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O Brasil tem inflação de primeiro mundo: baixa. Mas, dependendo do consumidor, o custo de vida é alto. A concorrência deveria estimular a queda dos preços, mas nem sempre essa regra funciona.

Os remédios, por exemplo, vão ficar mais caros em abril. O governo controla o reajuste dos medicamentos de uso contínuo. Já os outros estão subindo acima da inflação – alguns até o dobro.

Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostra que, em três anos, analgésicos e antitérmicos acumularam aumento de 47,83%. No mesmo período, a inflação foi de 27,67%. Em São Paulo, as vitaminas subiram 6,03% nos últimos doze meses – segundo a Fipe, o dobro da inflação (2,92%).

Segundo alguns economistas, os laboratórios aumentam os preços dos remédios que não são controlados para compensar aqueles cujo preço é tabelado pelo governo.

Os medicamentos estão entre os principais gastos das famílias brasileiras. Entre os idosos, este peso é ainda maior: os remédios são o segundo item de maior impacto no orçamento.

Com a saúde fragilizada por causa da idade, a aposentada Janette Gallo gasta boa parte da aposentadoria com remédios para a pressão. Este mês, ela foi obrigada a reduzir os gastos. "Eu vou fazer economia na alimentação para comprar remédio, o que é um absurdo", diz a aposentada.

"Para o consumidor ter uma ordem de grandeza, gasta-se tanto em medicamento como em gás de bujão, em telefonia móvel, celular e também em taxa de água e esgoto. A despesa em remédios não é uma despesa trivial", afirma o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Braz.

Outro grupo também paga caro pelos remédios: são as famílias que ganham até R$ 700. "Para as famílias cuja renda está entre um a dois salários-mínimos, a importância dos remédios chega a ser de 4,6%, bem acima do valor observado para as famílias como um todo", destaca o coordenador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Márcio Nakane.

Para forçar a redução de preços, o governo adotou os genéricos, mais baratos do que os patenteados, e também o controle de preços. São práticas que já tinham dado certo em outros países como o Canadá. Agora, os 20 mil remédios que têm os preços controlados sobem até 3% a partir desta sexta-feira.

"Um aumento da magnitude de 3%, como é o que nós esperamos, vai ter um impacto no Índice de Preços ao Consumidor de aproximadamente 0,06 ponto percentual, que não é um impacto desprezível", diz o economista da FGV, André Braz.

Só que o consumidor mais atento já percebeu que os medicamentos estão mais caros. É que as farmácias reduzem os descontos para que a variação dos preços não assuste tanto.

"Eu tenho uma doença cardíaca e uso um remédio de uso contínuo caríssimo. Agora, com o aumento, a situação vai piorar", comenta o engenheiro João Florêncio da Costa.

Poucas vezes as indústrias e as farmácias deixaram de cumprir o percentual autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), até porque a multa é alta: R$ 3,2 milhões para quem não cumprir a determinação. O problema maior são os remédios livres do controle do governo, que já subiram muito acima da inflação.

A Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) diz que os números não são fiéis à realidade.

"A maior concorrência que existe é exatamente no produto liberado, e não no produto que tem o preço controlado pelo governo", afirma o representante da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto.

"Mesmo com os descontos que eles falam nos genéricos, acho que não funciona muito", acredita a aposentada Janette Gallo.

Cerca de 300 medicamentos de uso contínuo, com tarja preta ou vermelha, podem ter uma redução de 11% no preço. Um decreto do governo federal vai isentar esses remédios dos impostos PIS e Cofins.

Mas, para que o preço seja reduzido, as empresas vão ter que pedir uma reavaliação para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e começar o processo. E isso pode demorar.

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