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São Paulo (AE) – Se os números das pesquisas mais recentes mostram um provável resultado apertado no referendo de hoje, em algumas famílias essa divisão está presente desde o início do debate. Pessoas com afinidades políticas ou que compartilham gostos e tendências tomam rumos diferentes quando o assunto é a proibição do comércio de armas e munição. Reproduzem em casa o que será visto hoje, em todo o país.

A decoradora gaúcha Ana Clara Warth está decidida a votar pela proibição. O que motiva sua escolha é uma questão de princípios. "Cresci em fazenda, meu pai tinha arma e isso nunca me agradou. Apesar de a pergunta ser confusa e o debate, malfeito, a iniciativa é válida", explicou, durante o almoço de sexta-feira (21), num restaurante da zona sul da capital paulista.

Opinião semelhante tem outra mãe, Bernadete Apare-cida Nunes Scaloni, ex-funcionária pública que, em 20 anos, presenciou sete assaltos. Em um dos casos, um ladrão foi morto pelos seguranças. "E não foi só isso: vi dois amigos perderem os filhos porque havia uma arma em casa. É uma dor muito dura, não se compara a nada nesse mundo", contou.

Os filhos dessas duas mães, porém, vão apertar botões diferentes na urna eletrônica. Na casa de Bernadete, em Cotia, Grande São Paulo, o trauma de dois assaltos em quatro anos fez os três filhos e o genro decidirem pelo "não". O filho mais velho de Ana Clara, cuja namorada foi assaltada cinco vezes, também é contra a proibição. E o mais novo vai anular o voto. No caso de Ana Clara, o que provoca a decisão contrária dos filhos é a descrença com relação à capacidade do Estado de garantir a segurança do cidadão.

Na primeira vez que invadiram a casa de Bernadete, em 1996, a filha mais velha, Aline, tinha 12 anos. Ficou cinco horas em poder dos bandidos. Eles levaram tudo, incluindo duas armas de fogo, herança de família. "O bandido vai continuar com arma. Meu marido quer ter porte e a gente sabe onde conseguir uma por 300 contos", conta Aline, hoje com 22 anos e mãe de duas filhas. No assalto seguinte, em fevereiro de 2000, foi a vez de Bernadete e os outros dois filhos, André e Anderson, serem feitos reféns. Mais uma vez, viram tudo ir embora com os bandidos.

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