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O Sul não precisa do Norte, resumiu neste domingo o professor Giovanni Arrighi, da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, durante o seminário internacional "Alternativas à globalização, potências emergentes e os novos caminhos da modernidade", promovido pela Unesco (braço das Nações Unidas para educação) sobre economia global e desenvolvimento sustentável.

Para Arrighi, a idéia de que os países ao Sul do Equador dependem dos que estão ao Norte para se desenvolver é um mito criado para sustentar a hegemonia dos EUA sobre o resto do mundo.

A nova ordem mundial, diante da perspectiva de consolidação de economias emergentes como a China, é o principal tema do evento, que reúne 60 palestrantes de diversos países desde sábado e termina na quinta-feira. Eles também discutiram o papel do Estado nas economias capitalistas do mundo globalizado.

China se firma como potência emergente

Para alguns, como Arrighi, o crescimento econômico não pode ser a única medida de sucesso dos países: o Estado tem o papel de promover o desenvolvimento, diminuir a pobreza e aumentar a igualdade social.

Segundo Arrighi, a hegemonia econômica dos EUA acabou. O país hoje depende da poupança mundial, especialmente da China, para financiar 80% do seu elevado déficit público, e das altas tecnologias da Índia e da África do Sul. Arrighi diz que países do Sudeste da Ásia, incluindo a China, têm desempenhado papel crescente de grandes acumuladores de capital e líderes do comércio internacional.

O especialista comparou a queda do poder monolítico dos EUA à decadência da General Motors, que nos últimos anos cedeu espaço para operações de serviços como a da Wal-Mart - grande rede de varejo que articula inúmeros pequenos negócios.

O seminário também marcou a formação da Rede de Colaboração Acadêmica entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Bricas), consideradas potências emergentes. Para participantes como Gao Xian, membro da Academia Chinesa de Ciências Sociais, esses países têm condições de buscar um modelo próprio de desenvolvimento, independente dos EUA e da Europa.

Segundo Xian, a China não está seguindo o modelo de desenvolvimento do Ocidente porque tem uma população muito grande e recursos limitados. Por isso, terá que se preocupar em montar uma "sociedade da frugalidade". Ele acrescentou que a formação de grupos regionais de países, na Ásia, vem possibilitando o crescimento mais acelerado daquela região.

O indiano Manorajan Mohanty, da Universidade de Delhi, disse que a formação de blocos regionais é um processo democrático importante atualmente, porque é também contra-hegemônico. Segundo ele, a globalização teve um custo alto para a Índia, que a exemplo da China está preocupada em melhorar indicadores sociais e de meio ambiente, além de fazer valer os direitos humanos.

Estado com papel desenvolvimentista

Ben Turok, parlamentar da África do Sul, afirmou que o elevado índice de pobreza do seu país ainda é fruto do antigo regime de apartheid. O poder econômico continua concentrado na minoria branca proprietária dos meios de produção, apesar de o governo atual ser formado pela maioria negra (80% da população). Mas a economia está sendo desregulamentada para ampliar o acesso dos negros à renda e ao consumo, formando uma nova camada social, disse.

- A África do Sul tem um sistema capitalista, mas precisa de um Estado desenvolvimentista - acrescentou.

O professor da Universidade de São Paulo (USP) Sedi Hirano, defendeu que potências emergentes como o Brasil discutam o papel do Estado como alavanca do desenvolvimento.

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