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Recentemente li em um artigo que os sapatos são fabricados há mais de 4 mil anos, embora as fôrmas diferentes dos pés direito e esquerdo tenham sido criadas somente há 200 anos. O texto utilizou o exemplo dos sapatos para ilustrar uma lição: "A criatividade, muitas vezes, consiste em renovar aquilo que já existe." Hoje, portanto, contarei a história de um profissional criativo que, mesmo inspirado por idéias inovadoras, não percebeu a importância de aprimorar conceitos vigentes. Boa leitura!

Márcio é daquelas pessoas capazes de criar, a partir de uma idéia qualquer, um novo produto, serviço ou projeto revolucionário. Sua mente trabalha, constantemente, em busca de idéias inovadoras, diferentes de tudo à sua volta. Na empresa em que iniciou sua vida profissional, Márcio investiu em projetos complexos, que poderiam melhorar a qualidade dos produtos fabricados. Porém, na época jamais conseguiu colocar em prática as idéias concebidas, pois eram muito caras para a realidade da organização. Sua frustração o levou a abandonar a firma para perseguir seus sonhos e alimentar sua criatividade fora dali.

Então, lançou um site de empregos, quando isso ainda era novidade no mercado. A aceitação foi grande no início; contudo, Márcio não teve sucesso na venda de espaços publicitários, levando seu empreendimento a falir por falta de parcerias lucrativas. A próxima idéia, entretanto, lhe pareceu promissora. O empreendedor apostou na venda de sapatos por telefone, criando o serviço que hoje conhecemos como call center. Mas, dessa vez, Márcio não investiu em treinamento, e sua equipe, despreparada para atender o público, apressou a quebra do negócio. Na seqüência, o empresário chegou a pensar num tipo de igreja que pudesse arrecadar o dízimo por meio do pagamento via internet, mas não encontrou apoio da comunidade para a implantação do projeto.

As idéias de Márcio brotavam em sua cabeça com facilidade, e a urgência que sentia em colocá-las em prática lhe perturbava o sono. Decidiu, então, procurar um sócio que pudesse auxiliá-lo na execução de seus planos. A partir daí, investiu em uma pequena fábrica de perfumes associando-se a um executivo experiente. O trabalho mal tinha tido início quando Márcio começou a propor inovações diversas para, segundo ele, diferenciar o produto.

Seu sócio, que não compartilhava de uma mente tão sonhadora, puxando o parceiro para a realidade sugeriu o seguinte: "Em vez de você aparecer com uma nova idéia por dia, traga um pedido de compra. Se você não conseguir um pedido para 10 mil perfumes, tente vender mil unidades. Se este ainda for um número muito grande, invista na venda de, apenas, dez perfumes." E, por fim, fez a Márcio uma última ressalva: "Não quero criatividade, mas praticidade e resultado!"

Após a solicitação do parceiro, Márcio dedicou-se à venda do produto por uma semana, mas não teve um bom retorno. Investiu na tentativa por mais um mês, e continuou não obtendo sucesso. Como não tinha conseguido fazer uma venda sequer, o empresário entrou em estado de depressão. Sua mente, estagnada, não era mais capaz de gerar idéias criativas. A sociedade, por conseqüência, não vingou. Márcio voltou a perseguir seus sonhos grandiosos e inventivos. Seu sócio, em contrapartida, persistiu no negócio e, hoje, é proprietário de uma sólida e bem posicionada empresa de cosméticos. Márcio, por sua vez, passou por muitas dificuldades financeiras e mudou-se da região. Nunca mais se soube dele.

A criatividade é uma qualidade maravilhosa quando canalizada para questões práticas, palpáveis. A maioria das empresas valoriza profissionais criativos e inovadores, mas que possuam a capacidade de adaptar-se a condições adversas e inesperadas, inerentes ao mundo dos negócios. Lembre-se de que aluguel, salários e impostos não são quitados com desejos ou idéias. Portanto, repense boas práticas, que trouxeram resultados no passado. Pois, mesmo antigas, podem ser revitalizadas, recriadas e implementadas. Nem sempre o novo gera bons resultados. É preciso criatividade, também, para aproveitar as sobras de uma refeição e voltar a servi-las com mais tempero, com outra apresentação e com o sabor renovado.

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Em favor da cidadania

Numa atuação conjunta, a Kapersul, a ONG Moradia e Cidadania (mantida por funcionários da Caixa Econômica Federal - CEF) e a Associação Beneficente Dikaion têm proporcionado à comunidade carente de Piraquara (PR) uma alternativa de trabalho e geração de renda. Em virtude da parceria entre as três organizações, disquetes inutilizados pela CEF, antes destruídos e enviados a um aterro industrial, hoje têm seus componentes separados por famílias atendidas pela Dikaion.

Esse material, na seqüência, é vendido pela associação à Kapersul - empresa do ramo de gestão de resíduos industriais e comercialização de papéis -, que o encaminha à reciclagem. As partes não recicladas são usadas por integrantes do projeto para a produção de peças artesanais, como bonecas, bolsas e almofadas. Em quase dois anos, 18 toneladas de disquetes já passaram pelo processo, que, além de gerar uma nova fonte de renda para as famílias, contribui para a preservação ambiental.

Bernt Entschev é presidente do Grupo De Bernt. Empresário com mais de 36 anos de experiência junto a empresas nacionais e internacionais. Fundador e presidente do grupo De Bernt, formado pelas empresas: De Bernt Entschev Human Capital, AIMS International Management Search e RH Center Gestão de Pessoas. Foi presidente da Manasa, empresa paranaense do segmento madeireiro de capital aberto, no período de 1991 a 1992, e executivo da Souza Cruz, no período de 1974 a 1986.

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