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Depois de superar um câncer, Susana sentiu-se encorajada a voltar a estudar e terminar o 1º grau. Ela percebeu, com a cura da doença, que havia muito a concretizar e que, por isso, deveria aproveitar todo o tempo com atividades produtivas.

Ao concluir os estudos, Susana partiu em busca de trabalho. Não tinha em mente uma função específica, mas a certeza de que não importava o cargo, e sim a possibilidade de aprimoramento e crescimento pessoal. Porém, o mercado - tão restrito - não lhe ofereceu muitas oportunidades, sobretudo por ela ter um histórico de doença que, mesmo já eliminada de seu sistema, deixava uma sombra na ficha médica. Por conta disso, Susana optou pela primeira vaga que lhe foi oferecida, de servente em uma empresa do setor de serviços.

Antes de contratá-la, a organização solicitou diversos exames que comprovassem que o câncer havia sido curado. Após essa comprovação clínica, Susana teve a chance de retomar sua dignidade. O serviço era duro e exigia muito de sua forma física, já desgastada pelo tratamento químico. Porém, Susana, que não se deixava abater, jamais ousou reclamar. Em vez disso, mantinha sempre um sorriso estampado no rosto e atitudes positivas. Fazia seu trabalho com tanto gosto, que causava admiração entre os outros profissionais da empresa. Era, às vezes, relembrada por eles nas reuniões motivacionais. Seu exemplo de vida, de luta e perseverança, era difundido pela organização.

E, assim, passaram-se oito anos. Susana tinha planos de finalizar o 2º grau – etapa que, uma vez transposta, lhe renderia um aumento de salário, de acordo com seus superiores. "A vida está caminhando pelos trilhos certos", pensou, pouco antes de começar a sentir fortes dores pelo corpo. O cansaço excessivo e as noites mal dormidas, no entanto, não mudaram seu comportamento no ambiente de trabalho. Somente após ter a confirmação definitiva dos médicos de que o câncer havia retornado, Susana comunicou à empresa seu estado de saúde.

Todos lamentaram muito a notícia, visto que Susana era uma pessoa estimada pela equipe. Rapidamente, a saúde da funcionária piorou. Esta, então, precisou utilizar a licença médica prevista em lei. Foi um período difícil, de exames dolorosos e cirurgia. Mas no exato dia em que previa seu atestado médico, a colaboradora retornou ao trabalho e retomou suas funções com capricho, mesmo sentindo-se fraca e abatida. Seus colegas saudaram-na com entusiasmo e desejaram-lhe pronta melhora, confiantes de que Susana iria se restabelecer em breve.

A surpresa foi enorme quando, certa manhã, a servente não compareceu ao trabalho. Alguns profissionais, temerosos, ligaram para ela, a fim de descobrir se estava tudo bem. Mas a notícia que receberam foi um choque sem igual. Susana havia sido demitida em virtude de sua saúde frágil - que, segundo a visão da empresa, poderia ser custosa a longo prazo.

Indignados, alguns questionaram a postura da organização, que foi boa para Susana enquanto a profissional foi produtiva. Agora, com a previsão de outros atestados e licenças, parecia que ela não era mais tão eficiente assim. Com isso, o clima organizacional se tornou negativo: dia após dia, o desânimo e a falta de motivação foram tomando conta da empresa. A produtividade foi afetada, e isso se refletiu nos resultados econômicos. Susana, em contrapartida, encontrou forças para reagir e buscar um novo emprego.

Hoje, a servente assiste à estabilidade da doença e finaliza o 2º grau. Seu novo gerente, um profissional humano e correto, lhe garantiu uma promoção ao setor administrativo tão logo ela conclua os estudos. A outra empresa, por sua vez, cujos profissionais continuaram com seus afazeres, retomou sua rotina. Hoje, poucos deles recordam o episódio envolvendo a servente, pois estão mergulhados em seus próprios problemas.

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Independentemente das leis formais, que garantem os direitos dos trabalhadores, existem outros valores que muitas vezes são negligenciados por algumas empresas. Esses conceitos, quando presentes, podem não significar um aumento na produtividade e nos números do balanço. Porém, na sua ausência surgem a falta de motivação e a indignação da equipe. Por isso, mais importante do que definir e divulgar os valores morais de uma organização é efetivá-los e fazer com que sejam cumpridos de fato. Vale lembrar que as empresas são feitas de pessoas, com sentimentos, fraquezas, sonhos e esperanças. Assim, espera-se que, sobretudo no momento da doença, as organizações demonstrem humanidade e compreensão para com seus colaboradores. Da mesma forma que é esperado deles o apoio nos tempos de dificuldade econômica ou doença financeira.

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SAIBA MAIS...

Safra Social

A Sara Lee, empresa detentora da marca Café do Ponto, mantém desde 2002 o projeto Qualidade do Café, com o objetivo de melhorar a qualidade dos grãos cultivados por cafeicultores. O projeto começou nas regiões das cidades paulistas de Amparo, Socorro, Monte Alegre do Sul e Serra Negra, onde 40 produtores passaram a ser beneficiados. Com a ajuda de engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas, esses agricultores vêm observando melhorias quanto ao teor de umidade, aspecto e preço para venda do café desde o primeiro ano do projeto, que oferece treinamento e material técnico adequado para que o fruto seja cultivado de forma mais apropriada.

Parte dessa produção é comprada pela Sara Lee, que a partir dela cria combinações com outros grãos. Um desses blends foi elaborado com os frutos premiados por um concurso realizado pela empresa e tem o nome de Safra Social. À venda nas lojas da rede Café do Ponto, ele será uma fonte de renda para a manutenção do próprio projeto.

Bernt Entschev é presidente do Grupo De Bernt. Empresário com mais de 36 anos de experiência junto a empresas nacionais e internacionais. Fundador e presidente do grupo De Bernt, formado pelas empresas: De Bernt Entschev Human Capital, AIMS International Management Search e RH Center Gestão de Pessoas. Foi presidente da Manasa, empresa paranaense do segmento madeireiro de capital aberto, no período de 1991 a 1992, e executivo da Souza Cruz, no período de 1974 a 1986

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