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Ana Carolina com os filhos Davi e Isabela e a mãe, Shirlei: maternidade a transformou em empreendedora | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Ana Carolina com os filhos Davi e Isabela e a mãe, Shirlei: maternidade a transformou em empreendedora| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

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Para ficar perto das crianças, mulheres trocam de carreira

Embora o afastamento por um período superior ao da licença-maternidade seja considerado normal e até bastante comum no mercado de trabalho, muitas profissionais acabam não retornado à área em que atuavam antes de ter filhos. Para driblar a rotina menos flexível das empresas e ficar perto das "crias", muitas mães estão investindo em uma segunda carreira – o próprio negócio. E sem arrependimento.

Ana Carolina Siloto Silva, de 35 anos, deixou uma carreira de 15 anos na área comercial de logística e uma vida corrida de viagens, compromissos e responsabilidades para cuidar dos filhos. Quando a filha Isabela nasceu, há cinco anos, ela ficou um ano e meio em casa. Nesse período chegou a prestar consultoria na área em que atuava, mas uma boa proposta de uma grande empresa a fez retornar para mercado. Com a chegada do filho Davi, tudo mudou novamente.

"Eu já sabia exatamente o que iria perder. Sabia que cedo ou tarde teria de voltar novamente para dentro do escritório", conta Carol, que trabalhou uma semana após a licença-maternidade, mas acabou pedindo demissão. A decisão foi pensada e repensada junto com o marido, afinal, seu salário representava 50% do orçamento da família. Hoje, depois de muitas pesquisa, leitura e planejamento, Ana Carolina toca, junto com a mãe e a irmã, o ateliê Feito à Mãe, que produz roupas infantis.

"Para mim, a realização pessoal sempre incluiu o lado profissional. Em momento algum me senti incompleta por estar fora da minha área de atuação, mas precisei de um tempo para se adaptar à nova rotina e encontrar outro caminho, que hoje me deixa muito mais feliz", conta Ana Carolina.

Há pouco mais de um ano a executiva americana Marissa Mayer, presidente do Yahoo, virou notícia no mundo corporativo global ao retornar ao trabalho apenas 15 dias após o nascimento do seu primeiro filho. Aos 37 anos, a executiva que deixou o Google para liderar o Yahoo tinha a difícil tarefa de fazer a empresa voltar a crescer e deu prioridade à carreira, uma escolha extremamente difícil para a maioria das profissionais que se tornam mães.

INFOGRÁFICO: Maioria das brasileiras opta por dedicar-se aos filhos, deixando a carreira profissional para depois

Fora do universo dos grandes cargos, no entanto, histórias como a de Marissa estão cada vez mais raras nas empresas. Um levantamento da consultoria Robert Half realizado com 1.775 diretores de Recursos Humanos de 13 países, entre eles 100 brasileiros, mostra que a maioria das profissionais está deixando a carreira para mais tarde para ter mais tempo disponível para os filhos. E muitas nem voltam ao mercado de trabalho.

Em 85% das empresas brasileiras, menos da metade das profissionais retornam ao trabalho logo após o fim da licença-maternidade. Na média global, 52% das companhias enfrentam esse problema, segundo a pesquisa.

Assim como Marissa, do Yahoo, as mulheres que ocupam cargos de gestão dentro das empresas têm mais dificuldades para abrir mão do trabalho e acabam voltando à vida profissional. No Brasil, 63% das companhias relatam que a taxa de retorno dessas profissionais é superior a 50%.

"Para a mulher é mais difícil alcançar um cargo de liderança, e quando o alcança não quer desistir dessa conquista. A questão financeira também é um fator importante, pois essas profissionais têm uma remuneração alta e relevante para o orçamento familiar", ressalta Daniela Ribeiro, gerente sênior das divisões de engenharia e marketing e vendas da Robert Half.

Qualidade de vida

"As executivas já tem uma vida estruturada em função do trabalho. Por isso, conseguem negociar melhor com a família e com a empresa. Voltar ou não é uma questão bem pessoal de prioridades. Essa nova geração de profissionais, por exemplo, preza bastante a qualidade de vida", diz Vera Mattos, diretora de projetos da Lee Hecht Harrison DBM para a Região Sul. A recolocação no mercado, segundo Vera, vai depender muito do histórico profissional da mulher. As empresas estão mais compreensivas e entendem a importância dessa pausa.

As companhias também têm sua parcela de responsabilidade na baixa taxa de retorno das mães. Em apenas 31% das empresas brasileiras as jornadas parciais e os horários mais flexíveis para profissionais que se tornaram mães são comuns ou muito comuns, contra 68% na média global.

Segundo Daniela, da Ro­­bert Half, esse porcentual reflete entraves da legislação brasileira, e um certo conservadorismo das empresas quando se trata de jornada e horário de trabalho.

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