• Carregando...
O sapateiro Noel Jardim de Almeida, 50 anos, está no mercado desde 1984 | Marcelo Andrade / Gazeta do Povo
O sapateiro Noel Jardim de Almeida, 50 anos, está no mercado desde 1984| Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo

R$ 12 mil para a sapataria "dos Almeida"

O sapateiro Noel Jardim de Almeida, 50 anos, está no mercado desde 1984 e precisava de uma ajuda extra para alavancar o estabelecimento. "Nós precisávamos dar uma fortalecida na sapataria, que teve de mudar de endereço às pressas, e que é hoje o ganha-pão da família", conta. Ele é sócio de dois irmãos e emprega três sobrinhos. Os R$ 12 mil contratados com o Banco do Brasil há alguns meses serviram para a compra de novos equipamentos, materiais e da reforma da vitrine e do balcão do novo endereço – não tão novo, já que eles nunca saíram da mesma quadra no Centro de Curitiba. "Já pegamos outros empréstimos para equipamento antes, mas é difícil porque eles exigem a nota fiscal completa da máquina, e no nosso caso sempre é preciso mexer no equipamento, adaptá-lo. Esse crédito do Banco do Brasil não exige nota fiscal e vem de uma vez só, o que ajuda muito". O empréstimo será pago em 24 meses e pode ser apenas o primeiro, já que os sobrinhos de Noel, na faixa dos 20 anos de idade, pretendem continuar com a sapataria "dos Almeida".

Dinheiro para impulsionar a carreira

João Augusto de Aguiar, 28 anos, trabalha há 10 anos na área de consultoria de software, prestando serviços a empresas, mas precisava de "uma mãozinha" para dar um salto no seu negócio. "Minha experiência era basicamente com processos nacionais, mas o mercado de infraestrutura em tecnologia tem demandado o uso de softwares internacionais também. Minha barreira, nesse caso, é o conhecimento em inglês." João estava se programando para avançar no estudo da língua aos poucos, em dezembro, quando sua gerente do Banco do Brasil falou sobre o Crescer. "Em um primeiro momento disse não, mas quando ela falou no valor [até R$ 15 mil], que era justamente o que precisava, me interessei." No próximo mês, João parte para um intercâmbio de dois meses nos Estados Unidos. Na volta participará do primeiro curso sobre um software alemão. "Minha intenção é trabalhar na nova área a partir de agosto e ter o retorno do investimento no início do ano que vem. O crédito não vai custear só os meus estudos, mas também o meu tempo fora e sem atividade produtiva." O empréstimo será pago em 48 meses.

Roupas, amigas e uma renda extra

O negócio de Josilene Teodoro Silvério, 38 anos, não é nem restrito, como a sapataria de Noel, nem tecnológico, como o serviço de João Augusto (citados nos quadros acima). Vendedora de roupas de porta em porta desde julho do ano passado, ela já tinha trabalhado em comércio, mas em funções operacionais, como caixa. "Nem imaginava que teria talento para vender roupas, mas vendo como tantas pessoas conseguem conquistar um espaço e com o meu marido tendo uma renda fixa, com carteira assinada, resolvi tentar. Comprei um primeiro lote de mercadorias e, chamando minha irmã e amigas, consegui vender tudo em duas semanas. Foi aí que vi que podia dar certo". Hoje, Josilene tira, em um "mês bom", cerca de R$ 5 mil. Ela pretende ter uma loja própria ainda neste ano. Antes, fará um empréstimo de R$ 5 mil, para aumentar o volume de mercadorias.

Sobre a oportunidade

Confira as principais respostas para as dúvidas relacionadas ao microcrédito barato do programa Crescer

• Quem pode participar?

Empreendedores informais (pessoas físicas), empreendedores individuais e microempresas (pessoas jurídicas) com faturamento de até R$ 120 mil anuais.

• Quanto pode ser emprestado e para que finalidades?

De R$ 300 a R$ 15 mil. O dinheiro não pode ser usado para o pagamento de dívidas ou outras finalidades não relacionadas ao negócio em si.

• Em quanto tempo poderei pagar?

O prazo depende do tipo de empreendimento e da instituição financeira, mas, em média, vão variar entre 4 e 6 meses para capital de giro e entre 12 e 24 meses para investimento.

• Quanto pagarei de juros?

0,64% ao mês, ou 8% ao ano.

• Há outros encargos?

Sim. Há a Taxa de Abertura de Crédito (TAC), de 1% do valor do emprestado – ou seja, no máximo R$ 150.

• Precisarei dar garantias?

Sim. Durante a visita, o agente de microcrédito poderá avaliar suas condições de renda e capacidade de endividamento. Além disso, você precisará de um avalista, que não seja parente de 1.º grau, como cônjuge, pai, mãe ou irmão.

Fontes: CEF e BB.

  • João Augusto de Aguiar, 28 anos, trabalha há 10 anos na área de consultoria de software
  • O negócio de Josilene Teodoro Silvério, 38 anos, não é nem restrito, como a sapataria de Noel, nem tecnológico, como o serviço de João Augusto

Daqui até o fim de 2012, os pequenos empreendedores do Paraná, formalizados ou não, têm R$ 345 milhões disponíveis para investir em qualificação, expansão de estoque ou reforma do estabelecimento. São R$ 80 milhões do Banco do Brasil e R$ 265 milhões da Caixa Econômica Federal, montantes que fazem parte do programa federal Crescer – ou Microcrédito Produtivo Orientado (MPO) –, lançado pela presidente Dilma Rousseff, em agosto de 2011, com uma gama bem mais atraente de condições que a praticada anteriormente nessas instituições estatais. Na prática, os empréstimos de R$ 300 a R$ 15 mil tiveram os juros reduzidos de até 60% para 8% ao ano e fizeram o mercado inverter sua dinâmica tradicional, com os agentes batendo à porta dos potenciais clientes, e não ao contrário.

Segundo a Caixa e o BB, o programa representou uma injeção gigantesca nesta modalidade de crédito – graças a aportes do Tesouro Nacional – e tem entregado todos os resultados esperados: inadimplência zero e um bom número de novos clientes, que passam a ter, pela primeira vez, uma conta em banco. Na Caixa, o volume anterior emprestado todos os anos via microcrédito era de R$ 1 milhão. Só de janeiro a março deste ano, no entanto, um montante quase seis vezes maior – R$ 6,7 milhões – saiu dos cofres do banco.

Do início do programa até agora, em todo o Paraná e contanto as duas instituições, os números são ainda mais surpreendentes: R$ 26 milhões foram contratados por 4,1 mil paranaenses – a maior parte, ainda que por uma margem mínima, de mulheres. "O grande mérito do MPO é que ele propõe uma inversão da dinâmica do crédito tradicional, em que o cliente bate à porta do banco. Nossa missão é buscar os empreendedores nos bairros e orientá-los pessoalmente na tomada do empréstimo, dentro da sua necessidade e capacidade de pagamento", explica o gerente de Desenvolvimento Sustentável da superintendência estadual do Banco do Brasil, Márcio Alexandre Rockenbach. Ele admite que uma demanda inversa, de pessoas que escutam a novidade de vizinhos, amigos ou mesmo em alguma agência, também está chegando. "Ainda assim, o empréstimo não é concedido sem uma visita e uma avaliação e orientação in loco do cliente", reforça o gerente de Programas Sociais da superintendência regional da Caixa, Marcos Fernando Almeida.

Além dos juros, o único encargo que incide sobre os empréstimos é uma taxa de administração de 1% do valor do contrato. Com essas condições facilitadas, a expectativa do governo federal é de alcançar uma carteira de R$ 3 bilhões até 2013 em todo o país, dividida não só entre Banco do Brasil e Caixa, mas também entre o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e o Banco da Amazônia (Basa). Em 2011, o volume anual operado por essas quatro instituições foi três vezes menor, de R$ 654,5 milhões.

Caixa atua com "batalhão" de jovens

Na busca por pessoas que possam estar interessadas no seu programa de microcrédito, a Caixa Econômica Federal atua com um "exército" de jovens oriundos do programa Jovem Aprendiz, com idades entre 18 a 22 anos. Na maioria das vezes, eles estão cursando ou já concluíram o ensino médio. "Em alguns casos, temos até alguns que já ingressaram na universidade", diz o gerente de Programas Sociais da superintendência regional da instituição, Marcos Fernando Almeida. Ele explica que os jovens vêm de instituições parceiras que trabalham com o Jovem Aprendiz e geralmente representam um salto social grande em suas famílias. "Quase sempre, esses jovens passam a ter a maior renda da família. Ganham pouco mais de R$ 900 por quatro dias semanais, com jornada de seis horas de trabalho. E ganham uma experiência rica e valorizada para ingressar no mercado". O contrato pelo Jovem Aprendiz é de no máximo dois anos. "Mas volta e meia recebo ligações de clientes e pessoas que conheceram de perto o trabalho desses jovens, perguntando quando o contrato deles acaba e oferecendo uma chance de trabalho."

A jovem Suellen Thaís dos Anjos Lins, de 20 anos, é um dos 60 agentes de microcrédito de Curitiba e região da Caixa. Ela chegou no programa por meio da Associação Beneficente Curitibana ABC Vida. "Terminei o ensino médio e, provavelmente, vou seguir a carreira administrativa, tentar a faculdade em breve". É por meio do relacionamento com a família, os amigos e a comunidade que os agentes chegam até os potenciais clientes. "Também recebemos a demanda que chega às agências", diz Suellen.

Banco do Brasil

No caso do BB, os agentes são funcionários próprios. "Ao menos um foi treinado em cada uma das 300 agências da instituição no estado", informa o gerente de Desenvolvimento Sustentável da superintendência estadual do BB, Márcio Alexandre Rockenbach.

RequerimentoAvalista precisa ter 28% da renda equivalente à parcela do empréstimo

Dentro do Microcrédito Produtivo Orientado (MPO), nem Caixa nem Banco do Brasil exigem que a receita e outras características do tomador do empréstimo sejam formalizadas. O avalista do contrato, no entanto, precisa documentar tudo. "Essa pessoa que servirá de garantia para o contrato não pode ser parente de primeiro grau, como marido, esposa, pai, mãe ou irmão. Precisa também comprovar que, no mínimo, 28% de sua renda mensal equivale ao valor da parcela do contrato", informa o gerente de Programas Sociais da superintendência regional da Caixa, Marcos Fernando de Almeida. Ele explica que as informações exigidas do tomador são aquelas contidas no formulário de cinco páginas que o agente de microcrédito leva na visita. "É o agente que vai perguntar sobre receita e despesas e ter a noção da organização desse pequeno empreendedor. Ele não precisará comprovar nada documentalmente."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]