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Estava na plenitude da juventude, aos 17 anos. Mar del Plata, na Argentina, era minha primeira grande viagem internacional... Afinal, ir ao Paraguai para trazer muamba não conta, né? Tinha ido a um congresso de estudantes. E, para melhorar o que já era bom, uma argentinazinha linda – Mercedita – estava me dando bola. Convidei-a a dar um passeio na praia. E ela aceitou! "Uau! É hoje! Vamos contribuir para a integração latino-americana", pensei.

Mas aquele passeio seria pior do que aparecer uma espinha enorme na ponta do nariz no dia da festa do colégio. Tudo ia muito bem. Já tinha pego na mão da "chica". Meu problema foi o velho costume de não parar de falar para impressioná-la. Afinal, achava que meu portunhol era de primeira. Lá pelas tantas, vi uma bela conchinha na areia e fiz um comentário despretensioso: "Vocês tienen belas conchas acá". Mercedita ficou toda vermelha. Largou minha mão. Não entendi muito bem mas continuamos andando.

Logo depois, começou a cair uma leve chuva. Era minha chance de impressioná-la para conseguir pegar novamente na mão dela. "Vamos correr. Jo te cubro com mi casaco", disse eu. Aquelas palavras caíram como uma bomba. Ao invés de mão com mão, o resultado foi mão na cara. Na minha cara. Um tapa daqueles de fazer estalo. E adiós, Mercedita. Para sempre. E sem que eu soubesse o que fiz de errado. Tempos depois, descubri. "Concha", em espanhol – como vou dizer – designa de um modo um tanto quanto vulgar o órgão sexual feminino. E "correr" é um termo que, na Argentina, tem a conotação de "fazer sexo". Fiasqueira total o que eu disse, né?

Não menos pior foi minha passagem pelo metrô de Buenos Aires. Estava lá eu, sentado, tranqüilo, quando um senhor pediu para que eu levantasse e desse o lugar para a mulher ao seu lado, que estava embaraçada. Não entendi muito bem. Mas ela era super novinha. Levantar só porque ela estava embaraçada? Eu já tinha dados uma boas pernadas. Estava cansado. Não tive dúvidas e disse: "Ela está embaraçada. Mas jo estou cansado". Todo mundo me olhou torto. Com motivos. Depois de tempos, a ficha caiu. "Embarazada" é mulher grávida.

Viajar a algum país que fala o idioma de Cervantes, como vocês podem ver, é sempre um grande risco. Você acha que sabe espanhol. Mas, como não sabe, tropeça na língua. Mais especificamente em palavrinhas que parecem ser uma coisa mas significam outra.

Por isso, não estranhe se for visitar uma família e o anfitrião lhe pedir para segurar seu saco. Não, ele não é um puxa-saco ou um depravado. Ele só está querendo ser gentil. "Saco", em espanhol, é paletó. E não desconfie daquele transeunte que na estrada lhe indicou um bar quando você pediu onde poderia encontrar um borracheiro. "Borrachera" é bebedeira. Da próxima vez, peça pela gomería. E trate de se matricular em um curso de espanhol.

O Zé Bagagem é um sujeito que adora viajar. E já entrou em muita roubada em suas viagens. Todas as quintas ele estará neste espaço contando suas experiências – meio fantasiosas, diga-se – para dar dicas verdadeiras de como evitar que você pague "mico" em suas férias.

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