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Um indicador largamente utilizado na análise do mercado de ações mostra que a queda da Bolsa de Valores de São Paulo nos últimos meses castigou a cotação de vários papéis. O P/L – relação entre o preço de um papel e o lucro por ação registrado pela empresa – das principais ações incluídas no Índice Bovespa era, até a última terça-feira, a metade do registrado em dezembro do ano passado, segundo levantamento da consultoria Economática para o portal AE Investimentos. Entre as ações com menor participação no índice, a diferença é ainda maior.

A divisão do preço da ação (a cotação) pelo lucro resulta em um número que indica, grosso modo, em quantos anos o papel de uma empresa se paga, caso ela mantenha o lucro e a política de remuneração dos acionistas. Ela permite comparar papéis de empresas ou dos mesmos papéis em períodos diferentes. Quanto menor o P/L, mais barato está o papel em relação ao lucro que a empresa é capaz de gerar. Por isso, o preço de uma ação como a preferencial da Petrobras, que chegou ao fim de 2007 com um P/L de 18, é considerado baixo hoje, quando registra um P/L de 9,4. Para o cálculo, foram considerados os lucros registrados pelas empresas nos últimos 12 meses até junho deste ano, quando foram divulgados os balanços do segundo trimestre, os últimos disponíveis.

"Analisando este indicador, podemos dizer que as ações da Petrobras estão baratas e em bom ponto de compra", diz o analista de investimentos da corretora Concórdia Eduardo Kondo. Mas a afirmação dá mais peso aos P/Ls registrados em anos anteriores a 2007, quando ficou em 18, reforça o analista. "Por conta da disparada do preço do petróleo nos mercados internacionais (o que ajudou a valorizar as ações da petrolífera), aquele patamar estava fora da média histórica", diz.

Mineração e siderurgia

As ações da Petrobras encerraram 2006 com o P/L em 8,4 – o que indica que, comparativamente, elas estavam ainda mais baratas que hoje. Na época, no entanto, nem se falava nas reservas de petróleo encontradas na camada do pré-sal das áreas licitadas pela empresa no litoral brasileiro, cuja descoberta embutiu no preço das ações, a partir de 2007, uma perspectiva positiva de investimento e lucro. Por isso, Kondo reforça que as ações estão baratas e prometem recuperar as perdas deste ano. "Estimo que o lucro fique em R$ 31 bilhões neste ano, frente a R$ 21,5 bilhões de 2007", afirma Kondo.

Os papéis das empresas do setor de mineração e siderurgia também estão baratos considerando a relação preço/lucro. O indicador das ações preferenciais série A da Vale terminou o ano passado em 12,3 e hoje está em 7,9. O PL das ações da Usiminas passou de 8,5 para 4,4, enquanto o das ordinárias da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) caiu de 13,8 para 7,7. Já o indicador das preferenciais da Gerdau passou de 9,7 para 4,4.

"Vejo exagero nas quedas destas ações", afirma o analista de mineração e siderurgia do banco Geração Futuro, Carlos Kochenborger. Apesar do temor de retração da economia mundial – o que traz a expectativa de redução da demanda por produtos siderúrgicos e ajuda a desvalorizar os papéis do setor – o analista tem boas perspectivas para as ações. "O mundo vai crescer menos por alguns meses, talvez até anos, mas vai continuar crescendo e demandando metais." E mais: para as mineradoras e siderúrgicas nacionais, o impacto da queda dos preços dos metais no exterior é compensado, na receita em reais, pela elevação da cotação do dólar. "Com a moeda norte-americana aos R$ 2,30, acredito que os resultados não sejam muito prejudicados de imediato."

Setor bancário

No setor bancário, os P/Ls caíram em proporção um pouco menor. O indicador das ações preferenciais do Bradesco passou de 14 no fim do ano passado para 9,5, enquanto no caso dos papéis do Itaú, a redução foi de 12,9 para 9. O P/L das ações do Banco do Brasil recuou mais, foi de 14,9 para 6,3. A queda das cotações se deveu à leitura dos investidores estrangeiros da Bovespa, afirma o analista de investimentos da corretora Gradual Paulo Esteves. "Se os bancos de fora estavam comprometidos, eles acreditaram que o mesmo poderia acontecer no Brasil, o que não é verdade", diz.

Para Esteves, o setor bancário brasileiro é mais conservador. Ele sustenta a afirmação com dois argumentos. O Índice de Basiléia (indicador da saúde financeira das instituições) médio dos maiores bancos brasileiros é de 15%, quase o dobro do que é recomendado internacionalmente (8%). Além disso, o depósito compulsório – que os bancos são obrigados a fazer junto ao Banco Central – no Brasil é alto. Diante disso, a conclusão: "As ações de bancos estão baratas e são alternativas interessantes", afirma Paulo. Mas o comentário traz uma ponta de cautela. "É um setor sensível em épocas de crise." Diante disso, só deve investir quem tem perspectiva de deixar o dinheiro aplicado no longo prazo, acima de dois, três anos.

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