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Opinião

Por que falar sobre expectativas?

Guido Orgis, editor executivo de Economia

No sistema de metas de inflação adotado pelo Brasil, é mais importante olhar para o futuro do que para o passado. São as expectativas sobre a inflação futura que ditam como o Banco Central vai agir. A pesquisa Focus feita pela autoridade monetária com agentes de mercado é um desses exercícios de futurologia. O BC tem também seu próprio modelo de previsão.

Ao passar o teto da meta, essa expectativa de mercado coloca mais pressão sobre a política anti-inflacionária brasileira. Está se consolidando a interpretação de que a dose de juros tem de ser mais alta e de que a política fiscal ainda não vai ajudar a conter preços (sem falar nos controles na área de energia que criaram um problema para os próximos anos).

Como a questão aqui ainda é de expectativa, dá tempo de o mercado errar. Na verdade, é o que geralmente acontece – as previsões vão sendo ajustadas até a última semana do ano. O problema é que desde o começo do ano os ajustes são para cima e não provocaram ainda grande reação em Brasília.

Pela primeira vez no ano, a expectativa do mercado para a inflação de 2014 rompeu o teto da meta, limite definido em 6,5%. Pelos dados do boletim Focus, publicação semanal feita pelo Banco Central (BC) com previsões de analistas, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve atingir 6,51% em dezembro. Anteriormente, o BC falhou na missão de manter a inflação dentro dos limites de tolerância em três ocasiões: 2001, 2002 e 2003. Nessas situações, a instituição foi obrigada a publicar uma carta aberta explicando o estouro da meta.

Veja a previsão do mercado para a inflação

O quadro atual, de pessimismo do mercado, segundo analistas, se intensificou depois do choque dos alimentos in natura, que pelo IPC-Fipe acumula alta de 20,95% entre janeiro e março. No primeiro mês do ano os preços do segmento haviam subido 4,16%. Esse quadro, somado aos preços represados de administrados e a expectativa de que o BC interrompa em maio o ciclo de aumento dos juros, levou o mercado a estimar um cenário pior para a inflação do ano. Foram sete semanas consecutivas de piora das previsões. Há quatro semanas, a expectativa para o IPCA de 2014 estava em 6,28%. Para 2015, o mercado projeta índice de 6,00%. Um mês antes a estimativa era de 5,80%.

"A inflação deste ano já está contratada. Qualquer coisa que seja feita agora, terá efeito apenas em 2015", observou Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio.

Nas estimativas do grupo dos analistas que mais acertam as projeções, o chamado Top 5 da Focus, a previsão para o IPCA em 2014, no cenário de médio prazo, também estourou o teto da meta ao passar de 6,49% para 6,59%. Para 2015, a previsão dos cinco analistas recuou de 6,27% para 6,0%. Há quatro semanas, o grupo apostava em altas de 6,57% para 2014 e 6,0% para 2015.

Selic

Apesar das perspectivas para o custo de vida ao fim de 2014, as sinalizações do BC são de que o atual ciclo de aperto monetário, que levou a Selic de 7,25% ao ano em abril do ano passado para 11% neste ano, esteja próximo do fim. O mercado, de acordo com o Focus, espera apenas mais uma alta de 0,25 ponto porcentual em maio.

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