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Barganhar administração de contas é tendência

Há uma tendência de negociação das contas municipais, segundo especialistas em finanças públicas e administração municipal. "É algo recente, que começou há pouco mais de um ano, e agora está se tornando muito comum. O poder público está interessado em barganhar preços de tarifas e condições para escolher o banco que vai administrar seu dinheiro. Eles ainda não haviam despertado para a competição que existe entre os bancos por estas contas", diz o professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Piscitelli.

Para o coordenador do banco de dados municipais do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam), François Bremaeker, os municípios estão certos em procurar tirar proveito da competição entre os bancos. Para os bancos, diz o especialista em administração municipal, o negócio tende sempre a ser bom. "Uma conta destas significa garantia maior para o dinheiro que ele disponibiliza para o mercado, com bom lucro", explica.

Servidores

A licitação da folha de pagamento da prefeitura de Curitiba, encerrada em julho, deu início a uma série de negociações entre municípios paranaenses e bancos interessados em administrar suas folhas. O banco Santander venceu a licitação para administrar a folha de pagamento da prefeitura, oferecendo R$ 140,5 milhões à administração municipal. O valor é 75% maior do que o montante mínimo definido pelo edital de licitação, que era de R$ 80 milhões, e equivale a aproximadamente 3% do total de dinheiro que será administrado pelo banco no período de cinco anos de vigência do contrato. A folha de pagamento da prefeitura é de R$ 73 milhões mensais.

Na conta-movimento da prefeitura, devem circular ao longo do ano pouco mais de R$ 2,6 bilhões. Segundo o secretário da Finanças, Luiz Sebastiani, o fluxo médio na conta é de R$ 400 milhões. Para o contribuinte, destaca o secretário, nada mudará. O pagamento do IPTU continuará sendo feito em qualquer banco. O que muda é só a conta para onde o dinheiro será transferido.

Depois de ter repassado ao banco Santander a folha de pagamento dos servidores, a prefeitura de Curitiba agora se prepara para negociar a conta do município e tirar proveito do interesse dos bancos em "hospedar" o orçamento da capital. O governo municipal pretende finalizar até o início da próxima semana uma proposta de negociação mínima da chamada conta-movimento, para onde é destinada a arrecadação municipal e de onde parte o pagamento de fornecedores. Até o fim de novembro, a prefeitura já quer ter concluído o processo de escolha. Por uma questão constitucional, só bancos públicos podem administrar este tipo de conta.

"Por enquanto, estamos procurando uma referência de valores. Queremos 'precificar' um valor mínimo para apresentar aos bancos", diz o secretário de Finanças de Curitiba, Luiz Sebastiani. Segundo ele, a iniciativa da prefeitura de Curitiba é inédita, o que representa uma dificuldade para mensurar o que seria uma transação interessante para o município.

Pela conta-movimento, explica Sebastiani, deve passar todo o orçamento municipal, de aproximadamente R$ 2,6 bilhões. É para esta conta que são destinados os repasses dos governos federal e estadual e a arrecadação municipal. "A folha de pagamento é retirada da conta-movimento e repassada ao banco que administra as contas-salário dos funcionários", informa o secretário. Por enquanto, as contas da prefeitura de Curitiba estão divididas entre o Banco do Brasil e o Itaú, que herdou uma parcela que era depositada no Banestado.

Como ainda não definiu o mínimo que vai querer dos bancos pela administração da conta municipal, a prefeitura não informa qual a expectativa de benefício com a negociação. Se ocorrer nos mesmos moldes da transação feita com a folha de pagamento dos servidores, a mudança da conta-movimento pode gerar mais de R$ 400 milhões para o município – considerando que o Santander se propôs a pagar R$ 140,5 milhões para administrar um montante equivalente a um terço do orçamento do município. Mas a possibilidade de chegar a valores tão altos é pequena. Por determinação da Constituição Federal, a disponibilidade de caixa dos estados e municípios só pode ser depositada em instituições financeiras oficiais, o que exclui os bancos privados da negociação, reduzindo consideravelmente a concorrência pela conta. "Os bancos públicos têm uma capacidade mais limitada de negociação do que os privados. Além disso, a burocracia para a tomada de decisão do banco é maior", avalia o coordenador do banco de dados municipais do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam), François Bremaeker.

Três bancos são mais cotados pela prefeitura como potenciais interessados em administrar as contas do município: Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e o paulista Nossa Caixa. "Entraremos em contato com todos os bancos públicos que têm agência em Curitiba, mas estes três são os que têm maior porte e experiência", justifica Sebastiani. A Nossa Caixa e o Banco do Brasil preferiram não comentar a possibilidade de negociação. Já a Caixa Econômica confirma o interesse do banco na administração da conta. "A negociação dependerá de qual o objetivo de remuneração da prefeitura. Dependendo do tipo de investimento que eles escolherem, o depósito não gera spread e não é interessante o suficiente para o banco", informa o gerente regional de negócios com o governo, Arielson Bittencourt.

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