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Análise

Custo e política, fatores-chave para a estatal de petróleo

A empresa é boa e vai explorar uma reserva que tem sido apontada como uma das mais promissoras do mundo. Não tem como dar errado, não é mesmo?

Não é bom ser chato, mas é preciso lembrar que há, sim, alguns pontos de sombra no futuro brilhante da Petrobras. Um deles é a possibilidade de a exploração do pré-sal ser mais difícil do que se espera. Essa será a primeira experiência do mundo em extração de óleo em larga escala na camada pré-sal. Isso implica em algumas incertezas, em especial no que se refere ao custo de extração. "Há algumas dúvidas sobre a viabilidade no longo prazo", observa o economista Christian Luiz da Silva, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

A outra questão é bem menos técnica e muito mais política. Como será a Petrobras nos próximos quatro (ou oito) anos? Que executivos irão dirigi-la, e qual será a influência do governo sobre a empresa? Observadores no mercado lembram que Dilma Roussef era, até pouco tempo, presidente do Conselho de Administração da companhia. Como ela vem liderando as pesquisas, a opinião que os investidores têm das suas atitudes nos últimos anos deverá moldar suas expectativas. Isso já vem acontecendo.

A política, portanto, será um componente importante a interferir no preço das ações da capitalização, que será divulgado amanhã.

Franco Iacomini, colunista de finanças pessoais

Chegará ao fim hoje a novela da capitalização da Petrobras, a maior captação de recursos já feita por uma empresa a partir das economias e das aposentadorias de milhares de pessoas no mundo. A estatal deve levantar, de início, cerca de R$ 104 bilhões, dependendo do preço final das ações; mais de dois terços serão do governo, na forma de títulos pelos barris de petróleo do pré-sal.

Hoje se define o preço pelo qual serão vendidas as novas ações da empresa – deve ficar próximo de R$ 26 para os papéis PN (sem voto) e de R$ 29 para os ON (com voto). Batido o martelo, os novos papéis são distribuídos imediatamente (os bancos ficarão a madrugada inteira alocando os pedidos dos clientes) e começam a ser negociados já amanhã na Bolsa de Nova York. No Brasil, a estreia de fato é na segunda, mas a festa na BM&F Bovespa com direito a discurso nacionalista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva será realizada nesta sexta-feira.

Os valores serão fechados pelo conselho de administração da Petrobras no início da noite e dependem ainda do rumo dos negócios na BM&FBovespa hoje, última oportunidade para o mercado bater nas ações e baixar ainda mais o preço. Se as ações desabarem hoje, a captação encolhe. Por outro lado, aumenta o sucesso na venda de lotes adicionais.

Até a semana passada, a meta dos investidores mais agressivos era comprar os papéis PN na oferta por R$ 25, mas a expectativa foi frustrada pela alta inesperada das ações na segunda. Não há uma versão oficial para a alta de segunda – há quem fale na ação de "formadores de mercado'', bancos contratados para não deixar os papéis desabarem tanto. Há uma adesão – não confirmada – de fundos soberanos da Ásia, inclusive do Irã.

Se forem confirmados os preços de R$ 26 (PN) e de R$ 29 (ON), a Petrobras levantará R$ 104,28 bilhões com a venda integral das ações ofertadas inicialmente, sem contar os lotes adicionais. Com os lotes extras, pode saltar para até R$ 130,4 bilhões. Em qualquer cenário, será a maior captação, do mundo, de recursos com venda de ações.

Grandes minoritários

A maior parte das novas ações da Petrobras vão para o governo, que pagará com barris de petróleo. Mas o preço será definido pelos minoritários – no caso, os maiores fundos de investimento do planeta, que trazem dinheiro, de fato, para a Petrobras deslanchar seu plano de investimento no pré-sal.

Diferentemente do varejo, em que o investidor só pode colocar um teto para comprar os papéis, os fundos fazem reservas múltiplas. Por exemplo, pedem reserva de R$ 50 milhões, se a ação ficar em R$ 26, ou de R$ 100 milhões, se o preço cair para R$ 25. Com base nas ofertas, os bancos coordenadores decidem em que faixa de preço a Petrobras consegue captar o volume máximo de recursos com um preço razoável pelas ações.

Mercado

Ontem, as ações da Petrobras terminaram o dia em nova queda, após uma sequência de desvalorização. O papéis preferenciais caíram 1,4%, para R$ 27,52. As ordinárias perderam 0,4%, cotadas a R$ 29,68. A Bovespa, porém, valorizou 0,89%.

Para o economista da Legan Asset Management Fausto Gouveia, a tendência é que as papéis da Petrobras subam após a operação de capitalização, a partir da semana que vem. "Os investidores entraram para não terem sua participação diluída. Estão há mais de um ano com os papéis em queda. Agora que as ações devem se recuperar, não querem ficar de fora", disse.

A capitalização da Petrobras foi marcada pelo atropelo. Definido o preço dos barris de petróleo que serão cedidos à estatal, houve pequeno intervalo até a operação.

Isso ocorreu devido à pressa da estatal para aumentar o caixa, cumprir metas de investimento e não ultrapassar o limite de endividamento necessário para manter o grau de investimento.

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