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O desinteresse dos estudantes pela escola é o principal responsável pela evasão escolar na faixa etária entre 15 e 17 anos. Alvo da nova fase do Bolsa Família, os jovens não consideram as escolas atraentes, segundo a pesquisa "Equidade, eficiência e educação: motivações e metas", divulgada pela Fundação Getúlio Vargas. Entre os que estão fora da escola, 45,1% afirmam que deixaram as salas de aula porque não quiseram mais estudar.

Nessa mesma faixa etária, 23% abandonaram os estudos para, de alguma forma, gerar renda para a família. E 10,9% por dificuldade de acesso aos colégios. Há 10,7 milhões de adolescentes entre 15 e 17 anos no Brasil. Desse total, 18% estão fora da escola.

- O número de jovens que não fazem nada tem crescido. O jovem quer internet. E deixam uma mensagem bem clara: "essa escola que está aí não me interessa" — disse o economista Marcelo Néri, coordenador do estudo, que defende a inclusão digital como principal instrumento para atrair o aluno.

Mesmo assim, o jovem brasileiro está largando a escola, e não é porque precisa trabalhar ou ajudar a família, não. Para muitos, falta motivação.

- Se não revolucionarmos a capacidade de atrair o jovem, nada vai mudar esse quadro. O número de jovens que não fazem nada está crescendo no país - afirmou o economista Marcelo Neri, coordenador da pesquisa, divulgada nesta terça-feira.

O estudo, feito com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2005 (Pnad), cria ainda um novo índice: o de permanência no ambiente escolar, calculado com base no número médio de horas passadas nos colégios, na freqüência e no índice de matrícula. O novo cálculo mostra que o Rio de Janeiro — campeão no quesito índice de matrícula (88%, entre 15 e 17 anos) — cai para terceiro lugar, quando entram na conta os outros fatores. O estado está em sexto lugar no número de horas médias de jornada por aluno (4,22) e também em sexto no percentual de aulas assistidas pelos que freqüentam a escola (96%).

Estudo é requisito

Jeito de menino, preocupações de adulto. Marcus Vinícius de Oliveira, de 16 anos, sabe que quanto mais tempo de estudo, maiores as chances no futuro.

- Hoje em dia para trabalhar na limpeza urbana você precisa do segundo grau. Imagina eu sem o estudo.

Marcus estuda em um colégio estadual do Rio de Janeiro, o estado do país com maior percentual de crianças e jovens entre 0 e 17 anos matriculados: 79,8% .

Mas é no Distrito Federal que os alunos passam mais tempo dentro da escola: 79% dos jovens ficam mais de quatro horas no colégio. E faz diferença. Foram os alunos que tiveram as melhores notas no exame que avalia o ensino médio.

O desempenho de São Paulo é o pior entre os estados da região Sudeste, no quesito índice de presença, na faixa de alunos entre 15 e 17 anos: é o 20º colocado (95,3% das aulas assistidas, 4,7% não assistidas). O Maranhão é o último colocado. A situação melhora para o estado, quando o indicador é associado ao índice de matrícula e à jornada média. Com isso, São Paulo fica em segundo lugar no índice de permanência, com 72%. A média nacional é de 61%.

Também com base nos dados do IBGE de 2005, a pesquisa mostra que os salários dos universitários são 540% superiores aos dos analfabetos e a chance de ocupação e 308% maior. O salário-médio de um aposentado, que é de pouco mais de R$ 320, pula para R$ 3.041,10 quando o empregado tem pós-graduação.

A pesquisa aponta até a influência da educação nas condições de saúde da população. De acordo com Marcelo Néri, 95% das melhoras identificadas na Saúde, observadas diante da comparação entre um analfabeto e um universitário, se dão pelo efeito direto da educação, e não pelo aumento da renda. Isso porque a instrução aumenta o grau de informação sobre a saúde.

A necessidade de trabalhar para ajudar a família não é a principal causa de abandono da escola. A pesquisa mostrou que esse é o motivo para apenas 4% dos jovens entre 15 e 17 anos. Oito por cento deles, o dobro, não estudam por falta de motivação, porque não querem ir à escola.

- Principal lição é que ele não freqüenta a escola porque ele não gosta dessa escola, ele não quer essa escola tal como ela se apresenta. Então, é preciso fazer políticas de atração do jovem à escola - diz Neri.

O pesquisador acha que é preciso convencer os jovens de que a escola é a melhor oportunidade para conseguir um emprego e ter salários mais altos.

- Quando o jovem passa do ensino médio para o ensino superior a taxa de empregabilidade sobe de 68% para 78%. Ele tem um aumento de quase R$ 1.000 de salário, passa de R$ 700 para R$ 1.700 - completa.

O estímulo também deve vir de casa. Jéssica Duarte, de 16 anos, é a prova isso.

- Como meu pai não teve oportunidades na vida, ele quis que eu tivesse um ensino melhor. Ele preferiu que eu optasse pelo estudo e não pelo trabalho agora que está cedo. Ele sempre fala que em primeiro lugar sempre vem o estudo, sempre.

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