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Cristina Kirchner, presidente da Argentina: restrição à entrada de alimentos estrangeiros pode cair | Paulo Whitaker/Reuters
Cristina Kirchner, presidente da Argentina: restrição à entrada de alimentos estrangeiros pode cair| Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Buenos Aires - Pressionado interna e externamente, o governo da presidente Cristina Kirchner começou gradualmente a flexibilizar a medida de restringir a entrada de alimentos não frescos que façam concorrência com similares argentinos. A polêmica ordem para a aplicação da proibição - emitida há duas semanas pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, famoso por seu estilo truculento, e que entraria em vigência dia 1 de junho – teve seu primeiro revés neste fim de semana com a liberação de seis caminhões provenientes do Brasil carregados com milho em lata, frango e produtos elaborados com carne suína na alfândega de Paso de los Libres, na fronteira com a brasileira Uru­­guaiana (RS).

Os caminhões estiveram três dias detidos na divisa dos países. Além de constituir em um sinal de apaziguamento para o Brasil – que havia indicado a possibilidade de retaliações contra a Argentina – o leve recuo também pretende acalmar a tensão crescente com a União Europeia (UE). Na quinta-feira, a delegação da UE em Buenos Aires emitiu um protesto enfático contra a ordem verbal de Moreno. Embaixadores europeus indicaram que seus governos poderiam adotar retaliações contra produtos argentinos. Os governos de outros sócios do Mercosul – Paraguai e Uruguai – também protestaram contra a medida controvertida.

Na semana passada Moreno disse em reunião com a Câmara de Importadores que a medida pretendia reduzir em pelo menos US$ 300 milhões o volume de produtos alimentícios não frescos importados que rivalizassem com os similares argentinos. Mas, diante das pressões internacionais, afirmou que poderia avaliar "caso por caso" dos alimentos. O secretário não forneceu lista algum dos produtos que pretende impedir. Moreno citou apenas alguns casos, como o do presunto cru espanhol.

Oposição

A oposição exigiu que o secretário Moreno compareça ao Par­­lamento para ser interpelado de forma "urgente". O pedido foi feito pela deputada Patrícia Bullrich, da Coalizão Cívica, de centro-esquerda, que requer que Moreno confirme – ou não – a existência de ordens verbais para deter a importação de produtos alimentícios não frescos. "Se Moreno tomou essa decisão sem base legal alguma, sua situação ficará complicada, pois estaria cometendo abuso de poder", afirmou Bullrich. Outro líder da oposição, o presidente da União Cívica Radical (UCR), Eduardo Sanz, criticou a medida de restrição às importações de alimentos afirmando que tratam-se de produtos "que sequer fazem concorrência com a indústria local, motivo pelo qual está gerando uma imensa ruptura nas relações comerciais da Argentina".

Analistas em Buenos Aires temem que a medida – considerada "incompreensível" – de Moreno provoque alta tensão na reunião de cúpula que ocorre nesta semana em Madri entre chefes de Estado e de governo dos países da União Europeia e América Latina. Os analistas consideram que a medida argentina poderia servir de argumentos aos países europeus que possuem reticências sobre a retomada das negociações comerciais com o Mercosul, principalmente a França.

Marcelo Elizondo, ex-presidente da Fundação Exportar durante a maior parte da primeira década deste século, sustenta que a medida de Moreno não possui justificativas, já que as empresas argentinas exportaram em 2009 US$ 20 bilhões em alimentos, enquanto que o mercado interno somente importou US$ 1,2 bilhão. Além disso, sustenta que em caso de retaliação por parte do Brasil e da União Europeia, entre outros, ao redor de 14 mil exportadores argentinos – a maior parte dos quais pequenas e médias empresas de alimentos – seriam duramente prejudicados.

Prejuízo brasileiro

A consultoria Abeceb sustenta que se a medida tivesse sido aplicada no primeiro trimestre deste ano, um total de US$ 180 mi­­lhões em alimentos importados teriam sido barrados (equivalente a 1,6% do total). Desse volume, US$ 80 milhões corresponderiam a alimentos Made in Brazil. No entanto, a Abeceb destaca que a Argentina, no mesmo período, destinou US$ 300 milhões em produtos alimentícios não frescos ao território brasileiro. "Essas operações (argentinas) poderiam ter inconvenientes se começarem represálias comerciais", alerta a consultoria.

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