Quando tudo está bem, redobre a vigilância

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Os negócios andam bem, seus produtos são campeões de vendas e os clientes fiéis comparecem religiosamente nas lojas. Sua equipe está afinada, unida e trabalha com entusiasmo. A empresa funciona que é um relógio, você se sente no melhor dos mundos, a vida empresarial navega em céu de brigadeiro e você, satisfeito, pensa que agora pode se dar ao prazer de curtir merecidas férias, relaxar um pouco: uma viagem de uns três meses, tipo volta-ao-mundo, se afastar temporariamente dos negócios ou até se dar ao direito de chegar mais tarde ao expediente. Acredita que por ter construído uma boa equipe, ela sozinha tocará a empresa.

O pensamento é natural: "Por que se preocupar com o andamento dos negócios se tudo está fluindo tão bem?". Não quero estragar seu desejo do merecido repouso, mas a experiência nos diz que são nestes momentos, quando tudo está na mais perfeita ordem, é que aparecem os maiores perigos. A prudência nos avisa que a Deusa da Sorte gosta de nos pregar peças aparecendo quando a gente menos espera para nos pegar desprevenidos. O Duda Mendonça não acreditou e foi fragado no lugar errado, no momento errado: numa ilegal rinha de briga de galos na hora em que o seu cliente mais precisava dele.

Ninguém está propondo tirá-lo do merecido repouso, mas alertá-lo de que é exatamente nas horas boas é que é preciso aprender "a dormir com um olho aberto e o outro fechado" e adotar a máxima dos escoteiros: "estar sempre alerta".

No mundo empresarial, relaxar um pouco, pode ser fatal. Vejamos o que pode acontecer aos seus negócios enquanto você descuida da marcação: coreanos ou chineses podem aportar na área e oferecer mercadorias mais baratas do que as suas, uma grande multinacional do setor entra no país e ambiciona justamente o seu melhor segmento de mercado. Vendedores do seu principal concorrente podem estar, justamente agora, se mexendo para tomar conta de algumas das suas posições comerciais mal defendidas. O seu principal executivo pode estar recebendo propostas tentadoras de outra empresa e você só vai ficar sabendo na hora do divórcio. Novidades da eletrônica e da tecnologia, que você não gosta de acompanhar podem estar lhe preparando surpresas desagradáveis. E para finalizar, alguns daqueles clientes que vêm sofrendo calados, arbitrariedades por parte do seu pessoal de vendas ou de finanças e, que estavam só esperando a oportunidade para dar o troco, resolveram fazer isso agora.

Vivemos momento de estranho paradoxo; ao mesmo tempo em que se prega a busca pela qualidade de vida, estimula-se um espírito combativo de gladiador de arena romana. E este caminhar pelo mercado em estado de eterna vigilância cobra pesados tributos à nossa saúde fazendo-nos esquecer que o trabalho é um meio de vida e não de morte.

A era da competitividade comercial trouxe consigo a necessidade de se matar vários leões por dia. E um dos atributos do caçador é a extrema cautela. Acredito que quando você quis ser empresário e a entrar no mundo dos negócios, nem desconfiava que a palavra negócio, na sua raiz, quer dizer: "a negação do ócio".

Eloi Zanetti é escritor, palestrante, consultor em Marketing e Comunicação

eloizanetti@terra.com.br .