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Exatamente um ano após iniciar um processo de alta da taxa básica de juros para segurar a inflação, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou um corte de 0,25 pontos percentuais na Selic, que passa de 19,75% para 19,50% ao ano, dentro das estimativas da maioria dos analistas.

Apesar de modesta - já que o país continua com os maiores juros do mundo - a redução anunciada nesta quarta-feira pode significar o início de um processo continuado de baixa da taxa básica, pois todas as projeções para a inflação no final do ano apontam para o cumprimento da meta ajustada estabelecida pelo BC para 2005, de 5,1%. Além disso, os últimos indicadores de produção - que mostraram fortes baixas, especialmente na indústria - sugerem que não há pressão de demanda e que já é hora de dar impulso à atividade econômica.

O processo de queda, no entanto, deve ser gradual, com o BC mantendo sua contumaz postura conservadora, já que ainda há incertezas em torno da mais grave crise política enfrentada pelo governo desde a posse do presidente Lula, além de dúvidas no mercado global provocadas pelas altas recordes do petróleo e os efeitos do furacão Katrina sobre a economia americana.

A última vez que o BC tinha baixado a Selic foi em abril do ano passado (de 16,25% para 16%). A taxa ficou estável até setembro de 2004, quando começou o processo de alta só interrompido em maio deste ano. Foram nove altas seguidas e a taxa básica passou de 16% para 19,75%, com o BC dando como justificativa a necessidade de conter as pressões inflacionárias, que agora parecem superadas.

Usado como parâmetro do sistema de metas de inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado no ano até agosto é de 3,59% (a menor taxa desde 1998), e o mercado reduziu pela 17ª semana seguida a estimativa do índice para 2005. Na última pesquisa do BC com cem instituições financeiras, a projeção do IPCA para o ano caiu de 5,23% para 5,20%, o prognóstico para 2006 cedeu de 4,85% para 4,80% e a projeção 12 meses à frente recuou de 4,89% para 4,80%.

E mais: a inflação no ano medida pelo IGP-M e pelo IGP-DI até agosto - de 0,74% e 0,33%, respectivamente - acumulou a menor taxa acumulada da história em períodos equivalentes. Os dois índices registraram quatro meses seguidos de deflação.

A maior preocupação quanto à trajetória futura da inflação gira em torno do impacto dos preços dos combustíveis, diante da alta recorde dos preços internacionais do petróleo este ano. Porém, os aumentos da gasolina e do diesel anunciados na semana passada devem provocar um impacto direto de apenas 0,30 ponto no IPCA, sendo 66% disso em setembro e 33% em outubro. E mais: desde o pico de US$ 70,85 alcançado no final de agosto, a cotação do barril de petróleo já recuou quase 10% em Nova York.

Ao mesmo tempo, a atividade industrial apurada no mês de julho pelo IBGE, divulgada na semana passada, contrariou algumas análises que apontavam robustez no setor produtivo e pode ter sido uma sinalização adicional para quebrar a resistência do BC em reduzir a Selic. O resultado do último levantamento mostrou queda de 2,5% da produção industrial física, interrompendo quatro meses consecutivos de expansão.

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