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Pelo segundo ano seguido, a economia real passou longe das projeções dos analistas para os principais números da economia brasileira. Mas em 2005, ao contrário de 2004, a realidade venceu o otimismo que contagiou os economistas. No início do ano, embalados pelo crescimento de 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas geradas no país), os que acompanham a economia brasileira acreditavam que o país cresceria 4,3%. Erraram feio: o Brasil deve ter uma expansão de 2,5% em 2005. Em 2004, acreditava-se num avanço de 3,5% e o país registrou a maior taxa de crescimento em uma década.

Crise política inesperada e juros altos por tempo demais são as explicações para que as expectativas não se confirmassem este ano. Apenas uma das previsões cravou o resultado final: a inflação deve fechar este ano em torno de 5,7%, dentro das previsões feitas no fim de 2004, que variavam de 5,3% a 6%. Mas nem este acerto pode ser comemorado. Os analistas estimaram uma inflação perto da meta do governo para este ano, porém considerando que o dólar seria bem mais alto e os juros menores do que os efetivamente praticados pelo Banco Central (BC).

— Este acerto foi mero acaso. Na verdade, a inflação mostrou resistência muito maior para cair do que o imaginado pelos analistas — disse o economista Caio Prates, do Grupo de Conjuntura do Instituto de Economia da UFRJ, que previra que o país cresceria 4% e a inflação ficaria em 5,8%.

Resistência que teve um custo alto. Com os juros maiores que o BC adotou, o país cresceu bem menos que o previsto.

— Repetimos em 2005 um padrão dos últimos anos que vem desde o governo Fernando Henrique. Crescimento pífio, em torno de 2,7% anuais em média, juros astronômicos e inflação na casa dos 6% — critica o economista Joaquim Elói Cirne de Toledo, professor da USP.

Mesma percepção teve Estêvão Kopschitz, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que projetava alta do PIB de 3,8% este ano. Para ele, o padrão de expansão se manteve o mesmo dos últimos 10, 12 anos, oscilando entre 2,5% e 3%:

— Na verdade, temos que olhar o que não aconteceu. A taxa de investimento não cresceu, a carga tributária continuou subindo. Além disso, superestimamos a potência da política monetária.

PIB maior com juros menores em 2006

Bráulio Borges, economista da LCA Consultores (que previu alta do PIB de 4,1% para 2005), afirma que a mão pesada demais do BC na alta da taxa básica de juros, a Selic, que chegou a 19,75% ao ano entre maio e agosto, provocou o erro nas projeções, fora a crise política.

— A crise jogou para baixo o desejo de investir dos empresários.

Kopschitz lembra que a economia recuou 1,2% entre julho e setembro, exatamente o ápice das denúncias contra o governo.

Se o PIB decepcionou, as contas externas do país deram uma prova de vigor impensável um ano atrás. Mesmo com o dólar baixo — e o real se valorizou graças, sobretudo, aos bons resultados das exportações — o saldo comercial do país vai fechar o ano próximo dos US$ 45 bilhões. São quase US$ 10 bilhões de diferença para a estimativa mais otimista, que era de US$ 34,9 bilhões. E quase dobrou em relação às mais pessimistas de saldo próximo de US$ 24 bilhões.

O primeiro equívoco, na opinião do coordenador de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, foi que ninguém imaginava que o mundo continuasse crescendo no mesmo ritmo de 2004:

— Outro fator que atuou a favor veio do resultado abaixo do esperado do crescimento do PIB. Assim, as importações não cresceram como o esperado e o saldo foi maior.

Borges, da LCA Consultores, explica que os preços das commodities industriais subiram muito.

— Só a Vale do Rio Doce conseguiu um aumento de 70% no minério de ferro. O saldo foi mais sustentado pelo preço do que pela quantidade — disse.

Enquanto tentam explicar os motivos dos erros de 2005, os analistas fazem os cálculos de como será o desempenho da economia no próximo ano. Único acerto dos analistas em 2005, a inflação deve ser o grande trunfo no ano que vem. Os economistas destacam que, pela primeira vez desde o início do regime de metas de inflação, o BC vai iniciar o ano sem a obrigação de reduzir os preços livres da economia. As atuais expectativas do mercado — variável que o BC leva em conta na hora de subir ou baixar os juros — já estão dentro da meta de 4,5% fixada para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, que orienta o sistema de metas) em 2006.

Além disso, a previsão é de que as tarifas públicas não exerçam pressão na inflação, já que os Índices Gerais de Preços (IGPs), usados na correção das tarifas públicas, fecharam 2005 abaixo de 1,5%.

— O desafio do BC será manter estáveis, e não reduzir, os preços livres da economia. Assim, vai ficar muito mais fácil reduzir os juros básicos — diz Caio Prates, da UFRJ.

O economista lembra ainda que, desde o início do Plano Real, em 1994, um ambiente econômico de inflação sob controle e juros em queda, como o previsto pela UFRJ para 2006, foram acompanhados de um forte crescimento do PIB, acima de 4%. A UFRJ prevê ainda que os juros poderão chegar ao fim de 2006 em 14,5%:

— Será o menor nível de juros nominais (ou seja, sem descontar a inflação) que o Brasil já teve.

Recuperação da renda será impulso

Esse caminho para baixo dos juros é um dos motivos para os economistas preverem uma expansão maior do país em 2006. A média de 3,5% é um ponto percentual acima do avanço do PIB este ano.

— A demanda externa continua forte o que se soma à queda de juros prevista. Além disso, a redução da TJLP, taxa de longo prazo dos empréstimos do BNDES, que caiu de 9,75% para 9% ao ano recentemente, também ajudará a elevar os investimento — disse Castelo Branco, da CNI, que prevê alta de 3,3% do PIB no ano que vem.

Guilherme Maia, da Tendências Consultoria, cita o ano eleitoral como um dos motivos para prever alta de 3,4% do PIB. A retomada das obras de infra-estrutura, acredita, vão aquecer a economia. E a recuperação da renda do trabalhador será outro impulso à economia:

— E o dólar não deve se valorizar tanto, mantendo o poder de compra do trabalhador — disse Maia.

Tomás Málaga, economista-chefe do Banco Itaú, está mais pessimista. Prevê a mesma taxa de alta do PIB de 2005 para o ano que vem: 2,5%. Para ele, o efeito da alta de juros ainda não se completou e a recuperação plena da economia só se dará no segundo semestre:

— A taxa de juros real (descontada a inflação) ainda está subindo e vai frear a economia.

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