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Fernanda Amorim , da Michael Page, destaca remuneração das empresas nacionais | Divulgação
Fernanda Amorim , da Michael Page, destaca remuneração das empresas nacionais| Foto: Divulgação

Crise freia o aumento do salário extra

Christian Mattos, diretor da consultoria Towers Watson, diz que o pagamento de bônus em 2012 só não será maior por causa da crise internacional. O executivo estima que a remuneração extra deverá ficar entre 3% abaixo e 3% acima do combinado entre executivos e empresas. Ele lembra que o ano começou bem, com um primeiro semestre positivo em termos de resultados, mas a situação se deteriorou no segundo semestre.

Ainda assim, a tendência é o resultado das empresas brasileiras ser menos afetado do que em outros países. Para a média do pagamento de bônus, a crise lá fora atrapalha, sobretudo por causa das multinacionais. Em companhias globais, é comum o pagamento extra estar associado não apenas ao cumprimento de metas nas subsidiárias — além de metas individuais dos executivos e suas equipes —, mas também aos resultados de todo o grupo.

Setores

As diferenças entre os setores aparecem claramente no levantamento da Michael Page. Na contramão do varejo, que deverá pagar de quatro a sete salários a mais para seus gerentes, os executivos do setor de siderurgia, cujos resultados estão em baixa desde o início do ano, poderão ficar sem receber nada além do salário fixo.

Exagero?

Premiação foi tema polêmico após colapso financeiro nos EUA

O pagamento de bônus milionários a executivos ganhou as manchetes na esteira da crise de 2008. Algumas empresas do setor financeiro que quase faliram e foram socorridas com dinheiro público pagaram bônus generosos no início de 2009. Em março daquele ano, a seguradora americana AIG, que recebeu um socorro de US$ 180 bilhões do governo na crise, pagou US$ 165 milhões de adicional a seus executivos, gerando críticas de todos os lados.

No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), xerife do mercado, também atuou para aumentar a transparência das informações sobre a remuneração dos executivos. Em dezembro de 2009, foi editada a Instrução 480, regulamentando o registro das empresas de capital aberto.

Assim, foi criado o Formulário de Referência, documento eletrônico pelo qual as companhias prestam informações públicas — entre elas a remuneração dos administradores e membros do conselho fiscal.

A instrução da CVM foi contestada na Justiça pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), justamente no quesito da informação dos salários. Atualmente, uma liminar da 5ª Vara Federal do Rio de Janeiro permite às empresas não divulgarem a informação. Em nota, a CVM afirma que segue atuando para derrubar a liminar e que "apenas as companhias amparadas pela decisão judicial" não estão obrigadas a fornecer os dados. Mesmo com a contestação judicial, muitas empresas estão divulgando as informações completas.

"Mas no Brasil não houve situações extremas como nos Estados Unidos", destaca Christian Mattos, diretor da consultoria Towers Watson.

Para o executivo, a questão está mais na esfera da governança corporativa. Nesse caso, embora o mercado brasileiro ainda não tenha tradição na divulgação das políticas de remuneração das empresas, algumas empresas estão avançadas em práticas de transparência.

Os executivos brasileiros terão um 2012 de gordos bônus por metas atingidas na maioria dos setores da economia, mesmo com a crise global e a desaceleração do crescimento do país no segundo semestre. A remuneração extra, a ser paga no início do ano, com base nos resultados de 2011, poderá chegar a dez vezes o salário mensal nos setores de mineração e construção civil. No segmento de obras pesadas, um gerente de desenvolvimento de negócios poderá receber R$ 250 mil a mais, no teto das expectativas.

Os setores de mineração (que deverá pagar de quatro a dez salários de bônus) e de construção civil (de dois a dez salários) se destacaram em levantamento da consultoria especializada em recrutamento Michael Page. Os dados são uma estimativa média para cargos de gerência — excluídos diretores e presidentes — e são baseados nas expectativas das companhias em relação aos lucros de 2011. O valor dos bônus varia de acordo com o tamanho das empresas, os resultados apresentados e a cultura de gestão.

Segundo especialistas, no ritmo atual, 2012 deverá manter o patamar dos bônus por metas atingidas, sem repetir o crescimento robusto de 2011, quando os bons resultados de 2010, em muitas empresas acima do previsto, resultaram em premiações vultosas. Em 2011, segundo a consultoria Towers Watson, executivos brasileiros ficaram entre os que mais receberam bônus no mundo, disputando com os americanos. Presidentes de empresas no Brasil receberam remuneração extra equivalente a 72% do salário fixo anual. Nos EUA, a média foi de 80%. Os valores do Brasil estão acima de México (61%), Reino Unido (50%) e Argentina (43%).

Já a remuneração extra de diretores brasileiros foi de 48% do salário anual, superando até mesmo a média americana (45%) e à frente de México (38%), Argentina (37%), Reino Unido (33%), Colômbia (32%), Venezuela (28%) e Chile (27%).

Por causa dos resultados positivos de 2010, na média, as empresas brasileiras pagaram, em 2011, bônus equivalentes a 7% a mais do que o acordado entre companhias e executivos, de acordo com a pesquisa da Towers Watson — que, no Brasil, ouviu 360 empresas, com receita somada de US$ 530 bilhões.

O cenário dos bônus deste ano, referentes às metas de 2010, foi ainda melhor se comparado aos pagos em 2010, referentes a 2009. Como naquele ano as economias ainda estavam em plena recessão ou estagnação por causa de crise de 2008, resultados ruins impediram que as metas fossem atingidas. Na média, os bônus de 2010, referentes a 2009, vieram 8% abaixo do combinado. "Estamos falando de 15% de um ano para o outro", destaca Christian Mattos, diretor da Towers Watson.

A posição de destaque do Brasil, porém, não se deve apenas ao crescimento de faturamento e lucro. A competição para atrair bons profissionais e a agressividade na gestão, principalmente das grandes empresas nacionais, também explicam os bônus elevados.

"Via de regra, executivos que ajudamos a contratar querem trabalhar em multinacionais. Poucos têm a noção que as empresas nacionais tendem a pagar mais bônus", diz Fernanda Amorim, diretora da Michael Page no Rio.

Segundo Mattos, da Towers Watson, os números mostram que as empresas brasileiras têm uma política agressiva de remuneração variável.

"Algumas estrangeiras são agressivas, mas, em termos médios, as grandes companhias brasileiras, algumas multinacionais, puxam para cima os dados sobre pagamento de bônus", afirma Mattos.

Para Christian Pereira, consultor sênior de remuneração da consultoria Mercer, o destaque das empresas brasileiras no uso dos bônus também pode ser relacionado ao fato de os executivos estarem "mais próximos dos resultados" nas companhias nacionais.

"Um alto executivo de uma multinacional brasileira tem mais impacto no resultado global do grupo do que o presidente de uma subsidiária de empresa estrangeira", explica Pereira.

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