manterem motivados. "Se o ambiente não proporciona isso, eles trocam de empresa. Simples assim", diz Michele.

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