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Hélcio é um profissional que atua no ramo industrial e, a cada dia que passa, tem mais dúvidas de qual caminho deve seguir na carreira. Essa crescente indecisão gera sofrimento não somente a ele, mas a todos que vivem ao seu redor e o querem bem. Aos 28 anos, ele atua em uma grande indústria, na área de logística. Hélcio, que trabalha desde os 12 anos, sabe quais são suas maiores qualidades e compreende os motivos de seu sucesso; afinal, durante todo esse tempo ele adquiriu maturidade e racionalidade.

Com uma visão muito prática e simples da vida, ele conseguiu chegar a um patamar promissor dentro de sua empresa e recebeu garantias de promoções futuras. No entanto, outra qualidade sua o faz questionar sua vontade de continuar crescendo na organização em que atua. Seu senso de justiça o põe à prova todo o tempo, pois o ambiente profissional no qual está inserido é repleto de contradições e de pequenas injustiças.

O jovem sempre acreditou que a relação de emprego implicava a troca da força de trabalho por uma determinada quantia de dinheiro no final do mês. No entanto, após refletir um pouco sobre o que de fato acontece em seu dia-a-dia, ele começou a questionar essa dinâmica. Hélcio, hoje, está totalmente descrente em relação ao sistema em que vive. Não acredita mais que as empresas fazem essa troca de dinheiro por trabalho, e sim de submissão por um dinheiro cada vez mais curto.

Ele jamais admitiu ser recriminado com grosseria ou censurado ao discordar de alguma política da empresa. Por isso, ao passar por situações como essas, Hélcio não se calou e confrontou seus superiores, apontando a postura retrógrada e autoritária da organização. Tal atitude, claro, lhe valeu diversos desligamentos, visto que quando um profissional não se adapta à cultura de uma empresa ele logo é afastado.

Em suma: embora tenha um currículo excelente e um perfil comportamental maduro, o jovem é estigmatizado entre as agências de emprego, que o consideram um causador de problemas. Em determinada ocasião, foi chamado para participar de uma seleção e chegou ao final da disputa, concorrendo com apenas mais um candidato. Mas, mesmo tendo o melhor desempenho nas últimas entrevistas e tendo mostrado maior potencial, foi descartado por ter questionado seu supervisor no emprego anterior. Ao ser dispensado, Hélcio soube a razão para tanto: a agência havia checado seu histórico e transmitido o ocorrido à empresa contratante.

Todavia, não teve dificuldade para conseguir uma nova colocação, devido a sua inteligência e rapidez de pensamento. Porém, na empresa atual ele também passa por situações que considera extremamente constrangedoras e desnecessárias, como ser advertido na frente de diversos clientes e funcionários por causa de um atraso de dois minutos. Esse episódio, especificamente, aconteceu dois dias depois de Hélcio ter apresentado um crescimento significativo na produtividade de seu setor, uma lucratividade que havia muito a empresa não conquistava.

Em função disso, hoje ele pensa em fazer uma mudança radical em sua vida: abandonar a carreira de executivo e iniciar um negócio próprio, sem ligação com as culturas organizacionais que não aprova. O jovem sente que não pode mais continuar exercendo sua função na empresa, pois acredita que as organizações querem somente pessoas que adulam chefes e são submissas a qualquer coisa para se manter no mercado. Essa visão adquirida com sua vivência empresarial o faz questionar todos os processos apresentados. Uma das obrigações das quais discorda é a de abandonar a vida pessoal em função do trabalho, a de "dar o sangue pela empresa", mesmo quando esta pode descartar o profissional a qualquer momento, como papel velho.

Hélcio tem medo de ser considerado problemático com tão pouca idade, mas não é capaz de deixar de questionar o que vê. O profissional diz a seus colegas que seria melhor se não enxergasse a situação do mercado de trabalho dessa forma, mas não consegue evitar. Ele sempre repete: "Acredito que as pessoas são mais do que escravos remunerados. Acho que o grande mal da sociedade atual é o fato de as pessoas não questionarem as coisas. A cada dia que passa, mais gente está tendo doenças muito mais cedo, cometendo mais erros em função do medo de enfrentar os problemas, se afastando da família e, no final, sendo jogada de lado por aqueles que deveriam oferecer apoio." Desse modo, Hélcio se distancia cada vez mais de sua equipe e de seu futuro na organização. Porém, no seu íntimo, sabe que está gradativamente mais próximo da felicidade.

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Empresas são criadas e dirigidas por pessoas, por seres humanos com qualidades e defeitos. Portanto, não é possível pensar em uma organização perfeita, sem falhas nem problemas. Mas como a sociedade repensa seus atos e conceitos e evolui com o passar do tempo, é plausível esperar que as empresas passem, também, por semelhante processo. Cabe aos profissionais mais críticos e questionadores auxiliar as organizações a caminhar em direção ao futuro. Por meio de debates, análises e revisões de conduta, um profissional pode mostrar a seus superiores que a cultura deles deve ser ajustada aos novos tempos. Por fim, se a organização não demonstra vontade de modificar sua estrutura e se voltar para o capital humano, o profissional tem sempre a alternativa de procurar um novo rumo. Seja em outra empresa ou montando o próprio negócio, é preciso admitir que sempre haverá questões a serem discutidas e revistas. O que é inadmissível é aceitá-las sem questionamentos e discussões abertas.

SAIBA MAIS...

Curso pet

Desde junho de 2005, a Pet Society mantém na cidade de São Paulo um projeto de capacitação que até o momento beneficiou oito jovens. Voltado para moças e rapazes entre 18 e 21 anos, com renda familiar de até três salários mínimos, o programa arca com os custos de um curso de banho, tosa e embelezamento animal (cujo valor é de R$ 700 para o público). As despesas com o transporte para o acompanhamento das aulas – as quais ocorrem quatro vezes por semana, durante um mês – também são cobertas. Formados, os jovens passam a ter sua disponibilidade profissional divulgada pelo projeto entre pet shops e clínicas veterinárias.

Dos jovens que participaram do programa, duas moças já estão trabalhando na área. Em paralelo à formação profissionalizante, uma vez por semana os alunos participam de treinamentos com a assistente social da Pet Society, nos quais, durante uma hora, têm acesso a informações sobre boas maneiras, postura profissional, atendimento ao cliente e elaboração do currículo.

Bernt Entschev é presidente do Grupo De Bernt. Empresário com mais de 36 anos de experiência junto a empresas nacionais e internacionais. Fundador e presidente do grupo De Bernt, formado pelas empresas: De Bernt Entschev Human Capital, AIMS International Management Search e RH Center Gestão de Pessoas. Foi presidente da Manasa, empresa paranaense do segmento madeireiro de capital aberto, no período de 1991 a 1992, e executivo da Souza Cruz, no período de 1974 a 1986

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