• Carregando...

Recentemente soube que um número muito significativo de denúncias registradas nas Delegacias Regionais do Trabalho diz respeito ao assédio moral praticado por empregadores. Em razão disso, optei por retomar o assunto (que já foi tema de outra coluna), ainda na esperança de realmente ver estabelecidos critérios de convivência entre empregado e empregador baseados no respeito e na ética.

Jorge Augusto está desempregado há dois meses. Seu último emprego não foi uma experiência positiva, pois lhe causou problemas psicológicos que baixaram sua auto-estima, aumentaram sua insegurança e aniquilaram suas perspectivas em relação à carreira. Tudo começou há cerca de um ano, quando foi selecionado por uma empresa do setor de alimentos. O posto na organização, de renome, parecia ser o primeiro grande passo para uma trajetória promissora.

Animado com a oportunidade que se abrira diante dele, Jorge Augusto abraçou o grupo, tomando seu trabalho como uma missão. Dedicado, o profissional cumpria todas as funções que lhe destinavam e, com competência acima da média, concluía tarefas além de suas obrigações. Sua postura proativa e dinâmica foi notada pelo gerente do setor, que o promoveu, em pouco tempo, a supervisor de outro departamento. O reconhecimento foi recebido com ânimo pelo colaborador, que passou a estudar mais a fim de apresentar um desempenho ainda melhor.

O relacionamento com os colegas no novo departamento era tão bom quanto na seção anterior. Sua equipe era como uma família de membros muitos unidos, que se ajudavam e interagiam com alegria e respeito. Naquele cenário, apenas uma questão incomodava Jorge Augusto e o fazia esquecer, momentaneamente, seus sonhos profissionais - seu novo gerente, um homem ríspido, de poucas palavras e nenhuma gentileza. Todos os dias, ao chegar à empresa, esse superior questionava as realizações de Jorge Augusto, que, mesmo com explicações na ponta da língua, sempre acabava se desculpando depois de ser acusado de mostrar rendimento insatisfatório.

Até quando o setor de Jorge Augusto foi o melhor no desempenho geral da organização, o gerente não o elogiou nem demonstrou entusiasmo com os resultados. Em contrapartida, reuniu toda a equipe e proferiu um discurso duro, que desmotivou os colaboradores. Ainda fez questão de mencionar que na idade de Jorge Augusto já tinha alcançado a gerência e que as conquistas pífias conseguidas pelo supervisor não eram representativas para a empresa, no seu ponto de vista.

Complementou com a seguinte frase: "Existem três tipos de profissionais: os medíocres, os bons e os surpreendentes. Eles estão divididos por uma linha tênue, que pode ser eliminada pela competência adquirida durante a carreira. Mas você, Jorge Augusto, não possui o perfil de alguém capaz de cruzar as linhas entre a mediocridade e o sucesso."

Após o episódio, Jorge Augusto jamais conseguiu ser o mesmo de antes. Tudo o que finalizava parecia pequeno, sem importância para a empresa e principalmente para seu crescimento pessoal e profissional. Então, aos poucos, sua performance foi esmaecendo, bem como sua garra e força de vontade. Seus diferenciais foram desaparecendo a cada bronca do gerente, que fazia questão de apontar os defeitos dos empregados em público e em voz alta. Assim, a permanência de Jorge Augusto no grupo foi interrompida pelo assédio moral. Mesmo fora da organização, hoje Jorge Augusto ainda sofre os efeitos do terrorismo psicológico imputado por seu ex-chefe.

------------------------------------------

O assédio moral é crime e deve ser banido, definitivamente, de todas as organizações. Não podemos esquecer que toda pessoa, ainda que em posição inferior na hierarquia de uma empresa, merece respeito e dignidade.

Não é aceitável que um empregador faça uso de sua posição para intimidar um profissional, ameaçando-o com a demissão ou impedindo-o de ser promovido, ou que um colaborador seja atingido e destroçado por palavras cruéis e maldosas. Afinal, todos, sem exceção, têm o direito de receber um tratamento ético, livre de vícios e de pressões psicológicas.

Portanto, cabe aos empregadores incentivar o desenvolvimento das habilidades e capacidades de seus subordinados, instruindo-os e motivando-os. Por fim, é fundamental ressaltar: o assédio moral é uma postura nociva não só para aqueles que o sofrem diretamente, e sim para a organização por completo, que deixa de contar com práticas saudáveis e, por conseqüência, de evoluir.

SAIBA MAIS...Família É Tudo

A Roche, indústria farmacêutica, criou em 2003 o programa Família É Tudo. Em função dele, durante 20 sábados, profissionais de saúde ministram aulas sobre saúde materno-infantil para mulheres das comunidades vizinhas às unidades da empresa nos bairros Jaguaré, em São Paulo, e Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

O curso divide-se em dois módulos. O inicial trata do período de gestação, com explanações sobre planejamento familiar, alterações de humor na gravidez, importância do acompanhamento médico nesse estágio, sedentarismo e doenças relacionadas. O outro, de temas referentes ao primeiro ano de vida do neném, incluindo amamentação, desmame, cuidados com a criança, acidentes domésticos e vacinas.

A cada palestra, as participantes recebem um vale correspondente a um item de enxoval de bebê, e com 20 vales elas têm direito a um enxoval completo. No Jaguaré, onde o programa começou, cinco turmas já foram orientadas, somando 150 mulheres atendidas. Jacarepaguá conheceu o projeto em 2004, quando 48 participantes assistiram às palestras, e tem previsão de recebê-lo novamente no final deste ano.

Bernt Entschev é presidente do Grupo De Bernt. Empresário com mais de 36 anos de experiência junto a empresas nacionais e internacionais. Fundador e presidente do grupo De Bernt, formado pelas empresas: De Bernt Entschev Human Capital, AIMS International Management Search e RH Center Gestão de Pessoas. Foi presidente da Manasa, empresa paranaense do segmento madeireiro de capital aberto, no período de 1991 a 1992, e executivo da Souza Cruz, no período de 1974 a 1986

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]