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Criados na década de 90, os cursos multidisciplinares – aqueles que unem duas ou mais áreas do conhecimento – têm aumentado a cada ano dentro das universidades brasileiras. Nos últimos cinco anos, segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal Superior (Capes), o número passou de 48 para 135 (87 mestrados, 27 doutorados e 21 mestrados profissionais) em todo o País. "A pós-graduação brasileira começou a reconhecer que, para a resolução dos grandes problemas que afligem o planeta, é necessário adotar cursos com abordagens inter e multidisciplinares. Ou seja, os cursos começaram a refletir a necessidade da sociedade. Nos anos 90, por exemplo, surgiram muitos cursos na área ambiental e percebeu-se a necessidade de unir as Ciências Naturais e as Ciências Sociais", conta o representante da Comissão de Área de Cursos Multidisciplinares da Capes, Carlos Nobre. "O conhecimento multidisciplinar é uma nova maneira de olhar um problema", afirma.

Dos 135 cursos stricto sensu reconhecidos pela Capes, apenas sete - seis mestrados e um doutorado - são ministrados no Paraná. A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) oferece dois mestrados: Gestão Urbana e Tecnologia em Saúde. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) tem a única opção de doutorado, Meio Ambiente e Desenvolvimento, e uma para mestrado, Microbiologia, Parasitologia e Patologia. No Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet–PR), o mestrado multidisciplinar oferecido é o de Tecnologia; na Universidade Estadual de Londrina (UEL), Biotecnologia; e na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ciências Sociais Aplicadas.

Recentemente, a Capes recomendou dois novos cursos para o estado: o mestrado em Organizações e Desenvolvimento da Faculdade Bom Jesus (FBJ) e o mestrado profissional Gestão Ambiental, do Centro Universitário Positivo (Unicenp). Para o engenheiro e diretor do curso Tecnologia em Saúde da PUC-PR, João da Silva Dias, os multidisciplinares foram criados para dar vasão à crescente área de profissionais híbridos, ou seja, daqueles que atuam em mais de uma área. "O curso multidisciplinar é o caminho. Antes se cobrava que um profissional deveria ter uma especialização, hoje há um campo muito grande para os profissionais que conseguem dar respostas em várias áreas de conhecimento", explica Dias. "Um ortopedista, hoje, deve ter conhecimento também de Mecânica e Resistência de Materiais, que são áreas da Engenharia Mecânica", exemplifica. O curso Tecnologia em Saúde – o primeiro programa do Brasil de Informática em Saúde – é desenvolvido em ação conjunta com o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, que engloba cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina e Odontologia) e do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia, com os cursos de Ciência da Computação, Engenharia da Computação, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica e Sistemas de Informação) e, em fase de inclusão, o curso de Administração. Neste ano, dos cerca de 120 inscritos apenas 25 foram aprovados. A avaliação é feita por análise de currículo, além da produção científica, que é um dos requisitos fundamentais.

Gestão das cidades

Outro mestrado oferecido pela PUC-PR é o de Gestão Urbana. Criado em 2003, o curso é destinado a graduados que se interessam em desenvolver trabalhos de pesquisa. A formação do candidato pode ser em áreas que tenham vínculo com a gestão urbana, como: Administração, Arquitetura e Urbanismo, Ciência Política, Comunicação Social, Direito, Economia, Engenharia Ambiental, Engenharia Civil, Filosofia, Geologia, Geografia, Informática, Sistema de Informação, Serviço Social, Sociologia e Turismo. Neste ano, dos 40 candidatos que se inscreveram 25 ingressaram no curso, que conta com professores das áreas de Engenharia Civil, Ambiental e Arquiterra e Urbanismo, Administração, Ciências Sociais e Políticas, Sociologia, Serviço Social e Sistema da Informação. "O curso é aberto a todos os interessados, mas espera-se um maior envolvimento na gestão urbana", conta o diretor do curso Klaus Frey. "Os cursos multidisciplinares, tanto no ensino quanto na pesquisa, devem se interagir para a realização de pesquisas coletivas. Especialmente na questão ambiental, muitos problemas hoje só podem solucionados adotando-se olhares de diferentes áreas do conhecimento", afirma Frey.

Ambos os cursos da PUC-PR têm a duração mínima de dois anos e a média de preço é de R$ 600,00 mensais (em 30 parcelas), mas é possível conseguir bolsa da Capes ou do CNPq.

Não excludentes

Apesar da UFPR oferecer apenas o doutorado multidisciplinar Meio Ambiente e Desenvolvimento e o mestrado Microbiologia, Parasitologia e Patologia, segundo o pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da instituição, Nivaldo Rizzi, já existem outros programas que trabalham a interdisciplinaridades em áreas de concentração e linhas de pesquisas. "Temos o programa de pós-graduação em Engenharia Florestal, por exemplo, que trabalha na área da Conservação da Natureza", diz ele.

Para Rizzi, as áreas de conhecimento são abordadas com uma visão mais abrangente. "Os programas abordam de forma sistêmica, inserindo áreas específicas de conhecimento em outras áreas". A formação tradicional, para o pró-reitor, não exclui a formação multidisciplinar e vice-versa. "As duas formas são importantes. Não são excludentes. Elas se complementam. Um sistema de pós-graduação equilibrado precisa ter os dois enfoques, isto é, o tradicional e o multidisciplinar".

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