• Carregando...
Taxista depilou o corpo inteiro e fez uma tatuagem para ganhar o fusca | Gazeta do Povo
Taxista depilou o corpo inteiro e fez uma tatuagem para ganhar o fusca| Foto: Gazeta do Povo

Instabilidade pode aumentar taxas de juro

O consumidor pode ser alertado neste fim de semana a não pensar muito antes de assinar o contrato porque os juros podem subir. E isso não será apenas conversa de vendedor. A instabilidade do mercado financeiro nos últimos dez dias pode acabar com a festa de revendas de veículos e do consumidor que pensa em comprar o carro parcelado. A trajetória de quedas de juros e alongamento de prazos para venda de veículos pode ser interrompida se a situação do mercado não se reverter. Embora a opinião predominante é de que ainda é cedo para saber os efeitos da turbulência das bolsas de valores na economia como um todo, já existem rumores nas concessionárias de que os bancos vão começar a semana usando tabelas com juros mais altos.

A taxa praticada pelo banco HSBC para o Crédito Direto ao Consumidor (CDC) para veículos novos, por exemplo, passou de 1,78% ao mês, no dia 10 de agosto, para 1,89% na última semana. "A instabilidade pode mudar o cenário do financiamento de veículos, porque a captação de dinheiro vai ficar mais cara se esta fase ruim se prolongar", alerta Carlos Alberto Ercolin, diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Para o professor Ricardo Humberto Rocha, do Laboratório de Finanças da USP, ainda é cedo para saber se o mercado será afetado. "Os juros podem seguir uma trajetória de queda mais lenta, mas não acredito em mudanças radicais", avalia.

O presidente da Associação Nacional de Empresas Financeiras de Montadoras (Anef), Luiz Montenegro, não acredita em contaminação do mercado de automóveis pela crise imobiliária norte-americana. "Não existe conexão direta do que está acontecendo nos Estados Unidos com o mercado brasileiro." O pior cenário para os bancos, segundo Montenegro, seria uma redução no nível de emprego e uma disparada na inflação, de modo que as pessoas não conseguissem honrar suas dívidas.

A possibilidade de retomada do bem, lembra o presidente da Anef, apesar de ser uma garantia para quem oferece o financiamento, não é conveniente. "Os bancos não têm interesse em tomar o bem. Vão fazer o que com os carros? Normalmente, há um esforço para se negociar as condições de pagamento, de um jeito que a pessoa continue com o veículo", explica. (PK)

A cabeleireira Sônia Pontes, 32 anos, vai pagar pelos próximos 72 meses por um prazer que esta semana ela desfrutou pela primeira vez na vida: dirigir um carro zero. Depois de trocar de carro usado seis vezes, a família optou pelo financiamento a longo prazo para se livrar dos constantes gastos com manutenção. Deu como entrada um automóvel ano 1998, com 8 das 48 vezes pagas, disposta a gastar um pouco mais no valor da parcela para andar em um Fiat Uno "zerinho". "Pelo menos a gente tem a tranqüilidade de estar em carro novo. Se soubesse antes que estava tão fácil de pegar financiamento, a gente já teria comprado há mais tempo."

É de consumidores como Sônia que as lojas de carro, e as carteiras de financiamento dos bancos, andam lotadas ultimamente. Gente disposta a pagar até o dobro do valor, por longos anos, desde que o preço da parcela encaixe no orçamento. O prazo máximo de financiamento de veículos, que até 2003 era de quatro anos, chegou a sete anos na última semana. Por enquanto, só o banco da montadora Ford oferece um prazo tão alongado. A maioria deles oferece, no máximo, até 72 parcelas.

Mas, caso o cenário de estabilidade de preços e queda da taxa de juros do Banco Central não se altere, a tendência é de que o prazo se alongue em grande parte do mercado. Para se ter uma idéia de como o consumidor está disposto a ficar endividado com o carro por mais tempo, a média de tempo de financiamento no primeiro semestre deste ano foi de 41 meses, contra 36 meses no mesmo período do ano passado.

"Havia uma demanda reprimida para a compra de veículos. Hoje o consumidor está mais encorajado a pagar durante mais tempo para ter um veículo melhor", afirma o presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), Luiz Montenegro. Não é à toa que a carteira de financiamento de veículos cresceu 24,3% neste primeiro semestre, acumulando um recorde de R$ 71 bilhões. Além dos prazos "esticarem", os juros caíram. Em janeiro, as taxas para financiamento de veículos estavam em 32,7% ao ano nos bancos e 21,4% nas financeiras das montadoras. Caíram para 29,4% e 19,4%, respectivamente, em junho.

Lucro

Obviamente, não é por pura generosidade que os bancos estão facilitando o acesso do consumidor à compra de veículos. "Apesar da queda das taxas, o financiamento de veículos ainda é caro em termos de juros", lembra o professor Ricardo Humberto Rocha, do Laboratório de Finanças da Universidade de São Paulo (LabFin). Mesmo que dê uma entrada de quase 50% do valor do carro, parcelando em 84 vezes, o consumidor pagará com o financiamento o que gastaria pagando o veículo à vista.

A estabilidade da economia e a taxa básica de juros em baixa representaram uma tranqüilidade para o setor oferecer prazos mais longos e para o consumidor confiar que vai conseguir pagar a dívida que assumiu. Como o próprio veículo é a garantia de que a dívida vai ser paga (e o carro é um bem de fácil retomada), a inadimplência neste tipo de financiamento é bem menor do que a registrada para os bens em geral. "É baixa e está estável, o que representa um risco pequeno assumido pelos bancos", explica a analista financeira Ariadne Arnosti, do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad).

Ela lembra que, para atrasos de pagamento entre 15 e 90 dias, o financiamento de carro registra uma inadimplência de 7%, contra 26,7% do crédito para pessoa física. Em atrasos acima de 90 dias, de acordo com o balanço semestral da Anef, a inadimplência caiu de 3,19% no primeiro semestre de 2006 para 2,87% este ano.

Com risco baixo e a procura pela diversificação de carteiras de investimento, que antes eram mais focadas em títulos públicos, há casos de saltos enormes nos recursos destinados para financiamento de veículos. No Banco do Brasil, segundo o balanço semestral, o aumento foi de 304%. No Itaú, a alta foi de 58,6%. "O custo de captação de recursos destes bancos no mercado internacional caiu mais do que o repasse dado por eles nas taxas de juros. O spread é maior e a demanda continua alta. Provavelmente os bancos vão continuar investindo no setor", avalia Ariadne.

Longo demais

Para o consumidor, assumir um compromisso de tão longo prazo com um carro não é das melhores apostas. Enquanto a pessoa paga juros por vários anos, o carro (e o preço dele) só se deteriora. "Dificilmente a pessoa que pegar um financiamento de sete anos vai agüentar ficar com o mesmo carro até terminar de pagar. Quando tiver pago umas 40 parcelas, ela vai pensar em liqüidar o empréstimo ou trocar de carro", diz Montenegro, da Anef. "Os prazos estão chegando no limite da vida útil do carro. Não acredito que o número de parcelas cresça ainda mais." Para ele, deve se repetir no Brasil um comportamento comum nos Estados Unidos: o de emendar ou substituir um financiamento por outro. "A pessoa compra o carro, usufrui e troca, sempre pagando financiamento".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]